Quis o destino que Óliver Torres fosse o melhor em campo pelo FC Porto no mesmo dia em que Julen Lopetegui colocou o último prego no seu caixão como treinador do Real Madrid, depois da humilhante goleada por 5-1 sofrida em Camp Nou. Mas que relação têm estes dois jogos, ou estas duas personagens, que hoje estiveram a mais de 1200 quilómetros de distância? É que foi Lopetegui que, em 2014/15, teve olho para fisgar um miúdo que andava a dar nas vistas no Atlético Madrid, fazendo-o passar uma temporada nos dragões. Pois é, um tal de Óliver Torres.

Um Óliver Torres que, frente ao Feirense, passou enfim à frente de Herrera (que há 15 meses que não era suplente utilizado) e até de Sérgio Oliveira e, nove meses depois, foi titular no campeonato — jogando todos os 90 minutos da partida. O espanhol foi o pêndulo da equipa, distribuiu jogo para tudo quanto foi lado, recuperou bolas, desarmou, correu, deu andamento e criatividade, simplificou tudo. E, sim, foi intenso.

Os números são muito claros em relação a isso: somou 11 desarmes (mais oito do que qualquer jogador da equipa e mais dois do que todos os companheiros juntos), fez 12 recuperações, protagonizou 71 ações com bola, acertou 41 dos 48 passes que arriscou e venceu os dois duelos aéreos que disputou. E, mostram os gráficos, esteve em todo o lado, feito polvo que avançava pelo campo com os seus múltiplos tentáculos.

Pode bem ter sido a afirmação definitiva de um jogador que custou aos cofres portistas 20 milhões de euros mas que, a dada altura, se tornou um “estranho caso” difícil de decifrar.

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Óliver aterrou pela primeira vez no Porto na tal temporada de 2014/15, quando Lopetegui o trouxe emprestado uma época pelo Atlético Madrid. Com apenas 19 anos, assumiu-se como uma das principais figuras da equipa e, mais do que isso, conquistou os exigentes adeptos portistas. Terminou a época com 40 jogos nas pernas e sete golos. Um registo que lhe impôs o regresso a Madrid mas por pouco tempo. Uma temporada depois, já estava de novo “batido” no Dragão e de novo para dar nas vistas: 39 jogos e três golos marcados.

O FC Porto fez o tal investimento avultado mas, ao mesmo tempo, chegava ao Dragão Sérgio Conceição. O treinador, mais dado a jogadores que se impõem pela raça e pela força do que aos que o fazem pelo virtuosismo da técnica, acabou por ir relegando o espanhol para o banco de suplentes. Chegou a ser titular nos dois primeiros jogos da época, frente a Estoril e Tondela (sempre substituído) e, aos poucos, foi desaparecendo das opções — na exata medida inversa das subidas de Herrera e Sérgio Oliveira.

Esta época, depois de pequenas participações na reta final de alguns jogos, Óliver aproveitou os problemas físicos de Otávio e foi titular nos dois jogos logo após a pausa do campeonato, frente a Vila Real e Lokomotiv. As boas exibições colocaram o ponto de interrogação ao técnico portista: ia continuar a apostar no espanhol no regresso da Liga? A resposta foi positiva — e a exibição foi superlativa. Quis o destino que isso acontecesse no dia do provável ‘adeus’ de Lopetegui, o treinador que o lançou no FC Porto. Será o ‘olá’ definitivo do espanhol?