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“The White Lotus”: estendam o tapete aos ricos, aos ricos execráveis e a mais uma temporada memorável

Este artigo tem mais de 1 ano

O sucesso de 2021 levou a que a minissérie tivesse uma segunda temporada. As personagens são novas, mas o texto mantém a qualidade e resgata a melhor personagem, Tanya. Na HBO Max a 31 de outubro.

A nova temporada estreia esta segunda-feira, 31 de outubro, na HBO Max
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A nova temporada estreia esta segunda-feira, 31 de outubro, na HBO Max

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A nova temporada estreia esta segunda-feira, 31 de outubro, na HBO Max

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[ALERTA SPOILER: se não quer saber nada sobre a nova temporada de “The White Lotus”, não leia este texto]

Imaginem que experimentaram fazer uma receita nova para um grupo pequeno de amigos, num banal sábado à noite. Toda a gente sabe que não se pode libertar o Jamie Oliver que há em nós quando a ocasião é especial — se a coisa corre mal, nunca mais ninguém se esquecerá, e muito menos nos deixará esquecer.

Voltando ao jantar, o prato está na mesa e os amigos vão provando. E repetindo. E elogiando. E vocês vão dizendo “não foi nada de especial, tive sorte, até saiu bem”. A palavra vai-se espalhando, vocês vão repetindo a receita para mais e mais pessoas, já sem qualquer dúvida em relação ao feedback que vão ter. É, até agora, de longe, o vosso melhor prato. Só que um dia lembram-se que giro, giro, era acrescentar outro ingrediente. E, a partir daqui, há três cenários possíveis: ou a nova versão será aquele arrependimento que vocês gostariam de apagar, ou será como descobrir maços de notas debaixo do soalho de vossa casa, ou será igualmente bom mas nunca tão impressionante como a primeira versão.

O que é que isto interessa para aqui? A primeira temporada de “The White Lotus” é o vosso prato sensação e a segunda é uma versão com um twist. Não é melhor, porque já não terá o efeito surpresa, mas é igualmente boa: de fácil mastigação e digestão.

Devia ter sido só uma minissérie, quando se instalou timidamente na HBO Max no verão de 2021. Bem estruturada, bem escrita, satírica e sarcástica, “The White Lotus”, foi passando de boca em boca, entre espectadores e críticos, e o veredito foi unânime: Mike White (argumentista de “Escola de Rock” e “Cracking Up”) cozinhou num resort do Havai a melhor história da sua carreira.

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[O trailer da segunda temporada de “The White Lotus”:]

Perante o sucesso — e cinco Emmys –, a minissérie virou série e a segunda temporada fica disponível na HBO Max esta segunda-feira, 31 de outubro. A história repete-se: tudo começa com um cadáver, cuja identidade só conheceremos lá mais para o final. A narrativa recua então uma semana para nos ser apresentado um grupo de hóspedes que chegam ao resort exclusivo, desta vez na Sicília, Itália. Não esperem ver a continuação dos arcos narrativos do primeiro ano e, sinceramente, ainda bem. Estar a mexer no que funcionou na perfeição seria estragar. A exceção vai para Tanya (a incrível Jennifer Coolidge), uma espécie de cliente premium que corre todos os White Lotus do mundo. Entre ela e as restantes personagens, a única pergunta que se levanta é: qual deles vai morrer antes do final da semana de férias?

A resposta, também não a sei (dos sete episódios, foram disponibilizados cinco aos jornalistas, deixando-nos ali no ponto de ebulição, quando a tensão está ao rubro e tudo pode acontecer), mas sei algumas coisas sobre estes novos intervenientes que podem ajudar-nos a atirar palpites para o ar (possivelmente todos ao lado do que vai realmente acontecer). Desta vez, os núcleos interagem mais do que na primeira temporada mas continuam a ter dinâmicas muito próprias e isoladas. Por isso, é mais fácil analisá-los separadamente.

Os ricos snob e os amigos atrelados

Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy) são o casal perfeito. Lindos, com dinheiro, dois filhos pequenos, e tão apaixonados que nunca se largam. Ethan (Will Sharpe) era o colega geek de Cameron nos tempos da faculdade que passou de totó a “amigo do peito que pode vir a dar muito jeito” a partir do momento em que encaixou uns milhões com a venda da sua empresa. Este é casado com Harper (Aubrey Plaza), uma advogada do universo corporativo, cínica e sem paciência para futilidades. Só que ela está ali, num luxuoso resort na Sicília, a convite do primeiro casal e tem de fingir não ficar chocada quando os ouve dizer que não veem notícias (“qual é o objetivo?”) e que nem se lembram se foram ou não votar. As conversas são hilariantes de tão estapafúrdias. As expressões faciais de Harper deviam transformar-se em memes, porque ela somos todos nós quando o nosso cérebro morre um bocadinho ao ouvirmos absurdos do género.

Porém, nada aqui é superficial. Daphne, a dondoca que não trabalha e gasta demasiado dinheiro, que está sempre alegre e veste roupas coloridas, faz-se de tontinha mas, ao longo dos episódios, vai revelando ser tudo menos isso. É uma riquinha com muitos problemas e comportamentos fora do normal, o comum na elite de classe média alta de “The White Lotus”. A dinâmica entre os casais vai ficando cada vez mais estranha, muito porque nenhum deles tem relações saudáveis ou funcionais, e a partir daqui a minha boca tem de calar-se para sempre (ou pelo menos até ao final da temporada).

