O que irá acontecer às bombas de gasolina quando todos os carros forem elétricos? As igrejas vão transformar-se em restaurantes, bares e galerias? Quando as máquinas substituírem o homem e o horário laboral ficar reduzido, iremos usar mais e melhor os espaços públicos? Quando os veículos circularem a alta velocidade, que modificações terá uma auto estrada? Estas e outras questões servem de base a uma reflexão proposta pela arquiteta Andreia Garcia, curadora da exposição gratuita que inaugura esta sexta, dia 1, no Fórum Maia, integrada na iniciativa Mês da Arquitetura da Maia, promovida pela autarquia.

“Num mundo em vertiginosa aceleração, é urgente pensar a evolução das cidades e o papel da arquitetura na antecipação daqueles que serão os grandes desafios urbanístico do futuro”, diz em entrevista ao Observador. No ano em que a cidade da Maia celebra os 500 anos da entrega do Foral Manuelino, Andreia Garcia achou pertinente pôr toda a gente a pensar: como será a cidade daqui a um século?

Partindo do território da Maia como exemplo para abordar o assunto com diferentes visões criativas e artísticas, a arquiteta convidou 4 críticos consagrados – Inês Moreira, Joaquim Moreno, Pedro Bandeira e Susana Ventura — e 8 ateliês de arquitetura emergentes – Ana Aragão, Artéria, Branco del Rio, Corpo Atelier, Fala, Espacialistas, Skrey e Summary –, cujo trabalho “tem uma relação intrínseca com a arte, a filosofia, a sociologia ou o ambiente”, e lançou-lhes o desafio de “antecipar cenários e situações para que as cidades possam ser planeadas, pensadas e estruturadas”.

O cartaz da iniciativa que já vai na segunda edição

A nova geração da arquitetura nacional terá, segundo a curadora e produtora da mostra, “a responsabilidade de desenhar e repensar a paisagem urbana do futuro”, sendo “necessário e importante” refletir sobre o impacto da evolução do urbanismo, a mobilidade, a tecnologia ou a gentrificação.  
 
O resultado final de 9 meses de trabalho pode ver-se na exposição “Fast Forward”, que promete “não ser de arquitetos para arquitetos, mas chegar a toda a gente”. Composta por desenhos rigorosos, maquetas, textos, ilustrações, colagens ou instalações que prometem dar nas vistas, despertar os sentidos e provocar sensações. “Há uma piscina imensa de papel, onde cada folha de papel corresponde a 10 litros de água, que é um exercício de choque sobre uma das consequências ambientais ou uma peça de realidade virtual que aborda um cenário de mobilidade no futuro, onde podemos ir à China em apenas três horas e como é que isso poderá influenciar a forma como vivemos”, explica a curadora.

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Mas, afinal, o que tem de especial a cidade da Maia a nível arquitetónico e territorial? Andreia Garcia é natural de Guimarães, vive no Porto e já passou por Lisboa e pela Polónia, mas reconhece que na Maia existe “uma identidade própria” e um património industrial e agrícola únicos. “Há muito para explorar nestas duas dimensões”, sublinha. Sendo uma cidade de pequena escala, muito próxima do Porto, “não procura a estandardização ou receitas de outras cidades metrópoles”, antes pelo contrario, “a Maia cria a sua própria estratégia e tenta homenageá-la e celebrá-la nos projetos que apresenta”.

Para a arquiteta, que já foi curadora na primeira edição do Mês da Arquitetura da Maia e iniciou a sua atividade como curadora em 2012, “é necessário que qualquer cidade do mundo faça este exercício de reflexão”, pois acredita que “aprendendo com o passado e antecipando as necessidades e os cenários do futuro, é possível construir uma estratégia de planeamento urbano mais coerente e equilibrada”.

A iniciativa dedicada à arquitetura inclui ainda visitas guiadas para os mais novos e um ciclo de quatro debates no dia 8 de março, no cinema Venepor, onde os críticos e arquitetos convidados irão debruçar-se sobre uma peça em exposição.