A Porsche tem no 911 o expoente máximo daquilo que consegue fazer enquanto fabricante de desportivos. Sucede que, por muitos (e merecidos) pergaminhos que o construtor de Estugarda detenha nesta matéria, as regras mais apertadas de emissões de dióxido de carbono impostas por Bruxelas não deixam outra alternativa ao construtor alemão se não a de abraçar a electrificação. Isto não seria nada de novo, pois todos os construtores estão a lidar com essa inevitabilidade, não fosse assumido pelos próprios responsáveis da marca o facto de não estarem a ver “como” hibridizar a mecânica sem beliscar as expectativas dos clientes, principalmente os puristas. Ou seja, como garantir por parte do 911 o mesmo feeling e comportamento, tendo de adicionar ao conjunto o peso das baterias que equipam um híbrido plug-in (PHEV). E o peso, num desportivo, pode ser “assassino”.

Estamos a testar protótipos, mas ainda não estamos completamente satisfeitos, sobretudo por causa do peso”, revelou à Top Gear Michael Steiner, membro do conselho de administração da Porsche. “Num desportivo de duas portas, qualquer quilo extra é indesejável”, acrescentou.

A Porsche está a trabalhar em soluções PHEV para o 911 mas, até agora, não há fumo branco. O responsável pelo icónico modelo, Frank Walliser, explica a dificuldade com que os alemães se têm confrontado no desenvolvimento do produto. “Electrificar o 911 não é fácil. É difícil implementar a electrificação desejada sem ferir o carácter desta grande marca”, justifica, antes de apontar a conclusão a que já chegaram outros fabricantes: o objectivo seria mais facilmente atingido se a marca dispusesse de uma plataforma originalmente projectada para a electrificação. “Nenhuma das ideias que tentámos aplicar foi suficientemente satisfatória.”

A Ferrari aparentemente não sentiu a mesma dificuldade ao produzir o SF90 Stradale, pois mostrou como é possível electrificar um desportivo de duas portas. O belo coupé italiano de dois lugares mantém a eficácia, incrementou a potência e diminuiu os consumos e as emissões. E ainda permite circular em modo eléctrico.

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SF90 Stradale. Este é o primeiro híbrido plug-in da Ferrari

“Há uma enorme diferença entre fazer um PHEV de raiz ou converter um 911 que já existe num modelo electrificado”, afirma Walliser. Esta última opção, que é a base em que a Porsche tem trabalhado, implica um aumento de peso, por via da integração dos acumuladores e motor eléctrico. Ora, aumentar significativamente o peso está fora de questão para os responsáveis da Porsche. “Não queremos apenas aumentar o peso em 100 kg”, atira Frank Walliser.

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Seja como for, a actual geração 992 vai ter de encontrar uma solução para alcançar essa meta, o que poderá passar por recorrer a fibra de carbono para poupar uns quilos ou por via de outro expediente. Certo, também, é que a Porsche tem pela frente o desafio de atingir o difícil equilíbrio de satisfazer os clientes e, simultaneamente, responder à pressão ambiental. O híbrido tarda e o 911 puramente a bateria não será uma realidade antes de 2030, segundo o próprio CEO da Porsche, Oliver Blume.