Numa pergunta a que o Observador teve acesso, dirigida ao ministro da Educação, o deputado único da Iniciativa Liberal João Cotrim Figueiredo considera que o ensino à distância tem demonstrado “diversas falhas, falta de apoios, desigualdades e exaustão”. Em causa está o que ficou exposto no estudo, divulgado esta semana pela Federação Nacional de Professores, que concluiu pelo agravamento das desigualdades com a suspensão das aulas presenciais.

Sustentado nos dados da Fenprof, Cotrim de Figueiredo coloca um conjunto de questões ao ministro da Educação, pedindo que revele “dados ou estudos que contrariem ou aprofundem os resultados” do inquérito, assim como a listagem dos equipamentos e outros recursos técnicos que tenham sido postos à disposição de alunos e professores para “assegurar a viabilidade generalizada do ensino à distância”.

O deputado único do IL quer ainda que o Governo confirme se continuam a existir “alunos sem apoio docente e sem acompanhamento pedagógico” e, em caso de resposta afirmativa, pede a Tiago Brandão Rodrigues “dados sociodemográficos detalhados”, que caracterizem as “lacunas existentes” discriminadas por nível de ensino, níveis etários, estratos sociais e região. O partido antecipa ainda que algumas crianças “nunca mais recuperarão do atraso destes meses”.

Segundo o estudo revelado pela Fenprof esta semana, 54,8% dos professores admitem não ter conseguido chegar a todos os alunos até meados de maio, referindo também que, apesar de a maioria (cerca de 70,5%) ter optado por lecionar novos conteúdos. Destes, só 47,8% vai avaliar as matérias dadas em ensino à distância. Além disso, cerca de 93,5% dos docentes consideram que as desigualdades se agravaram desde 16 de março, altura em que as atividades letivas foram suspensas como forma de conter a propagação do novo coronavírus. Estas desigualdades, segundo a federação, decorrem não só da dificuldade que alguns alunos tiveram em aceder aos meios tecnológicos para acompanhar as aulas online, mas também do facto de muitos não terem autonomia digital.

“As respostas dos professores não deixam dúvidas, com a opinião maioritária a resumir-se numa afirmação que se poderá tornar icónica: o ensino não é isto, nem nada que se pareça”, garante a Fenprof, alegando que o ensino à distância “deixou cada um à sua sorte e todos por sua conta”.

Segundo, ainda, a Fenprof, “a desigualdade entre alunos agravou-se, em alguns casos, perigosamente”, quer pela “falta de apoios” quer pelas “repercussões” na família do facto de “dois milhões de trabalhadores” terem ficado em lay-off.

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