Uma escavação numa casa em Pompeia, a cidade italiana sepultada pelas cinzas do vulcão Vesúvio no ano 79, levou à descoberta de um fresco praticamente intacto de Narciso, o caçador que na mitologia grega se apaixonou pelo próprio reflexo. O Parque Arqueológico de Pompeia aproveitou o Dia de São Valentim, celebrado na quinta-feira, para revelar a descoberta, conta o The Guardian. O fresco foi encontrado no átrio de uma casa luxuosa, onde se descobriram várias pinturas eróticas também bem conservadas em novembro do ano passado.
A mitologia grega diz que Narciso era um caçador filho de Cefiso, deus dos lagos, e da ninfa Liríope. Narciso era tão belo que os pais, por conselho do oráculo Tirésias, mantiveram-no longe do próprio reflexo para não ficar condenado a uma curta vida. Narciso era amado graças à sua beleza, mas era tão arrogante que as ninfas pediram à deusa Némesis que o castigasse. Némesis acedeu e condenou-o a apaixonar-se pelo próprio reflexo numa lagoa. Morreu quando caiu dentro de água.
A parede onde o fresco de Narciso foi encontrado estava decorada com cornucópias, desenhos de flores, figuras de animais a lutarem, cupidos alados e imagens de natureza-morta. Ali perto, numa divisão vizinha a essa sala, os arqueólogos já tinham descoberto uma pintura protagonizada pelo deus grego Zeus que, transformado num cisne, seduziu Leda, rainha de Esparta e mulher de Tíndaro. Mas ninguém sabe o que estava no tecto dessa casa, já que ele caiu quando foi atingido por rochas cuspidas pelo vulcão durante a erupção de 79.
Massimo Osanna, arqueólogo e diretor geral do parque, confirmou esta descoberta num comunicado de imprensa e descreveu o átrio onde o fresco de Narciso foi encontrado como estando “decorado com amor e sensualidade”: “A sala inteira está decorada com o tema da alegria de viver, da beleza e da vaidade, que é ainda mais sublinhada pelas figuras das ménades [figuras femininas que seguiam o deus Dionísio] e de sátiros [um ser metade homem e metade bode], que acompanham os visitantes pela parte publica da casa”.
Segundo o arqueólogo, “esta decoração era intencionalmente luxuosa e provavelmente datada dos últimos anos da colónia, como indicado pelo estado de extraordinária preservação das cores”. É que, além do fresco e do quadro de Zeus, os investigadores também encontraram troços de escadas que sugerem que a casa era luxuosa, tinha vários jarros de vidro, oito frascos de ânforas e um funil de bronze no compartimento por baixo das escadas. No átrio estava também uma situla, que é uma espécie de balde, em bronze.