É um de apenas sete ciclistas que ganharam as três Grandes Voltas. É um de apenas dois ciclistas que ganharam cada uma das três Grandes Voltas mais do que uma vez. E é, sem sombra de dúvidas, o ciclista que melhor conhece o percurso da Vuelta. Alberto Contador é o nome maior do ciclismo na era pós-Lance Armstrong e não há ninguém melhor do que o espanhol natural de Madrid para fazer a antevisão da competição espanhola que arranca este sábado.
Para Contador, que venceu a Vuelta em 2008, 2012 e 2014, só existem dois favoritos: Egan Bernal e Primoz Roglic, sendo que este último venceu as duas últimas edições . “Creio que Bernal e Roglic são os dois principais favoritos para ganhar esta corrida. Estão ambos num ponto superior aos restantes. Para além de que o percurso é favorável para ambos. Penso mesmo que não vamos ter surpresas, são eles os dois que vão lutar pela camisola vermelha”, disse o atleta espanhol ao Observador numa entrevista proporcionada pelo Eurosport, onde é agora comentador.
A edição de 2021 da Vuelta arranca este sábado com um contrarrelógio de sete quilómetros em Burgos (16h44) e estende-se por 21 etapas, incluindo sete de montanha e quatro de grande altitude. Nélson Oliveira (Movistar) e Ivo Oliveira (UAE Emirates) são os dois representantes portugueses, numa competição onde a Deceuninck-Quick Step decidiu não levar nem João Almeida nem Remco Evenepoel, dois dos seus principais nomes — uma estratégia que Contador não consegue entender. “Sou o primeiro a ficar surpreendido com a estratégia porque ainda nem sequer consegui entendê-la. De qualquer forma, o calendário está a ser muito duro para todos os ciclistas e é possível que não queiram expor-se a lesões graves ou que os interesses da equipa não passem pela Vuelta, pelo menos este ano”, explicou o antigo ciclista, que ao longo da carreira passou pela ONCE-Eroski, pela Discovery Channel, pela Astana (onde foi companheiro de Sérgio Paulinho), pela Saxo Bank-SunGard e pela Trek-Segafredo.
Para Alberto Contador, os dois contrarrelógios, a abrir e a fechar a Vuelta, não serão decisivos mas serão “cruciais”. “Digo isto porque, cada vez mais habitualmente, vemos que os ciclistas se especializam em medir cada segundo destas provas e conquistar vantagens ou sofrer desvantagens nestas etapas”, detalhou, garantindo que etapas como a da subida do Monte Zoncolan ou do Alto de l’Angliru vão “determinar as opções dos principais favoritos”. “Servem para perceber se outros ciclistas que têm menos favoritismo podem colocar a corrida de pernas para o ar e mudar a classificação geral”, indicou.
Ele que, em 2017 e no penúltimo dia da carreira, venceu precisamente a etapa do Alto de l’Angliru, a penúltima da Vuelta. “Ganhar em casa é algo assombroso, evidentemente. Ganhar em casa, com as tuas pessoas, é uma sensação que não se pode explicar. Recordo muitos momentos importantes mas o mais emotivo foi a minha última subida no Angliru, em 2017, porque os adeptos fizeram com que aquela etapa fosse mágica para mim”, lembra Contador, que defende que o calor pode representar um fator “determinante” na prova espanhola.
“O calor é sempre determinante porque em Espanha, durante estes meses, faz muito calor. Poucas etapas servem para descansar das temperaturas mais elevadas. Ainda assim, creio que o pelotão está habituado porque é o mesmo todos os anos. Como sempre, as etapas de montanha são as mais interessantes, acontece o mesmo com o Giro e o Tour. O pelotão sabe que ganhar ou perder a Vuelta pode ficar decidido precisamente na montanha. É um percurso com muitas armadilhas. Mesmo nas etapas sem montanha, dependendo do lugar, podes cair ou perder tempo e acaba-se tudo para ti”, afirma o antigo ciclista.
Desta vez é que é: Alberto Contador retira-se depois da Vuelta
Sobre a Covid-19, que ainda recentemente afastou três equipas (incluindo o camisola amarela, Daniel Freitas) da Volta a Portugal, Alberto Contador acredita que os protocolos vão tornar-se cada vez mais fáceis de implementar. “Não só no ciclismo como na vida em geral. O normal é que, para qualquer atividade, sejam exigidos testes negativos ou vacinas. Tenho confiança de que, com as vacinas, tudo seja mais fácil dentro de muito pouco tempo”, disse o espanhol, que já esteve infetado e chegou a dar várias entrevistas sobre a gravidade dos sintomas que teve.
Por fim, e num novo salto ao livro das memórias, Contador não consegue escolher apenas uma Grande Volta, até porque “cada uma é especial”. Mas não esconde que, por motivos óbvios, a Vuelta tem um lugar especial no seu coração. “O Tour é a maior montra do mundo, o Giro foi onde maior paixão vi a nível internacional por parte dos adeptos e a Vuelta é extraordinária porque pude competir e ganhar em casa, com a minha gente. O mais bonito é sempre competir no teu país, com as tuas pessoas, e estar consciente do que estás a alcançar ali em tua casa. O ciclismo em Espanha é um dos desportos com mais adeptos. Ganhar no teu país, tendo em conta que é um desporto tão importante, é algo impressionante”, terminou o atleta.