Há 24 anos, a imprensa tabloide foi forçada a fazer uma aparente introspeção. A morte inesperada de Diana, a princesa de Gales, mas também de Dodi Al-Fayed, a 31 de agosto de 1997, na sequência de um acidente de viação quando o casal fugia dos paparazzi, deixou sequelas e gerou controvérsia, com várias publicações a reservar tempo para discutir responsabilidade. Do outro lado do Atlântico, títulos norte-americanos encetaram uma corrida para retirar qualquer anúncio ou conteúdo tabloide que pudesse ser considerado desagradável.

O momento trouxe também, recorda o The Independent, uma avalanche de comunicados de editores e publicações deixando claro que não fariam uso de fotografias do acidente — aliás, duas das maiores redes de supermercado à época nos EUA, Kroger e Winn-Dixie, garantiram que removeriam quaisquer jornais ou revistas com imagens alusivas ao acidente fatal.

Algumas publicações, como a National Enquirer, foram apanhadas desprevenidas. O respetivo número em banca no dia da morte de Diana trazia uma capa em nada abonatória, com o título “Di fica louca por sexo” (em inglês, “Di goes sex-mad”), numa referência à relação com Dodi. Enquanto algumas lojas retiraram as cópias que estavam à venda, alguns exemplares foram arrancados das prateleiras por “indivíduos furiosos”.

Steve Coz, à data editor da publicação, admitiria que a coincidência da capa com a morte da princesa de Gales fora “uma circunstância infeliz”. Num registo diferente, David Perel, editor executivo da publicação, haveria de argumentar que esta “não era uma história negativa” e que, ao invés, mostrava o quão Diana estava “delirantemente feliz pela primeira vez em anos”. “Claro, é uma história sexual e ‘não me canso’ é uma frase descritiva”, diria ainda. “Mas esta mulher estava agora a começar a aproveitar a vida.”

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Certo é que a publicação haveria de emitir um pedido de desculpas pela manchete que ainda estava à venda em alguns locais, admitindo que a mesma estaria a ser substituída por uma edição especial de tributo de 72 páginas.

Pedimos desculpas pela página da Princesa Diana na manchete DI FICA LOUCA POR SEXO, que ainda está nas bancas em alguns locais, atualmente está a ser substituída por uma edição de tributo de 72 páginas: UM ADEUS À PRINCESA QUE TODOS AMÁVAMOS”, lia-se no pedido de desculpas.

A polémica capa do National Enquirer apresentava a data 9 de setembro, assinalou então o The Whasington Post, muito embora tivesse sido impressa antes do acidente que vitimou a mãe dos príncipes Harry e William — Diana tinha apenas 36 anos de idade e estava oficialmente divorciada de Carlos há cerca de um ano. O controverso artigo alegadamente continha citações da própria: “Não me canso”. “Consideramos isto inapropriado à luz da tragédia”, afirmou à data Gregory TenEyck, diretor de relações públicas da Safeway, uma outra rede de supermercados que haveria de recolher os exemplares em banca. “A nação e o mundo estão de luto por ela, e sentimos que os compradores não deveriam ser agredidos por esta manchete.”

Este não foi caso único: também o editor da publicação Globe, outro tabloide vendido em supermercado, emitiu um pedido de desculpas dado o artigo com o título “To Di For”. Em setembro de 1997, a indignação pública contra com os tabloides foi tão intensa, após o acidente que vitimou a mulher que ficaria para sempre conhecida como a princesa do povo, que o futuro destas publicações pareceu, durante algumas semanas, estar em causa.