Fernando Medina considera que o comportamento de José Sócrates e as suspeitas de recebimentos avultados sem explicações rompem “laços de confiança” e corroem “a nossa vida democrática”. As declarações foram feitas esta noite no seu espaço de comentário na TVI24, no qual o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa aproveitou ainda para recordar que será a “primeira vez na nossa história conhecida” que “teremos em julgamento por um crime no exercício de funções um ex-primeiro-ministro”.

Rompendo o silêncio que tem sido regra dentro do PS desde a última sexta-feira, em que Sócrates foi pronunciado por crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos, Medina lançou duras críticas ao ex-primeiro-ministro: “Lamento ter que o dizer, mas é evidente que há um rompimento de laços de confiança quando há factos fundamentais de que alguém que foi primeiro-ministro recebeu avultadas quantias financeiras. Ao contrário do que era dito, não resultavam de fortuna pessoal ou familiar. Sem qualquer justificação aparente, que o próprio não dá e entendeu não dar durante todos estes anos, é algo que marca de forma absolutamente negativa o sentimento de bem-estar e de confiança na sociedade portuguesa”.

E deixou claro que pela falta de explicações, o comportamento de José Sócrates “corrói a nossa vida democrática”.

“Quem está na vida pública, quem respeita a vida pública, quem sente o apelo, a missão e a dedicação do serviço e da causa pública tem de honrar, acima de tudo, essa relação de confiança com quem o elege”, disse, adiantando: “Não precisa de ser santo, não estamos no pedestal dos santos, mas estamos no pedestal dos que conseguem honrar essa confiança e essa confiança foi quebrada. Essa confiança foi inapelavelmente quebrada e não precisa de haver nem mais crime adensado nem retirado. Aquilo que nós sabemos é suficiente ou melhor aquilo que também não foi explicado durante todo este tempo é suficiente.”

Medina, que foi secretário de estado nos governos de José Sócrates, defende que “independentemente da natureza mais ou menos extensa do crime”, sabe-se  “que é um crime em exercício de funções com uma moldura penal” grave. Recordou inclusive que alguém “que exerce funções de primeiro-ministro, como outro eleito, tem uma suprema responsabilidade, a responsabilidade dos milhões das pessoas que votaram e dos milhares que o apoiaram diretamente” e isso, a confiança dessas pessoas, “é colocada em causa quando se vê uma decisão do tribunal” como a que foi proferida pelo juiz Ivo Rosa. O facto de tudo isso se ter passado durante o período em que Sócrates exercia funções torna tudo “mais importante” e faz do assunto “facto fundador de um profundo sentimento de desconfiança na sociedade portuguesa e descrença na relação entre eleitores e eleitos”.

E rematou: “Este caso é um manual do que está errado no sistema de justiça”.

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