Vêm de locais distintos, vão para cursos diferentes, mas partilham um número em comum: 20 valores. Alice Lopes, Gonçalo Castro, Tiago Araújo e David Ramos, de 18 anos, são os quatro alunos que entraram este ano na Universidade do Porto (UP) com a nota máxima. O sucesso académico livrou-os da típica ansiedade para saber se tinham mesmo sido colocados (apesar de admitirem igualmente algum nervosismo) e deu-lhes a vantagem de escolher qualquer curso que desejassem.

Da Medicina aos cursos de Engenharia na UP, todos já tinham o caminho praticamente definido desde o início do secundário, mas na hora da candidatura não quiseram arriscar e preencheram quase todas as opções. Mesmo sabendo que tinham entrada garantida na primeira. Há uma receita específica para a excelência? “Não”, respondem. Mas há aspetos, como a organização e uma boa gestão do tempo, que ajudam a atingir esse objetivo, sem ter de abdicar de outras atividades. E se houve alguma pressão para terem bons resultados, garantem que veio deles mesmos.

Agora, prestes a começarem as aulas no Ensino Superior, os quatro alunos sabem que o caminho pode ser mais complicado, mas garantem que querem aproveitar tudo aquilo que a vida académica lhes pode dar. Se possível, com as melhores notas (novamente) à mistura.

Alice Lopes, Medicina (ICBAS)

Alice Lopes é de Penafiel e entrou no curso de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – ICBAS (João Bento Soares/Universidade do Porto)

O curso de Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) foi a escolha de Alice Lopes, vinda de Penafiel. Durante o secundário “ainda estava um bocadinho confusa” quanto à decisão, mas depois de uma pesquisa intensa percebeu que era este o curso que encaixava melhor no seu perfil — “apesar de também gostar muito da área de Matemática”. “É uma área onde podemos explorar muito e como sou muito curiosa também veio mesmo a calhar”, refere ao Observador.

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A escolha da Universidade do Porto, acrescenta, foi “natural”, não só pela proximidade mas também pelo reconhecimento dos cursos de medicina. Alice aproveitou o melhor que as explicações lhe davam (era o local onde estudava a maior parte do tempo) e não acredita que haja uma receita específica para o sucesso académico. “O que interessa não é a quantidade de estudo mas sim a qualidade daquilo que estudamos. E também a concentração é fundamental: não podemos estar a estudar e estar distraídos com outra coisa”, explica.

A época de exames era a mais intensa e com um estudo mais organizado, mas também foi necessário ter momentos mais livres. “Estudava um bocadinho e descansava, estudava outro bocadinho e descansava outra vez. Fazia isso todos os dias. Depois, ao fim de semana, já não precisava de ser tão intenso”, explica Alice, acrescentando que nunca se sentiu pressionada por ninguém para tirar boas notas.

Sempre fui eu que defini os meus objetivos e eu é que tinha vontade de tirar a melhor nota possível porque queria entrar em Medicina e sabia que podia entrar com uma nota mais baixa do que a média de 200. Sempre tentei o meu melhor, sempre tentei superar aquilo que tinha feito até ao momento. Nunca me senti pressionada, nem pela minha família nem pelos meus amigos. Sou sempre eu que defino os objetivos e luto para consegui-los”, explica ao Observador.

Quando soube que foi colocada, Alice ficou “feliz como as outras pessoas, apesar de já saber que tinha entrado”. No futuro, e apesar de admitir que tudo pode mudar, ambiciona seguir o caminho da dermatologia ou psiquiatria. “Claro que vou ter de me esforçar mais do que aquilo que tenho feito até agora, mas também estou expectante para conseguir tirar o máximo proveito das outras coisas todas, daquilo que o curso tem para me oferecer e também conhecer mais pessoas que, no fundo, é isso que vamos levar para a vida”, termina.

Gonçalo Castro, Bioengenharia (FEUP)

Gonçalo Castro é de Esmoriz e entrou no curso de Bioengenharia, na Faculdade de Engenharia (João Bento Soares/Universidade do Porto)

No 10.º ano, Gonçalo Castro, de Esmoriz, já tinha a certeza de que queria seguir a área de Bioengenharia — fruto da influência familiar e de amigos (que trabalham na área), mas também por ser um curso que combina três disciplinas que gosta e que não queria perder: biologia, matemática e física. O método para conseguir nota 20, revela, não teve grandes segredos e “o principal é mesmo estar atento nas aulas, tentar aproveitar ao máximo já que se tinha de lá estar“.

