Camilla, a segunda esposa do novo rei da Grã-Bretanha, pode nunca ter conquistado totalmente o público, mas hoje é rainha consorte, um título que poucos teriam considerado concebível há 25 anos. À data da morte de Diana, princesa de Gales, em 1997, a imprensa descreveu-a como sendo “a mulher mais odiada do Reino Unido”, e também alguém que nunca poderia casar-se com Carlos, muito menos tornar-se rainha. Equivocaram-se.

Facto é que as questões de sucessão ao trono, no que respeita a História da monarquia inglesa, têm sido uma constante e nem sempre se escreveram por linhas direitas — ou, no caso que se segue, diretas. Num passado um tanto distante, os reis Guilherme II, Eduardo V, Eduardo VI, e Isabel I viveram e morreram solteiros, causando frenesim nas cortes da época.

Guilherme II (1087-1100)

Filho de Guilherme, o Conquistador, foi o primeiro rei solteiro após a conquista normanda da Inglaterra. Comummente conhecido por Guilherme, o Ruivo, era um homem de estatura pequena, com uma proeminente barriga e tom de pele avermelhado, característica que, provavelmente, deu origem ao seu cognome. Registos frisam que Guilherme gostava de se vestir de acordo com as tendências de moda da época. De temperamento complexo, não se casou nem teve filhos, o que — juntamente com relatos contemporâneos — levou historiadores a especular acerca da sua homossexualidade ou bissexualidade.

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Eduardo V (9 de abril de 1483-26 de junho de 1483)

Em abril de 1483, Eduardo sucedeu ao seu pai, tinha apenas 12 anos. Juntamente com o seu irmão mais novo, Ricardo de Shrewsbury, Duque de Iorque, foi entregue à guarda do tio Ricardo, Duque de Gloucester, que também assumiu a regência. Menos de três meses depois, o Duque fez aprovar no parlamento uma resolução que declarava os filhos de Eduardo IV ilegítimos e, portanto, indignos de ascender ao trono. Mal o usurpou, Ricardo III (1483-1485) mandou encarcerar Eduardo e o seu irmão, Ricardo, na Torre de Londres. Estes nunca mais foram vistos em público e o que lhes sucedeu permanece uma incógnita. É um dos grandes mistérios da História de Inglaterra.

Eduardo VI (1547-1553)

Tinha apenas 15 anos quando adoece e, ao ver o seu fim a aproximar-se, indica para a sua sucessão a filha da duquesa de Suffolk, Jane Grey, de forma a que esta pudesse continuar a linha de governo protestante (ao contrário da sua meia-irmã Maria Tudor, católica). O rei, único filho varão que vingou de Henrique VIII, acabou por morrer a 6 de julho de 1553, e foi enterrado na Abadia de Westminster. Jane Grey acabaria por reinar poucos dias, sendo substituída por Maria Tudor que foi reintegrada na linha sucessória, a par da sua irmã Isabel.

Isabel I (1558-1603)

É, frequentemente, apontada como uma das maiores monarcas da Inglaterra. A última da Casa de Tudor, fortaleceu a Inglaterra e o seu reinado ficou conhecido como a “Idade de Ouro”. Porém, e apesar de ser a última da linhagem Tudor, Isabel nunca se casou. Apelidada de Isabel, A Rainha Virgem, pelo facto de nunca se ter casado e de não ter, por isso, deixado herdeiros, a História confirma pelo menos um caso amoroso com o 1º Conde de Leicester, Robert Dudley, considerado também o grande amor da sua vida.

Por detrás das suas inquestionáveis conquistas e sob uma enorme fachada, Isabel Tudor é uma mulher cuja vida pessoal e íntima deteve pouca ou nenhuma expressão. Historiadores têm-se debatido e especulado, ao longo do tempo, acerca das razões por detrás desta realidade, embora as respostas sejam parcas. Entre os motivos apontados para a sua “solteirice” pode estar uma existência malfadada: o nascimento de uma menina, Isabel, em setembro de 1533, foi uma deceção para o seu pai, o então rei Henrique VIII de Inglaterra (1509-1547), possivelmente a “pior deceção da sua vida”, de acordo com a historiadora Heather Sharnette. A somar estaria o facto da sua mãe, Ana Bolena, ter sido executada dois anos e meio após o seu nascimento e o casamento dos seus pais tenha sido por isso anulado. Consequentemente, Isabel foi declarada ilegítima. Copiosas razões pessoais e políticas podem ter desencadeado em Isabel, desde uma tenra idade, uma vontade mais forte do que ela própria em desafiar séculos de expectativa da História inglesa ao decidir não se casar e ser, assim, uma monarca solteira, um escândalo à época.

(Um caso à parte) Eduardo VIII (20 de janeiro de 1936 – 11 de dezembro de 1936)

Não morreu solteiro, mas reinou solteiro. Mulherengo compulsivo, conta-se que esteve envolvido com várias mulheres mais velhas e casadas, mas permaneceu solteiro até à data da sua abdicação como rei. Causou uma crise constitucional ao propor casamento à socialite americana, Wallis Simpson, divorciada do primeiro marido e em vias de se divorciar do segundo. Os primeiros-ministros do Reino Unido e dos domínios opunham-se ao casamento, sob o argumento de que o povo jamais aceitaria uma mulher divorciada, ainda por cima com dois ex-maridos vivos, como rainha. Eduardo VIII acabou por casar com a americana após a sua abdicação.