Cada dia, seu papel. Na terceira etapa, depois de duas tiradas para rolar a decididas ao sprint com vitórias de australianos, João Almeida surgiu como pretendente entre a vitória de Ben O’Connor. Na quarta, a rainha da competição, passou a príncipe quase rei com uma grande vitória na Boí Taüll que o deixou colado à liderança de Nairo Quintana. Na quinta, a primeira que poderia desempatar aquilo que só as classificações nos dias anteriores decidiam, começou como caçador em busca de triunfos ou bonificações que valessem a camisola amarela. Conseguido esse objetivo, a sexta, realizada este sábado na Costa Daurada entre Salou e Cambrils com a distância de 167,6 quilómetros, o português partia como “presa” – podendo ser “caçador”.

Uma bonificação que vale ouro: João Almeida consegue um segundo no sprint intermédio e lidera Volta à Catalunha

“Sinto-me bem, tal como ontem [quinta-feira] e hoje [sexta-feira] de manhã. O sprint[intermédio foi um pouco apertado, fui terceiro e pude ganhar um segundo. Agora, sou o líder da classificação geral mas apenas por um segundo. Penso que o último dia vai fazer as grandes diferenças. Sabíamos que se a fuga fosse alcançada, faríamos um comboio para tentar bonificar no sprint. Cometi alguns erros mas, no final, correu bem. Sábado não será um dia fácil tal como na última etapa. O circuito, que conheço, é duro”, comentou depois da etapa que lhe valeu a liderança da Volta da Catalunha antes da Costa Daurada e de Montjuic.

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Depois de se ter tornado na véspera o oitavo português a ganhar uma etapa na Volta à Catalunha, após João Lourenço (duas), Alberto Raposo, João Roque, José Martins (duas) e Manuel Cardoso, João Almeida tinha dois sprints intermédios. O primeiro ficou dividido entre os três fugitivos do dia; o segundo, com o pelotão a voltar a colar e com a ajuda preciosa do companheiro Rui Costa, deu o segundo de bonificação que lhe permitiu saltar para a liderança. No entanto, nem Nairo Quintana, nem Sergio Higuita prometiam ficar por ali. E esse era o grande desafio do corredor de A-dos-Francos: aguentar a camisola amarela, ao contrário do que aconteceu em 2021 quando só teve a liderança após o curto contrarrelógio de Banyoles. No entanto, e para quem esperava uma etapa tranquila, bastou chegar a montanha de primeira categoria de el Coll de Les Llebres-Mussara para tudo começar a mudar e de forma radical entre os da frente.

Nairo Quintana foi um dos mais de 20 corredores que descolaram, a par de Richard Carapaz, ficando depois apenas Carapaz, Sergio Higuita e Luke Plapp com uma vantagem pequena mas em crescendo em relação a outro grupo onde iam Quintana, Wout Poels, Tobias Halland Johannessen, Carlos Rodríguez ou Jai Hindley, que por sua vez era perseguido por outro grupo com Juan Ayuso, Soler ou Ben O’Connor e onde não estava João Almeida. Tudo a chover, num dia complicado e a 130 quilómetros ainda da chegada. Esses dois grupos acabaram por fundir-se, o português conseguiu de novo colar mas Carapaz e Quintana, num grande trabalho conjunto mesmo sendo de equipas diferentes (Bora e Ineos), deixaram para trás Plapp e foram-se embora, chegando a 70 quilómetros do final já com uma vantagem de três minutos e meio.

Qualquer que fosse o cenário, Carapaz já tinha conseguido três segundos de bonificação e Higuita mais dois no sprint intermédio. Esse era ainda assim o mal menor, perante a necessidade do pelotão de encurtar a diferença com os dois fugitivos que ia fulminar por completo a classificação geral e que a 60 quilómetros da meta pouco tinha baixado dos 3.30 minutos. Apesar de tudo, a 50 quilómetros do final, a desvantagem tinha caído para 2.53. Havia pelo menos esperança de ver o esforço premiado entre o grupo de perseguidores, a esperança que se esfumava quando a distância voltou a aumentar na passagem por um ponto a subir, Marc Soler quebrou e as restantes equipas à exceção da UAE Team Emirates pouco ou nada mexiam.

Depois, mudou. Mudou porque os dois da frente foram cedendo, mudou porque a Team BikeExchange e a Bahrain mexeram. E a 30 quilómetros do final a desvantagem já era de dois minutos, antes de mais um golpe de teatro na descida que voltou a partir tudo: Juan Ayuso saiu sozinho com muito risco para encurtar ainda mais a diferença e aproveitar mais um ponto de bonificação, o grupo de perseguidores partiu, João Almeida ficou para trás e tudo ficava em aberto em termos de classificação geral. Se o mais complicado parecia estar a acontecer depois da primeira subida, o mais “fácil” tornou-se um quebra cabeças na maior descida e o português ficou num grupo onde estava a Team BikeExchange na frente a perseguir o grupo de Quintana, Poels e Rodríguez sabendo que na frente ainda estavam Higuita, Quintana e na perseguição Ayuso.

Quase como um mal menor, João Almeida conseguiu apanhar Quintana a 1,5 quilómetros da meta e ainda tentou lançar os seus ataques enquanto os sul-americanos lutavam pela vitória na etapa que acabou por cair para Carapaz à frente de Higuita antes da chegada do grupo que incluía os antigos dois primeiros da geral e Ayuso, sem que se percebesse o que o jovem espanhol tinha andado a fazer na altura da descida. Kaden Groves liderou o grupo perseguidor na meta, ficando com a última bonificação do dia na chegada.

Com estes resultados, a última etapa em Barcelona com as seis passagens pelo circuito de Montjuic terá Sergio Higuita (Bora) na frente, Richard Carapaz (Ineos) a 16 segundos e João Almeida (Team UAE Emirates) a 52 segundos, no top 3. Seguem-se Nairo Quintana (53s), Juan Ayuso (1.08), Wout Poels (1.10), Ben O’Connor (1.10), Tobias Halland Johannessen (1.13), Torstein Träen (1.27) e Jai Hindley (1.52).