A Cimeira Social para o Clima, em Madrid, quer fazer ecoar as vozes de indignação do meio milhão de pessoas que encheu as ruas da capital espanhola na sexta-feira e pressionar os líderes mundiais, disseram este domingo os organizadores.

“Se fomos capazes de organizar em um mês o que normalmente se prepara num ano, do que não seremos capazes de fazer no futuro?”, pergunta-se Ruben Gutiérrez, um dos organizadores desta cimeira social, que arrancou no sábado, e que pretende ser um encontro alternativo e paralelo aos eventos oficiais da 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.

“No minuto que tivemos a notícia que a COP25 passaria de Santiago para Madrid, começámos e não parámos mais. Tem sido um trabalho intenso contra o relógio”, disse hoje à Lusa o ativista, que representa o coletivo espanhol Juventude pelo Clima e se responsabilizou por ajudar nos preparativos da cimeira alternativa.

A cimeira social teve a sua grande estreia na noite de sexta-feira, quando meio milhão de pessoas tomaram as ruas de Madrid na Marcha pelo Clima, a maior manifestação ambiental a nível mundial convocada pelo movimento Fridays For Future, impulsionado pela jovem ativista sueca Greta Thunberg.

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“Inscreveram-se quase mil organizações e coletivos de todo o mundo. Esta cimeira pretende ser, sobretudo, um espaço de articulação social e de estreitamento de vínculos. Ao contrário da COP25, que não dá voz aos coletivos, aqui damos voz às comunidades indígenas e aos coletivos contra hegemónicos do Sul Global”, explicou Gutiérrez.

“Este é um espaço de construção de alternativas dos movimentos sociais”, sublinhou.

Segundo o ativista, ao contrário da COP25, que tem um orçamento de 60 milhões de euros, a Cimeira Social conta com doações de organizações e trabalho voluntário.

“A cimeira financia-se com contributos voluntários e, sobretudo, com muita auto-organização solidária e não remunerada. São pessoas que vieram voluntariar-se para fazer as traduções e trazer alimentos. Eu digo que esse tempo que as pessoas estão a dedicar-se vale muito mais que todo o PIB mundial”, descreveu.

Para Gutiérrez, são muitas as mensagens que a Cimeira Social quer transmitir.

“A mudança da COP do Chile pata Espanha não pode invisibilizar os protestos massivos que têm ocorrido no Chile nas últimas semanas. Nós condenamos a Presidência do governo de Sebastián Piñera e não podemos deixar que a transferência da COP silencie todas as violações de direitos humanos que estão a ocorrer por lá”, criticou.

A crise ecológica transforma-se sempre numa crise social “que prejudica de forma desigual os setores mais vulneráveis da sociedade”, considerou.

A cimeira social decorre até 13 de dezembro com atividades que se concentram especialmente no campus da Universidade Complutense de Madrid.

Todos estes eventos são realizados à margem da 25.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, conhecida como COP25, que arrancou em 02 de dezembro e que foi transferida de urgência, em 01 de novembro, para Madrid, depois de o Chile ter anunciado que renunciava à sua organização, devido à contestação social sem precedentes no país.