Não foi a exibição mais conseguida da temporada, teve o condão de evitar os receios de Sérgio Conceição quando vê a equipa marcar cedo. O triunfo do FC Porto frente ao Desp. Chaves foi o melhor paliativo para a derrota na primeira ronda da Liga dos Campeões em Madrid com o Atlético. Não foi um desaire decisivo, acabou até por ter o técnico dos azuis e brancos a dizer no final que saía com mais certezas em relação ao apuramento para a fase seguinte da competição, mas não deixou de ser um resultado negativo. E só uma vitória na receção ao Club Brugge poderia recolocar os dragões nesse caminho, com essa garantia dos portistas de que pensar que seria a partida mais fácil do grupo era meio caminho andado para o insucesso.

“Uma parte da estratégia começa por percebermos que estamos num jogo de Liga dos Campeões e não diminuirmos um adversário que é muito forte. A estratégia passa exatamente por isso, então não me posso alongar muito. E a tal pressão do resultado, que faz parte do nosso dia a dia, de estar num grande clube… Não precisamos de jogos para ter essa pressão, temos no nosso dia a dia e, se não tivermos, eu crio-a. Faz parte do nosso trabalho e da nossa vida normal. Essa pressão é boa, porque coloca o nosso estado de espírito em alerta, desconfiados do momento, desde que não seja exagerado”, explicara Sérgio Conceição.

“Oportunidades para outros perante as ausências? Quero que os jogadores estejam à disposição, não só os que são titulares no início do jogo, mas também os tais reforços que entram no decorrer do mesmo. Hoje, o mais difícil de fazer é tentar motivar e passar para o jogador uma mentalidade vencedora, a perceção de que um minuto em campo pode ser mais importante do que 89′ e, com isso, perceberem no balneário que, com essa mesma gestão, todos são importantes e terão os seus minutos. É uma questão de momento, de estratégia e com o que está relacionado com esse momento. Por isso queremos sempre os parâmetros físicos estejam no topo. Há várias situações que analisamos e escolhemos o onze em função disso. Se pudesse meter 26 a jogar meteria mas sempre percebendo que, com esta forma de estar que eu quero e que temos demonstrado nos últimos cinco anos, só temos a ganhar”, acrescentou o técnico.

Depois de ter feito algumas poupanças frente aos minhotos, com Pepe, Zaidu ou Evanilson de fora, Sérgio Conceição via-se obrigado a fazer mais do que uma escolha de jogadores para colmatar as baixas de dois elementos fundamentais na estrutura, Otávio (supostamente lesionado) e Taremi (castigado). E grande parte do sucesso passaria pela construção dessas nuances dentro do sistema e do modelo de jogo habituais no FC Porto desde o início da época, um trabalho que em algumas ocasiões parece ficar num plano mais secundário perante o foco na garra e na intensidade dos azuis e brancos à luz do que o técnico foi como atleta. Afinal, só na capacidade de bluff que teve com o médio português começou a ganhar.

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“Sou treinador há 11 anos, ou perto disso, mas não me agarrei a um sistema. Respeito todos os treinadores que começam com determinada forma de jogar e a mantêm mas nós mudamos muito em função das características dos jogadores e da estratégia definida e temos qualidade. No ano passado todos admitiram que, dentro da base que queremos para o nosso jogo, a agressividade e intensidade, o FC Porto tinha também uma qualidade acima da média com bola porque havia jogadores com as características. No nosso primeiro ano no FC Porto, tive de optar por jogar mais direto e foi o que fizemos. Isso é qualidade da equipa técnica e também dos jogadores, claro, mas acredito que se fale mais da minha forma de viver o jogo, apaixonada, de garra, aquele selo que tenho desde os meus tempos de jogador e se olhe menos para a qualidade das equipas. Mas, desde que eu ganhe, por mim está tudo bem”, comentara na conferência.

Era um discurso ciente das dificuldades mas confiante. Uma confiança que não se prolongou em nada para o campo, sendo que a entrada de Otávio no onze (existia a informação de que teria fraturado duas costelas e como tal teria de estar ausente um mês…) passou ao lado perante o bluff que foi a exibição portista. Com vários capítulos, até em pormenores como o facto de Uribe e Eustáqui terem corrido em conjunto quase 26 quilómetros sem saber ao certo para onde estavam a correr. Eles e a equipa, das unidades mais ofensivas que chocaram sempre contra uma parede bem montada da organização contrária aos elementos mais recuados que fizeram do encontro frente ao Club Brugge o pior europeu da era Sérgio Conceição no FC Porto. Lei de Murphy foi pouco porque aquilo que podia correr mal, a equipa fez com que corresse pior.

