“Serena Williams não está no US Open mas o seu treinador está em todo o lado”. Era este o título de uma longa reportagem do The New York Times por altura do último Grand Slam da temporada em Nova Iorque. “Patrick Mouratoglou tornou-se uma estrela maior do que a maioria dos jogadores e também construiu um império. Isso não deixa muito tempo para treinar mas talvez seja assim que mais gosta”, acrescentava a publicação, num perfil onde explicava o relevo que tem vindo a ganhar na última década no ténis.

Nascido em França há 51 anos mas com família grega, Mouratoglou tem na norte-americana a sua principal obra de arte como treinador mas liderou outros nomes grandes da modalidade como Marcos Baghdatis,  Anastasia Pavlyuchenkova, Jérémy Chardy, Gridor Dimitrov e as novas esperanças Coco Gauff e Stefanos Tsitsipas, todos produtos que passaram pela Mouratoglou Tennis Academy que criou há 25 anos. “Ele é o guru”, comentou o jogador grego sobre o técnico, que tem de tal forma um papel influente nas carreiras que toca que o próprio chapéu com que o pai de Coco Gauff tem um M na frente em sua homenagem.

“A minha filosofia é que não sei nada. Conheço sobre a pessoa, conheço sobre o meu jogador. Uma série de treinadores começam logo com o seu método mas para mim existe um método para cada jogador e tenho de descobri-lo”, explicou o treinador que se tornou como tempo numa marca que fez “explodir” esse tal império: além dos 200 alunos que tem na sua academia, muitos a viver, estudar e treinar no sul de França, orienta campos com 4.000 jogadores entre os quais seniores, prepara um produto e-coaching, lidera o Ultimate Tennis Showdown, é acionista do Tennismajors.com e abriu mais centros de treino.

Tudo poderia ter sido diferente na vida de Patrick Mouratoglou, jogador que sonhava ter uma carreira como profissional no ténis, que desistiu da modalidade aos 16 anos também pela falta de apoio dos pais, que se dedicou aos estudos, que foi trabalhar com o pai aos 20 anos e que, seis anos depois, perante a proposta para ser sócio do pai na sua companhia de energias renováveis, acabou por declinar o negócio para seguir o sonho de ser treinador. 25 anos depois, a aposta arriscada tornou-se um sucesso, tanto que é o líder daquilo que se aponta como uma nova era do ténis que não pretender chocar com o tradicional mas sim criar o novo.

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“Falar de ténis é falar da minha paixão, sou fã da modalidades desde os quatro anos e por sorte é hoje a minha vida diária. Acho importante sempre olhar para os números. O que nos dizem os números? Não são coisas boas: a média de idade do nosso fã são 61 anos. Ou seja, não é uma modalidade para novos. Mas como não conseguimos atrair as gerações mais novas e novos fãs? Apareceram as redes sociais, os e-sports, coisas que na minha altura não existiam. Ou seja, a forma de consumir desporto mudou. Depois, o ténis não é algo que seja muito autêntico, toda a gente parece ser muito educada mas não é assim e todos os sabem, os jogos também são muito longos e com várias paragens…”, começou por dizer no Sportstrade da Web Summit.

“Os nossos fãs são aqueles dos anos 70 e 80, mais tradicionais, que odeiam mudanças. Ou seja, e por eles, não podemos mexer muito porque vão ficar desapontados se isso acontecer. Aquilo que queremos é fazer uma nova liga além da tradicional, como o ATP, o WTA e as Finals. Foi essa a ideia com o Ultimate Tennis Showdown. Como não podíamos mexer nas regras para os fãs que já tínhamos, teríamos de ir à procura de uma nova base de fãs, maior e mais nova do que a atual. Há espaço para esta nova liga, que foi vendida por muitos milhões porque consegue ir buscar os mais novos. Em 85% do tempo a bola não está em jogo, não podemos ter tantas quebras e foi por isso que colocámos o limite dos 15 segundos entre pontos, os jogadores falam entre cada quarto, só há um serviço para evitar as sucessões de ases… Precisamos criar uma massa adepta diferente. Os filmes também foram substituídos por séries”, frisou Patrick Mouratoglou.

“Fizemos quatro eventos que contaram com jogadores como o Medvedev, Zverev, Tsitsipas, Berrettini, Thiem, todos grandes jogadores que adoraram a experiência e querem mais. Acreditam nesta liga e estão preparados para jogar nas duas. Conseguimos chegar logo aos 1,5 milhões de fãs com quatro eventos apenas, que é metade do que o ATP tem acumulado, e a média de idade dos nossos fãs é de 40 anos, sendo que a maioria nem era fã de ténis. Agora que demonstrámos o conceito, podemos lançar a liga. Temos recebido muito feed back dos jogadores, que começam a pensar em formas para conseguirem ganhar neste modelo”, atirou, antes de fazer uma análise àquela que é a principal mudança no ténis entre ambos os conceitos.

“Os jogadores e o público podem exprimir-se como quiserem. Nós não queremos que eles sejam role models, queremos que sejam eles próprios. Tenho cinco filhos e não me importo com isso porque se um jogador partir uma raqueta eu posso explicar que aquilo que não se pode fazer. Há quem tenha um comportamento, há quem tenha outro comportamento. Não conseguimos envolver os novos fãs se os jogadores não tiverem a possibilidade de demonstrar também os sentimentos. Nos anos 80 era assim, por exemplo. Não tínhamos personalidades melhores ou piores do que nessa altura, a diferença é que agora não se podem expressar. É preciso fazer uma ligação emocional porque o desporto passa por trazer emoções às pessoas, assim como o público deve expressar-se como faz noutros desportos. Vejam o que acontece no Open da Austrália, com os fãs gregos, suecos… Amo o ténis como ele é mas sei ver o que é necessário”, prosseguiu entre novidades.

“O ATP pode manter tudo como está, pode manter as regras, mas é preciso algo diferente. O nosso conceito vai ser dez eventos, dez jogadores, dez cidades. 90% dos fãs não conhecem 90% dos jogadores, com dez dos melhores como faz a Fórmula 1 estão mais identificados. E queremos só dez eventos para conseguir encaixar com o circuito ATP, à procura de novas pessoas. Nem precisamos de uma grande logística, só de um campo principal e de um de treinos. Por exemplo, o Cairo. O que quer o Cairo mostrar? As suas pirâmides. Então podemos montar um campo onde existam três bancadas e a quarta tenha a vista para as pirâmides. O que mais queremos é trazer os fãs porque o desporto resume-se a duas palavras: paixão e emoção”, concluiu.