O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para uma conversa a três, em Lviv (Ucrânia), com o objetivo de discutir soluções para acabar com a guerra e reforçar o fornecimento de cereais para todo o mundo. As três partes assinaram um acordo neste sentido.

O Presidente turco, depois do sucesso com o desbloqueio da exportação dos cereais ucranianos através do mar Negro, espera poder usar o mesmo modelo para conseguir um acordo que leve ao fim da guerra entre Kiev e Moscovo. As conclusões da reunião desta quinta-feira serão comunicadas por Erdogan ao Presidente russo, Vladimir Putin.

Acredito que é possível relançar as negociações com base nos parâmetros definidos em Istambul em março”, reforçou Erdogan. “Estamos prontos a fornecer todo o tipo de apoio para este objetivo e a desempenhar novamente o papel de facilitador ou mediador.”

Erdogan aproveitou a ocasião para se oferecer oficialmente como mediador das negociações entre a Ucrânia e a Rússia, depois de noticiada uma potencial abertura do lado russo a esta negociação. Mas Zelensky foi muito claro ao dizer que não haverá negociação enquanto militares russos não se retirarem do territórios ucranianos ocupados.

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Os três líderes apelaram a que as tropas russas abandonem a central nuclear de Zaporíjia e desmilitarizem a zona, devido ao risco de um desastre nuclear que poderá afetar não só a Ucrânia, como os países vizinhos e até a Europa central. A Rússia já respondeu que o pedido é inaceitável. Rússia e Ucrânia trocaram, esta quinta-feira, acusações sobre um ataque à estação que provoque uma incidente nuclear de forma a acusar a outra parte.

António Guterres: “Qualquer potencial dano a Zaporíjia é suicídio”

O secretário-geral das Nações Unidas reforçou a necessidade da retirada das forças militares russas da central nuclear de Zaporíjia e das áreas envolventes. Um acidente na estação lançaria contaminantes radioativos até à Europa central. A Rússia, no entanto, considerou o pedido inaceitável.

“Qualquer potencial dano a Zaporíjia é suicídio”, previu António Guterres, durante a conferência de imprensa conjunta com os Presidentes da Ucrânia e da Turquia.

Rússia diz que Ucrânia vai provocar acidente nuclear e acusar o Kremlin. Ucrânia devolve acusação

“Não queremos uma nova Chernobil”, disse o Presidente turco. Erdogan referia-se ao risco de uma nova catástrofe nuclear que poderá resultar da invasão russa da Ucrânia, depois da que ocorreu na central de Chernobil em 1986 — a mais grave de sempre —, quando a Ucrânia ainda integrava a antiga União Soviética.

Zelensky diz que não é possível negociar com a Rússia enquanto continuar a invasão

Volodymyr Zelensky disse que as negociações com a Rússia só poderão ser retomadas quando for resolvida a situação dos prisioneiros de guerra ucranianos, quando a central nuclear de Zaporíjia for desocupada e quando os militares russos saírem dos territórios ucranianos ocupados.

Encontro entre o presidente russo e Volodymyr Zelensky pode estar mais próximo. Erdogan insiste na mediação

A mensagem de Erdogan nesta reunião, tal como já havia feito no encontro com o Presidente russo, Vladimir Putin, é que só será possível acabar com esta guerra na mesa de negociações e ofereceu-se formalmente para servir de mediador nestas negociações.

O líder ucraniano congratula-se com a abertura desta janela a um acordo para a paz, mas disse que do outro lado da janela, do lado russo, estão armas russas prontas para os atacar, de acordo com o relato do repórter da CNN Portugal no local.

Erdogan: “Mantivemo-nos ao lado dos nossos amigos ucranianos e vamos continuar a fazê-lo”

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, confirmou, na conferência de imprensa, que um dos principais focos da reunião com o Presidente ucraniano e o secretário-geral das Nações Unidas foi sobre como acabar com a guerra na Ucrânia, de acordo com a agência de notícias turca Anadolu Ajansi.

Erdogan reforçou que a Turquia defende a integridade territorial e a soberania da Ucrânia sobre o seu território — agora parcialmente ocupado pelos militares russos. Enquanto potencial mediador das negociações diplomáticas, o Presidente turco disse: “Mantivemo-nos ao lado dos nossos amigos ucranianos e vamos continuar a fazê-lo”.

Prisão de Olenivka: “Uma missão de apuramento de factos deverá apurar livremente os factos”, diz Guterres

A repatriação dos escravos de guerra ucranianos a partir da Rússia foi igualmente discutida na reunião a três e destacada por Erdogan na conferência de imprensa conjunta: “A Turquia dá muita importância a este assunto”.

