A culpa, dizem, é dos direitos televisivos. Da distribuição diferente do bolo milionário que alimenta o orçamento da maioria dos clubes em todos os campeonatos. Da maior margem para quem costuma ter menos possibilidades de investir em contratações e salários. Esta é a principal conclusão de um trabalho apresentado pelo ABC este sábado, com explicações também de Javier Tebas, o presidente da Liga. Mas este é também o reflexo de uma prova onde o primeiro classificado, Real Sociedad, tem apenas mais oito pontos do que o 15.º classificado com mais um jogo. E de uma prova onde o Real, na terceira posição, surgia “só” com sete pontos de avanço sobre o Eibar.

Olhando para a imprensa espanhola, as deslocações dos crónicos candidatos ao título a campos de equipas que têm como único objetivo a permanência começaram a ser vista de forma distinta – e ainda na semana passada houve um bom exemplo disso, com a derrota do Barcelona frente ao Levante. Por isso, o bom momento do Real Madrid, sobretudo depois da goleada com o Galatasaray na Champions, dava outro ânimo a um conjunto de Zidane que tão depressa “despacha” o Leganés por 5-0 como empata sem golos com o Betis. Rodrygo, segundo jogador mais novo de sempre a marcar um hat-trick na Liga milionária, é o homem do momento, bem secundado pelo uruguaio Fede Valverde. Mas se os miúdos se estão a destacar é porque os graúdos também cresceram.

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Com Gareth Bale e James Rodríguez ainda de fora, e Luka Modric à procura do melhor momento após lesão, a estrutura Sergio Ramos-Casemiro-Benzema tem vindo a subir de rendimento (no caso do francês, é mais uma questão de manter o bom arranque) mas é na figura de Toni Kroos que se centram as principais explicações para as melhorias. Na figura e nos metros que avançou em campo, tendo outro tipo de peso no jogo ofensivo da equipa: com Valverde a dar outra consistência na ajuda a Casemiro, o alemão soltou-se e toda a equipa beneficiou dessa nuance tática, com mais chegadas à baliza, mais remates, mais oportunidades e mais bola pelos seus pés.

Este sábado, a batuta passou de Kroos (que nem saiu do banco) para Modric. Com os mesmos movimentos, com as mesmas zonas de campo percorridas, com a mesma influência. E quem voltou a ganhar mais com isso foi Karim Benzema, que manteve a pontaria afinada em mais uma goleada sem sofrer golos do Real Madrid: depois de ter inaugurado o marcador aos 17′, o francês fez o 3-0 de grande penalidade ainda antes da meia hora inicial (29′), com Sergio Ramos a marcar também de penálti entre os golos do francês (20′). Fede Varela fez o resultado final já no segundo tempo (61′), num resultado que colocou o Real Madrid à condição no primeiro lugar.

Com mais dois golos, Benzema passou a ser o melhor marcador da Liga com nove golos, mais um do que Gerard Moreno (Villarreal). Em paralelo, conseguiu ainda ultrapassar o número de golos apontados por Ferenc Puskas no Campeonato espanhol (157), passando a ser o sexto melhor marcador de sempre do Real Madrid na competição. Mas há outro dado que mostra bem o peso que o francês ganhou nos merengues, sobretudo desde 2018: desde que Cristiano Ronaldo saiu para a Juventus, o número 9 leva 41 golos e 15 assistências em 68 encontros, num registo superior ao do português desde que chegou a Turim para representar a Vecchia Signora.