No Novo Banco havia a expetativa de que as imparidades iam subir após 2017, afirmou Carlos Brandão, diretor do departamento de risco global e que seria usado o valor previsto no mecanismo de capital contingente, em linha com as estimativas feitas no quadro da venda à Lone Star.

O responsável ouvido esta quarta-feira de manhã não estabeleceu uma ligação entre essa evolução e a venda do banco, mas admitiu que a estimativa no banco sobre as perdas nos ativos protegidos do mecanismo de capital contingente estavam em linha com as previsões feitas pela Comissão Europeia para a utilização deste mecanismo e que apontavam para um valor de 3,3 mil milhões de euros no cenário base, mas que podia chegar aos 3,9 mil milhões de euros. “Não era muito diferente da expectativa que o banco tinha face à realidade que conhecia” dos ativos que estavam incluídos neste mecanismo de proteção de perdas”.

“Era uma expectativa. Como sabe, num horizonte temporal tão grande – estamos a falar de 2016-2020 ou eventualmente além de 2020 – tanta coisa pode acontecer que poderá eventualmente alterar essas expectativas”, respondeu a Alberto Fonseca do PSD.

“Conhecendo a carteira de crédito existia a expectativa do aumento das imparidades no banco e não apenas nos ativos do acordo de capital contingente”, afirmou. Carlos Brandão exemplificou com os valores das imparidades médias anuais registados entre 2015 e 2017 que foram de 590 milhões de euros, saltando para os 852 milhões de euros nos anos seguintes, valores que mesmo descontando o impacto da pandemia, eram superiores.

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Entre as razões apontadas para estas perdas, está a conjuntura negativa em algumas geografias onde estavam clientes do Novo Banco, em particular alguns grandes devedores. Esses clientes tinham procurado novos mercados durante a troika — por exemplo, Angola, Moçambique ou Brasil — e essas economias entraram em dificuldades, o que se refletiu na saúde financeira das empresas, levando o banco a adaptar o valor líquido das exposições.

Apesar de ser diretor do departamento geral de risco, Carlos Brandão não avaliou nessas funções operações específicas de reestruturação de crédito, nomeadamente de grandes devedores, que eram da competência de outros departamentos no banco, como o departamento de crédito e o conselho financeiro de crédito. A função da sua área era avaliação geral de um cliente em termos de rating e de risco geral e necessidades de capital. Nesse quadro referiu ao deputado Duarte Alves do PCP que foram dados cinco pareceres negativos a um aumento de exposição aos grupos SIVA, no quadro do processo de reestruturação, MSF Engenharia, grupo EIP (Electricidade Industrial Portuguesa), Elevo, e EDB (Euro Biodiversidade e Desenvolvimento).

O departamento que dirige analisou a política de bónus de gestão nos vários departamentos do banco para avaliar se os objetivos fixados estavam em linha com a política de apetite pelo risco definida para o banco. Mas não se pronunciou sobre os prémios de gestão da comissão executiva, esclareceu ainda ao deputado socialista João Paulo Correia.
Carlos Brandão foi presidente executivo do Bankinter em Portugal quando aceitou o convite de António Ramalho para liderar o departamento de risco geral a partir de julho de 2017. Foi nomeado pela gestão do Novo Banco como um dos porta-vozes do banco para o reporte de informação à comissão parlamentar de inquérito.