Mais de um milhão de pessoas inscreveram-se naquele que é um sorteio insólito. Javieri Milei do partido liberal La Libertad Avanza argentino sorteou esta quarta-feira o seu primeiro salário — 205.596,54 pesos (cerca de 1.720 euros) — como deputado.

Nas praias de Mar del Plata, o economista, admirador de Jair Bolsonaro fez um espetáculo digno de campanha presidencial, apresentou-se como o “leão” e, nas suas primeiras palavras, recusou o rótulo de populista: “Não confunda populismo com devolver o dinheiro a quem o ganhou honestamente”, citado pelo jornal Clarín.

Eu pergunto-me se o que os [políticos argentinos] incomoda é que o dinheiro seja devolvido às pessoas ou que se saiba quanto ganha um político”, atirou contra a “casta política”, à qual diz não pertencer. E porque não doou? “Estaria a doar o dinheiro alheio” e quem o faz são os “altruístas socialistas”.

Ainda antes de dar início ao sorteio de precisamente  — aconteceu quase duas horas depois da hora prevista, já à noite — teceu duras críticas contra o executivo de Alberto Fernández, os “inimigos da pátria, os imbecis”. “Eles castigam os bem-sucedidos e recompensam os que fazem mal e o pior é que fracassam sempre. O sistema injusto é o do socialismo, que é um erro teórico que leva à miséria e à violência”, gritou, enquanto era aplaudido por quem o ouvia.

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Entre o discurso acesso e os aplausos, a Direção Nacional de Proteção de Dados Pessoais abriu uma investigação para apurar se o processo de inscrição para o sorteio violou a lei. Quem denunciou garante que o site não tem informações sobre a política de privacidade dos dados de quem se inscreveu nem o destino que será dado às informações recolhidas.

“Ninguém tem uma arma apontada à cabeça, as pessoas colocam lá os dados voluntariamente. São dados que se fornece numa qualquer rede social”, justificou Javieri, que se considera “filosoficamente anarcocapitalista”, numa entrevista à rádio, citada pelo El País.

Milei pretende repetir o sorteio uma vez por mês. Desta vez, a sorte bateu à porta de Federico Nacarado, de 40 anos. Vai usar o dinheiro para pagar as dívidas, contou o homem ao jornal Clarín. Já o economista vai viver como antes de ser deputado: com os lucros das suas palestras e dos seus livros.