A realidade do desporto norte-americano é, como se sabe, bastante diferente da europeia. Se na Europa é o futebol que move montanhas e multidões e mexe com milhões de euros, nos Estados Unidos é difícil reduzir essa consideração a uma só modalidade. Os números são astronómicos desde o baseball ao futebol americano, passando pelo hóquei no gelo e pelo próprio futebol, já que a MLS tem tentado nos últimos anos tornar-se mais do que um paraíso para a pré-reforma de jogadores (basta olhar para Miguel Almirón, que em janeiro deixou o Atlanta United e se juntou ao Newcastle, naquela que foi a transferência mais cara da história dos magpies). No basquetebol, desporto de eleição de muitos norte-americanos e modalidade onde, ainda assim, os Estados Unidos continuam a dominar o panorama atual, os níveis de interesse, valores envolvidos e mediatização são ainda mais superiores.

Esta quinta-feira, a equipa de basquetebol da Universidade de Duke recebia a equipa de basquetebol na Universidade de North Carolina. O jogo da National Collegiate Athletic Association (NCAA), a Liga universitária dos Estados Unidos onde a maioria dos jogadores que acaba por chegar à NBA começou a brilhar, representa uma das rivalidades mais antigas do basquetebol universitário norte-americano e é a noite mais importante da temporada dos jovens atletas. A partida de 2019 tinha ainda um valor acrescentado: Zion Williamson, ala de 18 anos de Duke, é o principal favorito a ser a primeira escolha no próximo draft da NBA e uma das estrelas do basquetebol universitário norte-americano, com selo de qualidade garantida e o passaporte para uma das equipas profissionais praticamente assegurado.

Assim sendo, com rivalidade histórica à mistura e a possibilidade de ver de perto aquela que poderá uma das estrelas da NBA a curto-médio prazo, os bilhetes para o Duke-North Carolina iam até ao 2.500 dólares, basicamente o mesmo valor que os fãs de futebol americano pagam para assistir ao Super Bowl. Com o recinto cheio e o antigo presidente norte-americano Barack Obama na primeira fila, a antecipação era muita e a vontade de ver Zion Williamson a brilhar era ainda maior. Mas a presença do jovem atleta em competição estendeu-se por apenas 34 segundos — e o motivo da saída do ala está muito para lá do inesperado.

Quando o relógio ainda não assinalava um minuto de jogo, a estrela da Universidade de Duke colocou-se de costas para o cesto e para o adversário que o defendia, numa tentativa de o ultrapassar. Ao colocar o pé esquerdo no chão, a sapatilha do jogador destruiu-se por completo, ficando a sola separada do que restou do sapato; a perna direita escorregou e Williamson caiu de imediato no chão, agarrado ao joelho direito, com muitas queixas. O ala não voltou a entrar em jogo e Duke acabou por perder (72-88). Numa altura em que ainda não é conhecida a extensão da lesão do jovem jogador, as reações ao inacreditável rasgão da sapatilha vão-se multiplicando e uma surgiu assim que Williamson caiu no chão. Sentado na primeira fila, Obama foi o primeiro a perceber o que se tinha passado e exclamou rapidamente que “o sapato partiu”, num vídeo que desde então se tornou absolutamente viral. LeBron James também já comentou a situação e disse que espera que “o jovem rapaz esteja bem”.

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A Nike, marca dos ténis que Zion Williamson estava a usar, emitiu entretanto um comunicado onde garante que esta foi uma “ocorrência isolada” e desejou uma recuperação rápida ao jogador. A Puma, marca concorrente, aproveitou o episódio e defendeu no Twitter que nada teria acontecido se o jovem atleta estivesse “a usar uns Puma” mas a afirmação foi rapidamente criticada e interpretada como “jogo sujo” e a publicação acabou por ser apagada poucos minutos depois de aparecer. A lesão do jogador, uma promessa do basquetebol norte-americano, trouxe também à tona uma discussão que há muito é resguardada nos bastidores da modalidade: há vários anos que os jogadores profissionais criticam a forma como a NCAA está organizada e ainda o facto de, numa Liga que apesar de ser universitária movimenta muito dinheiro e paga milhões aos treinadores, os atletas não receberem qualquer remuneração. Luka Doncic, rookie sensação da NBA que antes de se mudar para os Estados Unidos ganhou tudo no Real Madrid, aconselhou os jogadores de que o melhor será irem “jogar para a Europa” e Isaiah Thomas, jogador dos Denver Nuggets, lembrou que “uma lesão pode mudar uma carreira” e defendeu que está “muita coisa em jogo para andar a brincar na universidade”.