O fim da pandemia “é manifestamente exagerado”, mas com testes e vacina é possível “viver de uma forma muito próxima da normalidade”. Foi a citar Mark Twain que o epidemiologista Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, concluiu a sua intervenção na reunião do Infarmed desta quarta-feira, onde deixou uma mensagem de relativa tranquilidade face ao combate à Covid-19: não é possível erradicar totalmente o vírus, mas, com as respostas de que dispomos atualmente, parece ser possível viver com ele sem taxas de mortalidade e internamentos hospitalares a disparar.

Não há razão nenhuma para continuarmos a raciocinar em termos do número de casos e muito menos a medir a evolução da infeção e os riscos que ela nos coloca contando diariamente os casos como fazíamos até agora”, defendeu o especialista durante a sua apresentação, intitulada “O fim da pandemia? Certezas e incertezas“.

Henrique Barros considera que, à semelhança do que já aconteceu com o vírus SARS, é impossível erradicar totalmente o vírus que provoca a Covid-19 e chegar a um número de casos zero, o que deve levar a uma mudança de estratégia no combate ao vírus. Não especificou, porém, qual deve ser a alternativa, na sua opinião.

Aquilo que o epidemiologista da Universidade do Porto deixou claro é que o vírus continuará a circular, mas já não mata como antes. “Há uma dissociação inequívoca entre o número de casos e a gravidade consequente, ou seja, a transformação da infeção em doença”, reforçou.

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Henrique Barros salientou, simultaneamente, que “temos uma grande capacidade” de identificar infeções, e sublinhou que a maior taxa de positividade da testagem está “inquinada”, porque reflete também as pessoas que realizam mais do que um teste positivo (primeiro um teste rápido e, depois, um PCR que lhes é prescrito). Ou seja, na realidade, a positividade da Ómicron até pode não ser tão alta como parece. “Temos de saber jogar com a vacina, que nos protege, e com os testes”, sugere.

Na prática, o especialista destacou que a tendência é a que a Covid-19 tenha um impacto menor no quotidiano no futuro, uma vez que as novas variantes são menos patogénicas, os serviços de saúde têm melhores tratamentos disponíveis e é possível controlar a infeção.

Ainda assim, Henrique Barros deixa algumas incertezas na equação: não se conhece ainda o risco da variante Ómicron em não-vacinados, não se conhecem detalhadamente os riscos associados à “Covid Longa”, ainda não há certezas sobre as melhores estratégias de isolamento e quarentena, e ainda há dúvidas sobre a melhor resposta a dar às crianças, por exemplo, no que toca à vacinação. “Mas há uma grande esperança: as novas vacinas que certamente irão aparecer”, acrescentou.