Um grupo de adeptos do Hajduk Split provocou desacatos, esta terça-feira, em Guimarães, no dia antes de a equipa croata defrontar o Vitória. A Polícia de Segurança Pública (PSP) identificou 154 cidadãos por terem arremessado cadeiras e tochas no centro histórico de Guimarães, após uma abordagem feita aos autocarros onde seguiam os adeptos após o “incidente”.

Na conferência de imprensa, o comissário da PSP Vítor Silva explicou que a PSP agiu perante as “denúncias” da população e foi seguindo as indicações à medida que os adeptos se “movimentavam por várias artérias da cidade”. Ao aperceberem-se da presença das autoridades, os adeptos “fugiram” em direção aos autocarro e foram parados pela polícia numa zona considerada segura.

“Numa zona em que era confortável fazer uma abordagem segura e que não pusesse em causa a segurança de terceiros conseguimos abordar em força os cinco autocarros”, contou, frisando que “todos os identificados circulavam nos autocarros”, nomeadamente 23 adeptos portugueses.

O comissário da PSP referiu que os adeptos levaram a cabo uma “movimentação em massa, organizada, no sentido de provocar o caos” e notou que este tipo de grupo “se movimenta de forma organizada entre si, não partilha informação e não chegou através do aeroporto Sá Carneiro”.

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A PSP assegurou ainda que a identificação destes adeptos só foi possível já na cidade de Guimarães, quando a PSP foi informada do sucedido, mas garantiu que a polícia “não tinha falta de efetivos”. “Vamos evoluindo consoante a chegada das pessoas à cidade, aumentamos o efetivo de forma progressiva”, explicou, frisando que neste tipo de eventos há um aumento de efetivo.

No seguimento, Vítor Silva realçou ainda que as autoridades já tinham informado o município sobre a retirada das esplanadas das ruas da cidade.

Câmara quer impedir “arruaceiros” no estádio

O presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança, exigiu que os “arruaceiros” adeptos do Hajduk Split identificados pela PSP sejam impedidos de assistir ao jogo que esta tarde vai ser disputado no D. Afonso Henriques.

Em declarações aos jornalistas, Domingos Bragança disse ainda que a PSP “falhou” ao ter deixado aqueles adeptos à solta na cidade de Guimarães, sublinhando que o Hajduk Split tem uma claque com “fama e má reputação de serem muito conflituosos e arruaceiros”.

“Há cadastro e não houve planeamento, algo falhou. Houve essa falha [de segurança], porque nos planos da PSP devia estar prevista esta possibilidade. Não é só no dia de hoje, porque os adeptos deste clube que nos visita da Croácia tem fama e esta má reputação de serem muito conflituosos e arruaceiros”, referiu o autarca socialista, uma ideia que a própria PSP recusou.

Num comunicado divulgado durante a madrugada desta quarta-feira, o Comando Distrital de Braga da PSP confirma ter recebido queixas sobre “aproximadamente 100 indivíduos” a “causar distúrbios”, incluindo “arremesso de mobiliário de esplanadas e deflagração de artefactos pirotécnicos” por volta das 22h30 de terça-feira. A PSP diz que os adeptos abandonaram depois Guimarães em cinco autocarros com destino ao Porto.

“Após estarem reunidas todas as condições de segurança”, a PSP abordou os autocarros e identificou 122 cidadãos croatas, 23 portugueses e nove adeptos de outras nacionalidades, tendo ainda apreendido “um pote de fumo, uma soqueira e um passa-montanhas”.

Hoteleiros falam em “terror”e criticam falta de vigilância

A Associação Vimaranense de Hotelaria (AVH) criticou a alegada falta de vigilância policial que conduziu a “momentos de terror” no centro histórico de Guimarães, provocados por adeptos do clube de futebol croata Hadjuk Split.

Em comunicado, a AVH deixa ainda “palavras de conforto” aos seus associados, “que, para além dos prejuízos da noite, terão de encerrar durante esta quarta-feira”.

“Registamos, com grande preocupação, que Guimarães, uma cidade pacata e acolhedora, seja invadida por um grupo organizado, sem qualquer tipo de vigilância, tendo o mesmo espalhado e semeado o caos e o medo”, lê-se no comunicado.

Em causa os incidentes registados na noite de terça-feira no centro histórico de Guimarães.

Em comunicado, a Polícia de Segurança Pública (PSP) refere que identificou 154 adeptos do Hadjuk Split por alegadamente terem arremessado cadeiras de esplanadas e deflagrado artefactos pirotécnicos.

Hoje, também em comunicado, a AVH manifesta “solidariedade e apoio a todas as pessoas que vivenciaram momentos de terror”.

“É de lamentar, profundamente, que Portugal, um país civilizado, seja assolado por estes momentos, mais do que seria suposto, por causa de jogos de futebol. O futebol e o desporto não podem servir como desculpas para este tipo de comportamento”, remata a associação.

Imagens mostram pânico nas ruas

Vídeos colocados a circular nas redes sociais mostram adeptos a correr pelas ruas da cidade e a lançar petardos na rua Alfredo Guimarães, entre a praça da Oliveira e o Museu de Alberto Sampaio, ouvindo-se sons de vidros a partir. Em fotografias também publicadas veem-se esplanadas danificadas. À SIC, testemunhas do momento revelaram que várias pessoas se viram obrigadas a fugir para dentro de estabelecimentos para se protegerem.

Para a Polícia de Segurança Pública (PSP), tratou-se, porém, de “um pequeno incidente sem quaisquer consequências ou danos físicos ou patrimoniais, até ao momento”. “Foi uma alteração momentânea de um grupo de adeptos”, salientou fonte da PSP à Lusa.

Paulo César Gonçalves estava na praça da Oliveira, pelas 22h30, e disse à Lusa que começou a ver “pessoas descansadas nas esplanadas” a correrem e depois um grupo de pessoas com “adereços e cachecóis na cara”, de cores azuis, vermelhas e brancas, com “cadeiras na mão e tochas”. “Atiraram-nas e lançaram tudo o que tinham à mão, mas sem entrarem em confronto físico, como a marcarem posição. Depois correram na direção do Museu de Alberto Sampaio [para sul] e passado pouco tempo voltaram. Correram pela rua da Rainha [para oeste]”, descreveu. O cidadão disse ainda que alguns dos proprietários de estabelecimentos naquela área ligaram à PSP, sem obterem qualquer resposta.

O Vitória recebe os croatas esta quarta-feira, pelas 17h00, para a Liga Conferência Europa, mas os últimos dias têm sido de alguma tensão depois de o médio Lukas Grgic, titular pelo Hajduk na primeira mão da terceira pré-eliminatória, disse ter visto “medo nos olhos” dos jogadores vimaranenses.

Na resposta, o treinador da equipa da casa, Moreno, pediu “controlo emocional elevado”. “Medo não existe, nem nunca existirá no nosso grupo. Temos de ter algum controlo e não incendiar as coisas. Um dos segredos será a paixão por ir lá para dentro, mas com controlo emocional elevado. O jogador do Hajduk disse o que tinha a dizer, o que não nos passou ao lado. Nesta casa não há medo, há respeito”, declarou.