As populações da serra da Argemela estão preocupadas com a possibilidade de ser feita uma mina a céu aberto para a exploração dos depósitos de turquesa descobertos naquele local. O pedido de concessão já foi feito e agora esperam-se os resultados de um estudo de impacto ambiental. Uma reportagem da SIC conta que, nesta altura, estão preparadas várias ações de protesto, como um pequeno filme que será exibido, em breve, na Cova da Beira, sob o lema “Aqui não”. “São explorações que têm um impacto tremendo em termos de ambiente às populações”, explica Alfredo Mendes, do Grupo Preservar Serra da Argemela.

Em causa estão filões de quartzo fraturados com turquesas, descobertos na serra da Argemela, segundo um estudo publicado pelo geólogo Carlos Neto de Carvalho e pelo historiador Tom G. Hamilton. Até agora, os geólogos só conheciam aglomerados desta pedra preciosa em Ponte de Lima, Vila Pouca de Aguiar e Penafiel. Mas, de acordo com este estudo, a descoberta feita na região da Covilhã e Fundão é diferente: “Normalmente as ocorrências são pouco expressivas. Esta nova ocorrência da Argemela é, pois, excecional no contexto português”, pode ler-se no documento.

Concessão mineira da Serra da Argemela novamente contestada por Covilhã e Fundão

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De acordo com os dois investigadores, a turquesa é uma gema que resulta de um fosfato de alumínio e que normalmente está associada à decomposição de rochas ricas em alumínio por fluidos ricos em fósforo. Por isso, “não é de estranhar” que estas pedras preciosas tenham sido encontradas em filões de quartzo com entre cinco e 50 centímetros de espessura: esses fluidos devem ter viajado pelas rochas ricas em fosfato da serra da Argemela até ter chegado a outras rochas ricas num mineral chamado mica. Isso deu origem à decomposição química das pirites, que são cristais de ferro, que depois se concentraram em fissuras. Aí nasceram as turquesas.

Essas turquesas podem ter até 50 centímetros e são “mais esverdeadas ou mais azuladas em função do teor relativo do cobre sobre o ferro a substituir o alumínio”, descreve o estudo. O documento diz que normalmente estão fraturadas e que essas fissuras foram preenchidas por hidróxidos de ferro, um composto insolúvel normalmente branco mas que, se estiver em contacto com oxigénio, pode tornar-se esverdeado. Além disso, as turquesas “uma dureza aproximada ao vidro”, o que “demonstra a sua elevada qualidade gemológica”.

Na verdade, de acordo com o geólogo e o historiador que assinam o estudo, estas turquesas da serra da Argemela têm “uma qualidade que rivaliza com variedades comerciais internacionais”. No entanto, por só poderem ser encontrados em filões de quartzo com um máximo de 50 centímetros, isso significa que esses depósitos podem, eventualmente, não ser viáveis para exploração mineira. “Mais do que o seu valor económico, as turquesas da Argemela poderão ter um significativo valor patrimonial para a região e para o país, que deverá ser acautelado por medidas de proteção necessárias à sua valorização ‘in loco’“.