O luge é uma das modalidades mais perigosas dos Jogos Olímpicos de inverno. Ao longo de dezenas de curvas, os atletas seguem deitados, a mais de 120 km/h, de barriga para cima e a guiar a plataforma com movimentos subtis com o corpo. É tão perigoso que, em 1964 e 2010, registaram-se mortes ao longo da competição. O circuito de Pequim, na edição deste ano, é o primeiro a contar com uma volta de 360º. E Elsa Desmond, depois de dois anos enquanto médica na linha da frente da luta contra a Covid-19, achou que era a modalidade ideal.

“É uma pista de gelo, normalmente de um quilómetro, com 12 a 16 curvas. Descemos num trenó, com os pés para a frente e de barriga para cima. Atingimos velocidades entre os 100 e os 140 km/h. É pura adrenalina”, explicou a atleta ao El Mundo. Aos 24 anos, criada em Inglaterra por uma família irlandesa, Elsa Desmond é médica residente no Hospital Universitário de Southend, em Essex, e trabalhou nos serviços Covid-19 ao longo de toda a pandemia. Pediu uma autorização especial para estar em Pequim e será uma das atletas a deslizar em Yanqing, a cerca de 75 quilómetros do centro da capital chinesa.

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Nascida em Buckinghamshire, no sul de Inglaterra, Desmond aproximou-se dos desportos de inverno ainda enquanto adolescente, quando o pai a colocou num acampamento militar do exército britânico. Chegou a frequentar o Esquadrão Aéreo da Universidade de Londres, com o objetivo de seguir a carreira militar, mas acabou por optar pela medicina — sem nunca deixar cair o desporto, no geral, e o luge, em particular.

Há cerca de quatro anos, e embora tenha nacionalidade inglesa, decidiu representar oficialmente a Irlanda, o país dos avós. O problema? A Irlanda não tinha uma federação de luge nem sequer uma federação de desportos de inverno. Elsa Desmond decidiu fundar uma a título pessoal, com o próprio dinheiro, e quando as regulamentações a impediram de ser presidente e atleta em simultâneo colocou o pai como líder máximo do organismo. “Tivemos de abrir uma empresa do nada na Irlanda. Sem nenhum apoio. Deu muito trabalho, nem sabia como é que se faziam as coisas”, disse a atleta, que autofinanciou todo o percurso até aos Jogos Olímpicos para se tornar a primeira mulher a competir pela Irlanda no luge.

Elsa Desmond não está entre as favoritas às medalhas, ao pódio ou sequer ao top 10 em Pequim. Ainda assim, é dona de uma das melhores histórias dos Jogos Olímpicos de inverno: a médica que lutou contra a Covid-19 durante dois anos e que decidiu ir dar uma perninha enquanto porta-estandarte da Irlanda numa das modalidades olímpicas mais perigosas. Contudo, a irlandesa não estará na China por muito tempo — e por bons motivos. Competiu na segunda-feira, vai voltar a competir esta terça-feira e regressa a casa na sexta-feira e ao trabalho no sábado para começar a compensar os turnos que teve de trocar.

“Como disse o fundador dos Jogos Olímpicos modernos, isto não é sobre quem ganha, é sobre a luta até aqui chegar. E esta tem sido a minha luta. Dei tudo para chegar aqui. E acho que cada um tem a sua própria história, cada um tem a sua própria jornada e cada um faz sacrifícios de formas diferentes, tem batalhas diferentes. Tenho outro trabalho, tenho de me autofinanciar, tenho todos estes desafios visíveis. Mas existem outras pessoas que têm desafios que eu não vejo. Acho que o meu desafio é muito óbvio. Mas acho que toda a gente se esforçou ao máximo para estar aqui”, contou a atleta à Fox News.