O Príncipe André diz lembrar-se perfeitamente onde e o que estava a fazer no dia 10 de março de 2001 — uma das três datas em que Virginia Roberts, agora Virginia Giuffre, diz ter sido forçada pelo Duque de York a ter relações sexuais, quando era ainda menor de idade. Nesse dia, o Príncipe André estava “em casa com os filhos”, tendo inclusive levado um deles, a princesa Beatrice, a uma festa no restaurante Pizza Express, em Woking, entre as 16h00 e as 17h00. Diz ter a certeza absoluta porque “ir ao Pizza Express em Woking” era “algo muito incomum”.

Foi assim que o Duque afastou e negou, numa entrevista à BBC2, ter tido qualquer tipo de contacto com Virginia Giuffre que se recorda e o acusa de terem jantado juntos e dançado numa discoteca em Londres, a Tramps, antes de o Príncipe a ter obrigado a ter relações sexuais com ele. A jovem vai ao detalhe de dizer que se lembra perfeitamente de o príncipe ter transpirado muito durante o encontro.

Tigres embalsamados, móveis portugueses do século XVIII e um príncipe André apanhado à porta. A “mansão de horrores” de Epstein

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Confrontado com todas estas informações, o entrevistado negou todas elas. Desde logo porque, conta, era impossível ter transpirado dessa maneira, uma vez que sofria de uma “condição médica” que o impedia de suar. Depois, diz estar “quase convencido” que nunca esteve na discoteca Tramps com a jovem que o acusa:

Há uma série de coisas erradas nesta história. Uma dela é que eu não sei onde é que é o bar da discoteca Tramps. Eu não bebo. Acho que nunca comprei uma bebida no Tramps, sempre que estive lá.”

Além deste encontro, Virginia Giuffre diz ter tido relações sexuais com o filho de Isabel II mais duas vezes. Questionado mais uma vez pela jornalista Emily Maitlis sobre se alguma vez a conheceu, o príncipe limitou-se a dizer que não se lembra.

Virginia Giuffre terá sido uma das jovens alegadamente prostituídas pelo milionário Jeffrey Epstein — com quem o príncipe André tinha uma relação de amizade, conhecida desde 2011. Foi aliás o facto de Epstein ter sido condenado em 2008 a 18 meses de prisão por prostituir uma menor que fez com que, ao ser tornada pública a amizade entre os dois, o príncipe se demitisse do cargo de embaixador comercial britânico.

O milionário voltou a ser detido em julho por suspeitas de tráfico sexual e abuso de menores. A aguardar julgamento, Epstein foi encontrado morto na sua cela — naquele que poderá afinal configurar um caso de homicídio e não de suicídio, como inicialmente foi avançado.

E a foto em que aparece a agarrar Virginia? “Sou eu, mas se essa é a minha mão…”

Mas há uma fotografia que indica que Príncipe André conheceu Virginia Giuffre. Nela, o príncipe aparece com a mão à volta da cintura de Virginia Giuffre, à data com 17 anos, na casa de Ghislaine Maxwell — namorada de Jeffrey Epstein acusada de arranjar menores para a rede sexual do milionário.

A pergunta — inevitável — que se seguiu foi por isso acerca desta fotografia. “Como explica isto?”, questionou a jornalista da BBC2. O príncipe André diz não ter “absolutamente memória nenhuma” de ter tirado aquela fotografia, mas reconhece ser ele que aparece nela. “Sou eu, mas se essa é a minha mão ou se essa é a posição...não me lembro simplesmente da fotografia ser tirada“, disse acrescentando que os investigadores nunca conseguiram determinar a veracidade da imagem “porque é uma fotografia de uma fotografia de uma fotografia”. E adianta, aliás, que abraços e demonstrações públicas de afeto não são algo que faça.

A entrevista, realizada no Palácio de Buckingham e com a autorização da Rainha Isabel II, durou cerca de uma hora e acontece cerca de três meses depois de o jornal britânico Daily Mail ter publicado outras fotografias que comprometiam o filho da rainha Isabel II: imagens que captaram o Duque de York, em 2010, à porta de casa do milionário quando se despedia de uma jovem.

O Duque de York admite que a sua passagem pela casa do norte-americano foi “uma vergonha” e que a estadia, captada pelos fotógrafos, “não foi própria de um membro da Família Real”. Admitindo já ter pensado nisso várias vezes, acredita que foi um erro ficar na casa de Epstein.

O filho de Isabel II garante desconhecer as atividades ilegais de Epstein e que, apesar de sempre ter visto “muitas pessoas a andar pela casa”, pensou que “eram funcionários”. Questionado se estaria disposto a testemunhar em tribunal, o príncipe explicou que teria de se aconselhar com advogados, mas se a resposta deles fosse afirmativa, seria “obrigado a fazê-lo”.

Ainda assim, o duque de York disse que não se arrependia da sua amizade com Epstein. “As pessoas que eu conheci e as oportunidades que me foram dadas para aprender com ele ou por causa dele foram realmente muito úteis”, disse.