Na Europa abundam as fábricas de automóveis e até de motores, sejam eles de combustão ou eléctricos, mas nada de baterias. Isto significa que, até aqui, os fabricantes europeus tinham de depender sobretudo da Coreia do Sul ou a China, países que podem repentinamente desenvolver um sentimento nacionalista que os leve a proteger a indústria e os interesses dos seus conterrâneos. A primeira fábrica europeia de baterias, que arrancou finalmente na Suécia, coloca um ponto final nesta falha estratégica.

Num automóvel eléctrico, além de ser importante a qualidade de construção do veículo, em si, é ainda mais importante a eficiência dos motores e da gestão de energia, bem como a densidade energética das baterias, que têm de ser cada vez mais leves, baratas e capazes de garantir uma maior autonomia entre recargas. Daí que seja necessário que não só os construtores europeus possuam laboratórios para desenvolver e testar novas soluções químicas, como tenham fábricas-piloto para colocar à prova a possibilidade de industrialização. E depois há que deter a propriedade, total ou parcial (idealmente a primeira), das fábricas que produzem a peça mais importante (e cara) dos seus veículos eléctricos.

A Northvolt, criada pelo ex-executivo da Tesla até 2015, Peter Carlsson, instalou a sua primeira fábrica no Velho Continente na Suécia. Começou agora a produzir e já tem clientes para todas as células que consiga gerar, entre as marcas da BMW, Volvo e o Grupo VW. Mas este não será o único local a fabricar acumuladores com a empresa nórdica, uma vez que a Northvolt está igualmente associada à fábrica que a VW quer ter a funcionar em Salzgitter, na Alemanha, em que os suecos deverão ser parceiros técnicos do grupo germânico.

O funcionamento, numa versão simplificada, de uma bateria recarregável de iões de lítio

A estas duas fábricas europeias da Northvolt vai juntar-se uma terceira, a que a Tesla vai instalar na Gigafactory Berlim, com a Mercedes a estar igualmente a planear uma fábrica de baterias na Alemanha, em parceria com os chineses da Farasis. A que é necessário somar a fábrica que a chinesa CATL está a construir na Alemanha, bem como a que a LG já tem a laborar na Polónia. Também a Renault está a equipar-se, instalando fábricas no seu país para produzir células, em parceria com os locais da Verkor e outra com os chineses da Envision. Já a Stellantis juntou-se à Total para criar fábricas em França e na Alemanha, através de uma nova empresa, a ACC, a que a Mercedes se quis aliar, adquirindo 33% da companhia.

A Northvolt é ainda o parceiro em partes iguais da Galp para a construção de uma fábrica para a refinação e tratamento do lítio a extrair das minas do Barroso, consideradas as de maior potencial em território europeu. A Northvolt e a Galp, após um investimento de 700 milhões de euros e a criação de 1500 postos de trabalho, esperam produzir anualmente 35 mil toneladas de hidróxido de lítio, o material essencial para produzir as células necessárias para as baterias de 700.000 veículos eléctricos por ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR