Rui Rio avisou que, embora respeite a autonomia, por ele o PSD não fará qualquer coligação com o Chega nos Açores. Mas isso não está sequer em cima da mesa por parte das estruturas regionais. Apesar de André Ventura alimentar essa hipótese, o PSD/Açores não fará qualquer acordo de coligação pré-eleitoral na região, garantiram ao Observador fontes sociais-democratas conhecedoras do processo na região. PSD/Açores só ainda não o rejeitou publicamente porque o governo regional tem um orçamento para aprovar na próxima semana.

A única exceção em que poderá haver um pequeno entendimento, explicam as mesmas fontes do PSD ao Observador, é no município da Lagoa, onde os sociais-democratas consideram que não têm qualquer hipótese de ganhar (o PS é hegemónico) e, por isso, o PSD pondera não apresentar lista, permitindo que o presidente do Chega/Açores, Carlos Furtado, que já foi candidato do PSD àquele município, seja o grande opositor à candidata do PS, Cristina Calisto.

André Ventura tem alimentado nos últimos meses a hipótese de fazer coligações autárquicas nos Açores com o PSD. Tanto o presidente do PSD, Rui Rio, como o presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, excluíram coligações com o Chega no continente, mas nas regiões há autonomia e o PSD/Açores está depende dos deputados do partido de André Ventura para ter apoio parlamentar.

Quando foi recebido por José Manuel Bolieiro, André Ventura disse ao Observador que o presidente do PSD/Açores lhe tinha garantido: “Não haverá a diabolização e a exclusão para atos eleitorais”.  Mas Bolieiro, nessa mesma ocasião pública, referiu-se apenas ao acordo de governação regional, para dizer que “há todas as condições para, com honra e sentido de responsabilidade e empenho, garantirmos este entendimento frutuoso”.

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Dias depois, o coordenador autárquico, Nuno Afonso, dizia em declarações ao Observador que haveria, nas autárquicas, “coligações, quanto muito, talvez na Madeira e nos Açores porque são situações diferentes, mas mesmo aí a tendência” seria “não fazer coligações”. Já depois disso fontes da direção do Chega têm transmitido a ideia de que “há 80% de hipóteses de existir um acordo global com o PSD para as autárquicas nos Açores”. O que o PSD desmente, mesmo que publicamente não queira declarar guerra aberta ao Chega.

Ventura mantém acordo nos Açores e garante que Bolieiro não exclui coligações na região

O PSD deverá assim apresentar lista em todos os concelhos dos Açores e, sempre que se justifique, admite ir coligado com os dois parceiros de Governo: o CDS e o PPM. Já estão, aliás, a ser encetadas negociações nesse sentido.

O que o PSD fará no município da Lagoa, caso se concretize (que nem isso está seguro), é um pequeno entendimento com o Chega. Tacitamente (como o PSD nacional possivelmente fará em Oeiras), o PSD/Açores não apresentará candidato naquele concelho, permitindo que os eleitores do PSD possam votar no Chega. Ainda o PSD assim não irá integrar essa lista liderada pelo Chega numa coligação pré-eleitoral. Há aqui outro dado curioso: Carlos Furtado era, até fevereiro de 2020, vereador do PSD na câmara de Lagoa — cargo que abandonou para liderar o Chega/Açores. Ou seja: em 2017 foi o candidato do PSD naquele município.

Mas se não haverá coligações, por que razão o PSD/Açores não contraria já publicamente André Ventura? Tem precisamente a ver com os equilíbrios que José Manuel Bolieiro é forçado a fazer para continuar a governar. Já na próxima semana o novo orçamento regional vai a plenário. O Orçamento começa a ser discutido na próxima segunda-feira e vai a votos na sexta-feira. Esta não é, por isso, a melhor altura para discutir o assunto. Isto porque o líder do Governo regional precisa dos votos dos deputados do Chega para viabilizar o Orçamento.

André Ventura não irá, por isso, desistir de forçar um acordo. Rui Rio não terá ajudado o calendário de Bolieiro ao recuperar o tema na terça-feira, enquanto respondia às perguntas do jornalistas à margem de uma conferência de imprensa que deu no Porto sobre a evolução da pandemia. Nessa ocasião, o presidente do PSD não deixou de pressionar o PSD/Açores no sentido de não haver coligações com o Chega: “Não temos tutela nas Regiões Autónomas. Aquilo que é desejável é que nas Regiões Autónomas façam o mesmo que fazemos no Continente e fazer o mesmo é não fazer coligações com o Chega“.

Apesar desta pressão pública, Rui Rio também já terá sido informado que Bolieiro não está a preparar nenhuma coligação pré-eleitoral com o Chega na Região Autónoma dos Açores.