Os belgas tentaram jogar desde início com os dois resultados possíveis que seriam positivos nas contas da Champions, tendo posses mais longas que muitas vezes rodavam nos três corredores mas por trás e que só em saídas rápidas chegavam ao último terço. O FC Porto não queria perder tempo para fazer o que tinha de assumir, tendo um primeiro sinal de perigo numa recuperação de bola em corredor central de Uribe que deu transição com com remate de Galeno mais na esquerda ao lado (4′) e criando depois uma situação de novo com Galeno pela esquerda com cruzamento sem desvio para a baliza de Evanilson (6′). No entanto, este era o jogo da paciência. Aquela que os portugueses às vezes não tinham, aquela que os belgas nunca perderam. E foi assim, um pouco contra a corrente do jogo, que o Club Brugge inaugurou o marcador.

Na sequência de um pontapé de Diogo Costa em rosca muito pelo ar que caiu um pouco antes do meio-campo, os visitantes conseguiram colocar bola a rápido em Ferrán Jutglá e João Mário carregou o número 9 na área, permitindo que o espanhol que na temporada passada estava no Barcelona marcasse o primeiro golo na Champions (15′). À exceção de um lance em que Otávio, a sofrer faltas mais duras dos belgas que valiam amarelos mas sem se esconder do jogo, combinou com Evanilson para isolar Pepê com Mignolet a travar o remate do brasileiro (23′), a ansiedade começava a apoderar-se do conjunto visitado com alguns erros defensivos à mistura como o que deu a Sowah a possibilidade de rematar com pouco ângulo à figura de Diogo Costa depois de mais um passe errado de João Mário numa zona proibida (30′).

Durante alguns minutos, também com Pepe e Uribe a agarrarem mais no jogo para começar a construir de forma mais segura, o FC Porto conseguiu serenar. Problema? Fosse na procura da profundidade, fosse no jogo curto pelo meio, fosse no envolvimento dos defesas pelos corredores laterais, os dragões não tinham forma de desmanchar a bem organizada equipa belga, ouvindo assobios que iam aumentando de decibéis até ao intervalo com dois bons lances que podiam ter permitido ao Club Brugge ganhar uma outra vantagem, com Vanaken a tentar a meia distância que passou muito perto do poste da baliza portista (40′) e Olsen a obrigar Diogo Costa a defesa apertada após uma diagonal da direita para o meio (42′).

Sérgio Conceição estava obrigado a mexer e muito na equipa, tendo feito logo duas substituições com as entradas de Danny Loader e Toni Martínez para os lugares de João Mário e Evanilson (Pepê desceu para lateral). E até houve uma jogada pelo meio com corte de Sylla quando Otávio ia isolar o avançado espanhol a dar uma ideia de perigo que andou afastada na primeira metade. No entanto, a passividade e os erros no plano individual da defesa azul e branca acabaram por ser pecados mortais para uma equipa que ainda se estava a tentar reerguer: Sowah aumentou a vantagem dos belgas num lance em que ninguém conseguiu tirar a bola a Jutglá e Zaidu chegou depois atrasado (47′), Olsen fez o surpreendente 3-0 na sequência de um lançamento na esquerda que deu cruzamento de Meijer e desvio ao segundo poste do extremo na frente de Zaidu, depois de ver a bola atravessar toda a área sem qualquer corte (52′).

Aquilo que já estava complicado tornou-se quase impossível, com os jogadores do FC Porto a olharem uns para os outros e Sérgio Conceição a ter sinais para o campo de quase impotência perante tantos erros que iam penalizando a equipa. Em paralelo, Otávio não conseguiu aguentar mais as dores que pareceram não deixar atuar a 100% desde início e pediu mesmo para sair, juntando-se a Galeno para as entradas de Veron e Gonçalo Borges. Era a aposta final para conseguir algo mais mas, até ao último quarto de hora, Pepê teve o único sinal de perigo com um remate de pé esquerdo fácil para Mignolet (59′). Nos derradeiros momentos a partida ainda mexeu, com Diogo Costa a evitar o golo de Yaremchuk (77′) e Mignolet a travar o 3-1 de Danny Loader (79′) e Gonçalo Borges (81′) mas o resultado ainda iria ganhar outros contornos, com Onyedika a acertar no poste (86′) e Nusa a fazer o 4-0 final após mais um buraco na defesa portista (89′).