Os cuidadores informais estão cansados de serem “uma causa adiada”, disse, esta quinta-feira, à Lusa a vice-presidente da Associação de Cuidadores Informais, depois de uma concentração frente à Assembleia da República contra uma legislação que consideram insuficiente no apoio.

“O objetivo era pelo menos manifestar o nosso desagrado pela não implementação das medidas do estatuto do cuidador informal porque tanto quanto sabemos, até à data, sem ser o subsídio de apoio, não há medidas implementadas”, disse à Lusa, por telefone, Maria Anjos Catapirra.

Segundo a responsável, durante a concentração, que se prolongou entre as 09h00 e as 12h00, foram ouvidos por “alguns deputados” do Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português e partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), o que causou “desagrado”, uma vez que tinham a expectativa de falarem com “pelo menos um político de cada cor política”.

“Continuamos a ser uma causa adiada, no fundo é isto que nós sentimos e queríamos manifestar-nos nesse sentido. Estamos cansados de ser adiados e estamos cansados de tudo porque acabamos por ter uma legislação que não nos dá nenhum apoio”, criticou.

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De acordo com Maria Anjos Catapirra, esse apoio falta “pelo menos nas áreas mais importantes”, dando como exemplo o apoio profissional de saúde de referência, o apoio psicológico ou o descanso do cuidador.

“Nada disto está implementado e nós tivemos uma pandemia e sofremos tanto ou mais do que as outras pessoas todas e ninguém quer saber”, lamentou.

A responsável adiantou que, depois de terem “mandado não sei quantos mails para a secretária de Estado da Inclusão”, que tutela esta matéria, e para ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, “a única coisa” que conseguiram confirmar foi que a regulamentação do estatuto do cuidador informal foi feita em janeiro de 2022, o que alargou esta medida a todo o país continental, depois de ter sido um projeto-piloto.

“Segundo informação do próprio Ministério [do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social] havia 9 mil cuidadores reconhecidos, isto num universo, se quiserem estatisticamente, de 827 mil [pessoas], segundo a segurança social de 180 mil [pessoas]. Quer dizer, isto é ridículo”, criticou.

Na opinião da vice-presidente da Associação de Cuidadores Informais, esta disparidade entre o número estimado de cuidadores informais e o número de pessoas que efetivamente teve direito ao estatuto significa que “o processo é extremamente burocrático” e, por outro lado, que “as pessoas não conhecem o estatuto”.

“Mesmo assim, apesar de serem tão poucos, esses 9 mil, não fazemos ideia de quantos é que foram considerados cuidadores informais principais e quantos é que estão a usufruir do subsídio que acaba por ser irrisório, o valor médio é de 300 euros”, apontou.

Acrescentou que entre todas as medidas de apoio regulamentadas “nenhuma está a ser implementada”, incluindo o descanso do cuidador, sobre o qual “nem sequer saiu portaria para saber os custos”.

Maria Anjos Catapirra disse ainda que a concentração teve apenas sete cuidadores informais, um número que já era esperado, tendo em conta que estas pessoas “não podem sair de casa”.