Ajudou o facto de Gonçalo ser curioso e ter tido “sempre professores muito bons, que estimulavam os alunos e passavam o gosto do que estavam a fazer”. “Também é importante a organização e não deixarmos as coisas irem passando e deixar-se tudo para o dia seguinte”, refere ainda, acrescentando que “há sempre um bocadinho de pressão” em conseguir boas notas, mas que relativizou essa pressão.

Além dos estudos, Gonçalo tinha também outras atividades extracurriculares, do futsal no 10.º ano às aulas de piano no conservatório e um instituto de inglês pelo meio. Agora, diz, sonha seguir investigação na área de Bioengenharia, especialmente em temas mais ligados à genética, mas admite que pode mudar de ideias entretanto. As expectativas para esta nova etapa “são altas”: “Acho que vou crescer muito enquanto pessoa, porque vou estar em contacto com pessoas diferentes, e também acho que vou ter acesso a um ensino bom, espero que com professores bons”.

Tiago Araújo, Engenharia e Gestão Industrial (FEUP)

Tiago Araújo é da Maia e entrou no curso de Engenharia e Gestão Industrial, na Faculdade de Engenharia (João Bento Soares/Universidade do Porto)

O caminho pensado ainda no ensino básico seria Medicina, mas foi Engenharia e Gestão Industrial, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que Tiago Araújo, vindo da Maia, escolheu para estudar no ensino superior. “Só no secundário é que mudei de ideias e optei por uma engenharia, também por causa do meu gosto por matemática e físico-química, que foi sempre crescendo”, explica ao Observador.

Apesar de ter tirado a nota máxima e de saber que seria colocado logo na primeira escolha, Tiago (e também todos os restantes três alunos nota 20) não arriscou e preencheu outras opções na candidatura. A maior parte foram engenharias, mas houve também a escolha do curso de Medicina “em honra” da vontade que tinha em seguir este percurso no 9.º ano. Um dos aspetos que Tiago destaca no seu estudo é a organização das tarefas e atividades.

Pratiquei voleibol e tive sempre que conciliar muito bem os estudos com o desporto e, portanto, aproveitava ao máximo todos os momentos de estudo para render o máximo possível. Sempre tive que aproveitar esses momentos muito bem. A organização e a gestão do tempo foram cruciais para obter estes resultados”, explica, acrescentando que o desporto acabava por ser uma forma de aliviar o stress e a pressão dos estudos”, explica.

A pressão para as boas notas, refere, não vinha dos outros: “Era sempre vinda de mim mesmo. Sempre tive grande apoio familiar. Em casa os meus pais sempre acompanharam de perto o meu trajeto e nunca me pressionaram. Fui mais eu que me pressionei a mim mesmo para obter os melhores resultados”. Agora vai esperar para ver “o que o curso traz” e quer “aproveitar ao máximo esta experiência, conhecer novas pessoas, novos desafios e também participar em novos projetos”.

David Ramos, Engenharia e Gestão Industrial (FEUP)

David Ramos é do Porto e entrou no curso de Engenharia e Gestão Industrial, na Faculdade de Engenharia (João Bento Soares/Universidade do Porto)

David Ramos vem do Porto e escolheu, à semelhança de Tiago, o curso de Engenharia e Gestão Industrial, na FEUP. Queria um curso que aliasse matemática e físico-química, “mas que complementasse com cadeiras de economia, gestão e marketing”. A escolha da Universidade do Porto, sublinha, foi por referência, tendo em conta que já tinha vindo à Universidade Júnior e que a família também estudou naquela instituição.

Tal como os restantes colegas, David não acredita numa fórmula mágica para ter nota 20, mas sim num conjunto de fatores. “Procurava estar ao máximo atento nas aulas e fazer o que os professores recomendavam. Depois, em casa, ia estudando mais próximo dos testes, mas também ao longo do ano de forma geral. No fundo, foi manter um trabalho de forma ritmada e gerir bem o meu tempo, ou seja, além do estudo arranjar também tempo para hobbies e desporto”, explica, acrescentando que chegou a praticar natação e agora está numa academia de dança.

David admite que se pressionava a si mesmo para conseguir bons resultados, mas o apoio e incentivo dos da família compensava o esforço. Com a entrada no ensino superior, a expectativa é “tirar o máximo partido das aulas e da faculdade, mas também conhecer novos colegas, novos amigos e aproveitar toda a vida além da vida académica que a universidade tem para oferecer”.