Nuno Melo tem tudo a postos para ser candidato à liderança do CDS. Num texto publicado esta sexta-feira no Facebook, o eurodeputado não anuncia formalmente a candidatura, mas deixa pouco espaço para segundas interpretações. “Quando o partido se encontra débil, o risco é grande nos combates legislativos. Fazer de conta que os factos não são os que os números revelam, não só não resolve os nossos problemas estratégicos estruturais, como evita que os superemos com coragem”, escreve.
Mesmo elogiando o desempenho dos vários autarcas que concorreram com as cores do CDS, com ou sem coligação, Melo faz uma análise muito crítica dos resultados conseguidos pelo partido nas autárquicas.
“Preocupa-me, no que se refere a candidaturas próprias do CDS, que o partido tenha reduzido a sua representatividade de 134 mil votos em 2017 para apenas 74 mil agora. Preocupa-me que nas coligações lideradas pelo CDS o número de votos tenha baixado de cerca de 80 mil para cerca de 19 mil. Preocupa-me que somadas as listas do CDS e as coligações em que lideramos, a percentagem de votos tenha caído de 4,1% para 1,9%. Preocupa-me que nas grandes cidades onde o CDS concorreu, as nossas votações estejam infelizmente abaixo do Chega e quase a par da IL”, elenca Melo.
Esta, de resto, é uma argumentação já utilizada por Pedro Mota Soares, Adolfo Mesquita Nunes e João Gonçalves Pereira nos últimos dias: sem o guarda-chuva do PSD, o CDS foi quase varrido do mapa e está hoje em linha com o Chega ou, em alguns casos, com a Iniciativa Liberal.
“Preocupa-me se qualquer direção do partido não se preocupar suficientemente com isto. Igualmente preocupante é perceber que, na esmagadora maioria dos casos, esta redução de votos e percentagens do CDS beneficia o partido Chega — e às vezes a Iniciativa Liberal — que está à nossa frente onde diretamente comparamos marca, símbolo e discurso”, insiste.
É especialmente motivo de reflexão a circunstância de o CDS ter tido votações residuais em parcelas muito significativas do território mais urbano, designadamente em muitos dos concelhos mais populosos de Portugal, particularmente importantes em eleições legislativas, numa tendência que se deve reconhecer não é de hoje, mas que se agravou.”
Em julho, em entrevista ao Observador, Nuno Melo já antecipava este cenário. “Vou apresentar moção ao Congresso do CDS e decisão de ser candidato não depende das autárquicas”, dizia então o eurodeputado. A decisão está tomada.
É isso mesmo que o eurodeputado agora lembra. “Muito antes das eleições autárquicas fiz saber que a decisão que tomasse em relação ao próximo Congresso, a que apresentarei uma Moção de Estratégia Global, não dependeria dos resultados destas eleições, antes sim da avaliação que fizesse do estado geral do partido.
Dentro de dias darei a conhecer publicamente esta minha decisão.”
Nos próximos dias, é expectável que o eurodeputado venha a tornar oficial a vontade de se bater contra Francisco Rodrigues dos Santos, que também deverá anunciar esta sexta-feira a sua recandidatura.
A confirmarem-se as intenções do líder democrata-cristão, os dois terão encontro marcado para finais de novembro ou, no limite, início de dezembro, data em que se deve realizar o congresso eletivo do CDS.
Rodrigues dos Santos deve anunciar recandidatura à liderança do CDS