A crise política vai ter um impacto na economia – “disso podem ter a certeza“, afirmou esta sexta-feira o presidente da Caixa Geral de Depósitos. Mas, a prazo, tanto Paulo Macedo como os líderes do Millennium BCP, do Novo Banco e do BPI mostram-se confiantes de que irá sair das eleições marcadas para 30 de janeiro “um novo quadro” capaz de contribuir para a “transformação” de que o País precisa. Em democracia, a estabilidade é um fator importante, mas quando não há condições para haver estabilidade, “o valor da vitalidade sobrepõe-se“.

A referência ao valor da “vitalidade” foi feita por Miguel Maya na MoneyConference esta sexta-feira, uma iniciativa do Diário de Notícias, TSF e Dinheiro Vivo. O presidente da comissão executiva do Millennium BCP, normalmente avesso a comentar matérias políticas, desdramatizou o cenário de crise política, em termos semelhantes ao que foi dito por outros banqueiros: Paulo Macedo, da CGD, defendeu que “o que importa é que o novo quadro possa ter capacidade de tomada de decisão”, notando que nos últimos anos “tivemos uma escassez de leis (o que nem sempre é mau) por dificuldade em passar leis”.

Na linha do que tinha dito na véspera, na apresentação de resultados trimestrais, o presidente da Caixa Geral de Depósitos lembrou que há matérias “urgentes” que têm de avançar, desde o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) até aos planos de combate à corrupção”. Paulo Macedo disse esperar, também, que “na próxima legislatura surjam mais medidas que contribuam para a criação de riqueza” em Portugal.

“Esta é uma crise política diferente porque não surgiu devido a questões orçamentais”, diz João Leão

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Francisco Barbeira, administrador do BPI, concordou que “do ponto de vista teórico” é sempre preferível numa economia viver-se uma situação de estabilidade. “Mas penso, claramente, que quando os agentes políticos deixam de ter essa estabilidade, é fundamental ir para soluções como a que temos [eleições antecipadas]”, afirmou. “Penso que a situação que estamos a viver é uma situação necessária para a promessa de uma nova estabilidade”, acrescentou Francisco Barbeira.

Mas será que das próximas eleições irá sair um enquadramento politico-partidário muito diferente? Não importa, disse António Ramalho, presidente do Novo Banco. “Nada fica na mesma, mesmo que os resultados sejam os mesmos“, afirmou o presidente do Novo Banco.

Miguel Maya diz "concordar" com "direito a desligar" mas critica medidas

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Num dos momentos mais animados da conferência, Miguel Maya disse ficar “estupefacto” com a legislação que está neste momento a ser votada, que por exemplo proíbe as empresas de contactar os trabalhadores fora do horário de trabalho, salvo exceções muito restritas.

“Concordo totalmente com o ‘direito a desligar’, a pessoa também tem o direito de não atender”, mas proibir as empresas de contactar os funcionários é o tipo de medidas que apenas leva as empresas a “investir mais em robotização”.

Este é um bom exemplo, disse Miguel Maya, de como “entre uma boa ideia e a execução prática de uma medida existe alguma distância”.

Independentemente da próxima solução política que for encontrada, uma área onde os banqueiros parecem pouco otimistas de que haja mudanças é nos encargos que são cobrados ao setor bancário, começando pelas contribuições especiais ao setor da banca, passando pela contribuição de solidariedade e acabando nos pagamentos para o Fundo de Resolução nacional (que, no caso dos bancos portugueses, acresce ao pagamento para o Fundo de Resolução europeu).

“O Millennium BCP apresentou 60 milhões de resultados e pagámos 60 milhões só para imposto de solidariedade, contribuição especial da banca e Fundo de Resolução (nacional)”, salientou Miguel Maya. Será que o próximo Governo irá alterar algumas destas cobranças, que os banqueiros sublinham que tornam a banca portuguesa menos competitiva no espaço europeu? Paulo Macedo, da CGD, ponderou dar resposta “politicamente correta” mas acabou por optar “pela resposta verdadeira”: “não espero que o Governo altere, devia fazê-lo mas realisticamente não penso que isso vá acontecer”.