As campainhas não podiam soar com mais veemência nesta fase para os líderes mundiais. Kristalina Georgieva alertou esta terça-feira, no primeiro discurso como diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), para a redução do crescimento mundial de forma “sincronizada”.

As taxas de crescimento deverão baixar para um nível ainda não visto nesta década, segundo o FMI, que deverá concretizar um pouco mais esse pessimismo na próxima semana, no relatório World Economic Outlook. Georgieva revelou que vai rever em baixa as estimativas de crescimento não só para 2019, mas também para 2020, depois de, em julho, o FMI já ter baixado em uma décima as estimativas de crescimento da economia global para 3,2% em 2019 e 3,5% no próximo ano.

Em 2019, esperamos um crescimento mais lento em quase 90% do mundo, a economia global está agora numa desaceleração sincronizada — isto significa que o crescimento este ano vai cair para o nível mais baixo desde o início da década”, avisou Georgieva, que venceu recentemente a corrida pela liderança do FMI, contra o ministro das Finanças, Mário Centeno.

Inevitável? Apenas se a atitude não mudar. Georgieva lamenta a falta de vontade dos países para trabalharem em conjunto — “enquanto a necessidade de cooperação internacional está a subir, a vontade para se envolverem está a baixar” — e pede, por isso, às lideranças mundiais respostas “coordenadas” para “resolver as fraturas” que “estão a agravar-se” no mundo.

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Os motores da economia global estão a trabalhar menos, em parte, por causa das tensões relacionadas com o comércio internacional, que motivaram uma redução “substancial” da produção e do investimento. Kristalina Georgieva revela os dados de um estudo do FMI que estima um efeito potencial das guerras comerciais na ordem dos 700 mil milhões de euros no PIB global já em 2020, o equivalente a 0,8% da produção total.

“A incerteza — conduzida pelo comércio [internacional], mas também pelo Brexit e por tensões geopolíticas — estão a suster o potencial económico”, nota a economista búlgara, que considera haver “um sério risco de serviços e consumo serem afetados em breve”.

“Nos EUA e na Alemanha, o desemprego está em níveis historicamente baixos, mas em várias economias avançadas, incluindo os EUA, Japão e, especialmente, a zona Euro, há uma atividade económica mais lenta”, lembra Georgieva. A atual situação “traz desafios para países que já enfrentam dificuldades”.

Em países como Índia ou Brasil, “a desaceleração é ainda mais pronunciada este ano” e na China “o crescimento está gradualmente a desacelerar”, depois do rápido crescimento dos últimos anos. Ainda nas economias emergentes, é esperado um crescimento superior a 5% em cerca de 40 países, mas “representam uma parte relativamente pequena da economia global”.

Artigo atualizado às 16:30.