António Guterres também destacou a situação dos prisioneiros de guerra, em particular o ataque à prisão de Olenivka, na região do Donetsk, onde morreram 53 prisioneiros de guerra ucranianos: “O que ali aconteceu é inaceitável. Todos os prisioneiros de guerra são protegidos pelo Direito Internacional Humanitário”. Na altura, Rússia e Ucrânia trocam acusações em relação à responsabilidade do ataque.

Ucrânia acusa Grupo Wagner do ataque a prisão onde morreram 53 prisioneiros

O secretário-geral da ONU vai estabelecer uma missão para apurar o que aconteceu e vai nomear o general Carlos dos Santos Cruz, do Brasil, para liderar a investigação. “O general Santos Cruz é um respeitado oficial com mais de 40 anos de experiência militar e em segurança pública nacional e internacional, inclusive como comandante de operações de paz da ONU”, detalhou António Guterres. De acordo com o secretário-geral, os “termos de referência da missão foram compartilhados com a Ucrânia e com a Federação Russa, assim como a composição da equipa”.

As autoridades norte-americanas acreditam que a Rússia estará a trabalhar para fabricar provas sobre este ataque e, também por isso, o líder da ONU pediu acesso seguro e irrestrito a “pessoas, lugares e provas”, sem qualquer interferência de nenhuma das partes. “Continuaremos agora a trabalhar para obter as garantias necessárias de forma a garantir o acesso seguro a Olenivka e quaisquer outros locais relevantes”.

Simplificando, uma missão de apuramento de factos deverá apurar livremente os factos. A equipa deve ser capaz de recolher e analisar as informações necessárias”, disse Guterres.

Memorando de Istambul: a importância dos cereais ucranianos e fertilizantes russos

O papel do líder turco, junto do Kremlin, para o desbloqueio da exportação dos cereais ucranianos foi elogiada por Volodymyr Zelensky e por António Guterres, que destacaram a importância para combater a atual crise alimentar a nível mundial.

Na nossa reunião trilateral avaliámos a possibilidade de transformar a atmosfera positiva criada pelo Memorando de Istambul [sobre os cereais] em paz duradoura”, disse Erdogan. “Salientámos especialmente que a comunidade internacional deveria assumir mais responsabilidade na revitalização do processo diplomático.”

Desde que o acordo entrou em vigor, em 1 de agosto, 25 navios transportaram cerca de 625.000 toneladas de cereais que estavam retidos nos portos ucranianos, disse o líder turco. “Não só a Ucrânia, mas o mundo inteiro começou a sentir os reflexos positivos do acordo de Istambul, que tornou possível a exportação segura de cereais para os mercados mundiais através do Mar Negro”, afirmou, citado pela agência turca Anadolu.

António Guterres destacou os sinais de estabilização dos mercados globais de alimentos: “Os preços do trigo caíram até 8% após a assinatura dos acordos. O Índice de Preços de Alimentos da FAO [Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação] caiu 9% em julho – a maior queda desde 2008. A maioria das ‘commodities’ alimentares está a ser negociada a preços abaixo dos níveis pré-guerra”.

O secretário-geral da ONU acrescentou: “Desde a invasão russa da Ucrânia, tenho sido claro: não há solução para a crise alimentar global sem garantir acesso global total aos produtos alimentícios da Ucrânia e alimentos e fertilizantes russos. Quero expressar a minha gratidão a todas as partes pelo apoio” na implementação do acordo de exportação de cereais via mar Negro.

Zelensky diz que a visita de Erdogan é “uma poderosa mensagem de apoio” à Ucrânia

No fim da reunião que durou cerca de 40 minutos, Volodymyr Zelensky disse que a visita de Recep Tayyip Erdogan — a primeira desde que a Rússia invadiu a Ucrânia — “é uma poderosa mensagem de apoio”.

Turquia e Ucrânia assinam acordo para reconstrução de infraestruturas

O ministro do Comércio turco, Mehmet Muş, acompanhou o Presidente Erdogan na visita à Ucrânia e assinou um acordo com o ministro das Infraestruturas ucraniano, Oleksandr Kubrakov, para a reconstrução das infraestruturas destruídas pela guerra, noticiou a agência de notícias turca Anadolu Ajansi.

Na lista de infraestruturas a recuperar estão estradas, pontes, ligações de água e eletricidade, hospitais e escolas.

Turquia e Ucrânia assinam acordo para reconstrução de infraestruturas destruídas pela guerra

Turquia e Ucrânia assinam acordo para reconstrução de infraestruturas destruídas pela guerra — Anadolu Ajansi

No encontro bilateral entre a Turquia e a Ucrânia, foram discutidas as possibilidades de melhorar a cooperação e solidariedade entre as duas nações, algo que tem sido objeto de conversa há seis meses, disse o Presidente turco na conferência de imprensa conjunta, em Lviv.

O ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, que acompanhou o Presidente na visita à Ucrânia, esteve reunido com o homólogo ucraniano, Oleksii Reznikov.