O presidente da Câmara Municipal do Funchal destacou esta segunda-feira que a autarquia madeirense é a única do país com um departamento de ciência, salientando a importância do projeto MICROCENO, que decorre nas Ilhas Selvagens.

“Fica afirmado o compromisso que a Câmara Municipal tem com a ciência. Somos, aliás, a única câmara do país com um departamento de ciência, com trabalho desenvolvido nesta área, com publicações científicas também elaboradas com a contribuição da Câmara Municipal do Funchal”, afirmou Miguel Silva Gouveia na apresentação pública do projeto MICROCENO, que decorreu nos Paços do Concelho.

O autarca garantiu que não poderia deixar de se associar a esta investigação, porque a Câmara do Funchal é “parceira na área da investigação” e procura sempre colocar os meios e recursos “ao serviço do conhecimento”. Para Miguel Silva Gouveia, é um orgulho receber os resultados da expedição às Selvagens, “ainda que preliminares”.

As Ilhas Selvagens estão localizadas na zona mais a sul do território português e a sudeste da ilha da Madeira. São de origem vulcânica e constituídas por duas ilhas: a Selvagem Grande (onde está instalada a estação principal de apoio à área protegida) e a Selvagem Pequena (constituída por vários ilhéus). Estas ilhas foram as primeiras áreas protegidas da Região Autónoma da Madeira e as primeiras a serem classificadas como Reserva a nível nacional, em 1971.

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O projeto denominado MICROCENO irá explorar pela primeira vez a microbiologia e a mineralogia das grutas vulcânicas terrestres e marinhas das Ilhas Selvagens, que são consideradas análogos geológicos de Marte. A investigação, que tem como parceira a Câmara do Funchal, é coordenada por Ana Zélia Miller, da Universidade de Évora, e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

A expedição, que contou com a participação de investigadores da Agência Espacial Europeia, de um cosmonauta da Agência Espacial Russa (Roscosmos) e de investigadores de instituições nacionais e internacionais, decorreu entre 16 e 30 de julho, com um acompanhamento documental da National Geographic.

Ao nível de equipamentos científicos utilizados, a atenção esteve centrada num microscópio eletrónico de varrimento portátil, Phenom XL G2, fruto da colaboração com a Thermo Fisher Scientific, por ter sido a primeira vez a nível mundial que um equipamento desta natureza foi utilizado numa ilha remota.

“Uma operação nunca antes tentada, que a ser bem-sucedida, ultrapassará os limites até agora estabelecidos para o desempenho de um microscópio”, segundo uma nota da Câmara Municipal do Funchal.

O projeto passa por diversas áreas, nomeadamente, astrobiologia, a exploração planetária, alterações climáticas e biotecnologia. A “riqueza” da grande diversidade de microrganismos presentes nas grutas vulcânicas ou tubos de lava das Ilhas Selvagens pode contribuir para o aumento do conhecimento da biodiversidade do planeta Terra e “como modelo para a procura de vida microbiana noutros planetas”, lê-se ainda no comunicado.

Na nota é também indicado que “a reconstrução do paleo-clima de uma ilha com quase nenhuma intervenção humana, com recurso a técnicas moleculares e isotópicas, pode servir para compreender o impacto que estas alterações têm sobre a biodiversidade”.