Os investigadores da Universidade de Oxford anunciaram, esta sexta-feira, que a vacina desenvolvida em colaboração com a farmacêutica AstraZeneca “continua eficaz” contra a nova variante britânica do coronavírus, segundo o comunicado de imprensa da instituição.

Os ensaios anteriores tinham demonstrado uma “eficácia média” de 70,4%, embora os investigadores tenham revelado na altura alguns problemas com as doses nos ensaios clínicos. Agora, os autores admitem também que as conclusões, sobretudo para os assintomáticos ou para aqueles dos quais se desconhece os sintomas, não são tão seguras porque o número de pessoas é mais baixo. Além disso, também neste estudo, os autores incluíram o ensaio clínico em que houve um engano e os voluntários tomaram apenas metade da primeira dose.

Em resumo: os autores do artigo, que representam 28 instituições (incluindo a AstraZeneca), voltaram a usar dados pouco robustos para tirar conclusões fortes e proporem o manuscrito para publicação.

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Os dados divulgados numa plataforma de pré-publicação da revista científica The Lancet (antes de serem revistos pela comunidade científica) revelam ainda que as pessoas infetadas com a nova variante britânica apresentavam menos anticorpos neutralizantes (parte da resposta imunitária desencadeada pela vacina ou por uma infeção anterior). Ou seja, parte da imunidade desencadeada pela vacina, importante na eliminação do vírus, estava comprometida.

Estes resultados sugerem ou que uma quantidade menor de anticorpos neutralizantes é suficiente para fornecer proteção ou que outro mecanismo de imunidade pode ser responsável pela proteção contra a doença nos indivíduos vacinados”, escrevem os autores.

Os participantes do estudo foram convidados a fazer um teste de PCR todas as semanas, cuja recolha era feita pelo próprio, em casa, e enviada pelo correio para um laboratório de análises. Os investigadores utilizaram os resultados dos testes PCR como um substituto para a determinação da carga viral e da eliminação do corpo do organismo.

As pessoas assintomáticas pareciam ter uma carga viral menor do que as pessoas sintomáticas e as assintomáticas vacinadas deixaram de testar positivo em menos tempo, como concluíram os autores do artigo. Mas os próprios admitem que “os sintomas não foram registados com regularidade porque os testes foram realizados em casa” e no grupo dos assintomáticos incluem as pessoas que não tiveram sintomas e aquelas que não sabem se tiveram — o que torna difícil comparar com os que tiveram e confirmaram os sintomas.

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Os autores do artigo misturam ainda o facto de as pessoas vacinadas terem cargas virais mais baixas que as não vacinadas com os resultados publicados sobre transmissão, ainda não validados pela comunidade científica — e que o Observador analisou aqui —, para dizerem que “uma pessoa vacina com um PCR positivo tem menor probabilidade de transmitir o vírus do que um pessoa com PCR positivo não vacinada”. Ainda que seja uma situação possível, os dados tal como foram apresentados não permitem dizê-lo.

Em jeito de conclusão os autores afirmam: “Estas observações fornecem um forte apoio à vacinação massiva como ferramenta para controlar a pandemia do coronavírus”. Não desvalorizando que a vacinação alargada da população possa realmente ter esse efeito, os dados não são sólidos o suficiente (como os próprios investigadores deixam claro na publicação) para dizer que apoiam fortemente a política seguida.

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É importante referir que a Universidade de Oxford se localiza no Reino Unido, recém saído da União Europeia, e que os problemas de fornecimento das vacinas por parte da AstraZeneca aos Estados-membros têm suscitado muita polémica. Além disso, há vários países na Europa a recusar vacinar maiores de 65 anos com a vacina da Oxford/AstraZeneca por falta de dados de eficácia neste grupo etário.

Perante este contexto, percebe-se a importância das conclusões de um outro estudo publicado esta semana (e que o Observador analisou em pormenor). “Os programas de vacinação com o objetivo de vacinar uma grande proporção da população com uma única dose, com uma segunda dose administrada após um período de três meses, podem ser uma estratégia eficaz para reduzir a doença e podem ser ideais para o lançamento de uma vacina contra a pandemia quando os fornecimentos a curto prazo são limitados“, escrevem os autores.

O Reino Unido é o país europeu com o maior número de vacinas dadas por cada 100 habitantes — 16,2, segundo os dados do site Our World in Data. Até agora, mais de 10,4 milhões de pessoas receberam a primeira dose (de um total de duas), segundo dados oficiais. O executivo de Boris Johnson fixou como objetivo ter vacinado 15 milhões de cidadãos antes do próximo dia 15 e anunciou esta sexta-feira que todos os adultos com mais de 50 anos deverão já ter recebido a vacina em maio.