Antes do regresso, o elenco da série explica: o que é que “White Lotus” tem?

Três gerações Di Grasso

Avô, pai e neto vão até à Sicília em busca das raízes da família. Não é bonito? Então agora, deixem-me reformular: avô rebarbado, pai viciado em sexo que contrata prostitutas para as férias e neto choninhas vão até à Sicília em busca das raízes da família. Não é ainda mais bonito? Claro que é. E também interessante e genuinamente divertido. Bert (F. Murray Abraham) acha que atirar piropos a todas as mulheres que passam é um elogio, sendo apenas protagonista de vergonha alheia. Ainda assim, tem dos melhores diálogos da temporada. “Porque é que uma mulher haveria de querer olhar para o material de um velho”, pergunta-lhe o neto. “Também não é como se isto alguma vez tivesse sido bonito. É um pénis, não um pôr do sol”, diz Bert.

Albie, devidamente enojado com o comportamento do avô e muito pouco impressionado com a forma como os homens da família interagem com mulheres, cai no extremo oposto. É o queridinho, o rapaz que está ali para guardar a última espreguiçadeira ou para emprestar um casaco quando está frio, ótimo para amigo, péssimo para namorado. Ninguém quer um homem sem chama e isso percebe Portia (Haley Lu Richardson), a assistente de Tanya com quem ele cria uma amizade, rapidamente.

Dom (Michael Imperioli, ou aquele que será sempre conhecido como o Christopher Moltisanti de “Os Sopranos”) anda para ali numa espécie de alucinação só sua, como se estivesse sob o efeito de drogas. A mulher e a filha não quiseram viajar, fartas das sucessivas infidelidades e sem paciência para as férias de fachada, ficaram em Los Angeles, e Dom luta contra os seus demónios, embora com muito pouco afinco. Ele sabe que tem de estar sozinho, longe de mulheres, longe de sexo e de excessos, mas não consegue, é uma compulsão. Até ao quinto episódio, não conseguimos adivinhar para que lado vai cair – mas é quase certo que a personagem irá explodir de alguma forma. Para já, é só bom ver Imperioli de novo no ecrã.

A prostituta e a amiga

Na primeira temporada tivemos duas adolescentes que liam obras intelectualóides à beira da piscina. Desta vez temos duas jovens muito diferentes: Lucia (Simona Tabasco) parece (e sublinho “parece”) levar a tarefa de dormir com homens por dinheiro com leveza. Atrelada anda a amiga Mia (Beatrice Grannò), que só quer ser cantora e está disposta a qualquer coisa, até a uma cena hilariante com o músico do hotel na capela lá do sítio, para atingir os seus objetivos. Em muitos momentos são elas que fazem a ligação entre os vários núcleos, um elemento cómico que nem sempre tem assim tanta piada – as próprias reconhecem, a dada altura, que estão cansadas de andar a saltar de cama em cama.

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Valentina e os funcionários

Aquele que começou por ser um dos pontos fortes de “The White Lotus” passou para segundo plano este ano. Os funcionários são personagens pouco relevantes na narrativa. Apenas Valentina, a gerente, sobressai. Não é nenhum Armond, não se iludam. Não vai entrar numa espiral de drogas e comportamentos ilícitos, mas é completamente inconveniente a toda a hora. Assim que recebe os hóspedes, à saída do barco, consegue dizer a Bert: “Incrível que tenha vindo de Los Angeles até aqui. É bastante velho”. Também diz a Cameron, chegado do aeroporto sem bagagem: “Esperemos que a sua mala chegue… se acreditar em milagres”. Mas a melhor interação é com Tanya que, vestida de rosa da cabeça aos pés, pede a Valentina: “Adivinhe quem eu sou”. A resposta: “A porquinha Peppa?” A personagem podia ter mais protagonismo, merecia-o.

A egoísta/nonsense/mal-amada Tanya

Tanya chega com 37 malões e uma assistente, Portia, pronta para uma semana de sonho com o seu agora marido — lembram-se de Greg, o homem que estava a morrer que ela conheceu no resort do Havai? Pelo que dá para ver, não está assim tão moribundo. Agora são casados e o passatempo preferido de Greg parece ser reparar no que a mulher come, desdenhar dos gostos dela, ostentar sempre um ar enfadado na cara. Já o passatempo preferido de Tanya é arrastar-se pela sua solidão e tristeza, sobretudo quando o marido a abandona em Itália para regressar aos EUA e ela é obrigada a resgatar a assistente que tinha começado por obrigar a ficar no quarto a semana toda (estratégia para que o aborrecido do marido não tivesse mais um motivo para refilar).

Tanya está numa fase mais negra, menos tontinha, e só mostra que a personagem é muito mais que o bobo da corte desta série – aliás, se não fosse verdade, a interpretação de Jennifer Coolidge não teria alcançado o Emmy de Melhor Atriz. As coisas animam um bocadinho mais para Tanya quando aparece outro ricalhaço, Quentin (Tom Hollander), com quem cria uma amizade instantânea. “É bom quando percebemos que alguém tem dinheiro. Não precisamos de nos preocupar com a possibilidade de quererem o nosso”, diz sábia Tanya. No entanto, estamos em “The White Lotus” e este arco narrativo tinha de ter reservado algo sinistro e constrangedor.

Está tudo em aberto para os dois últimos episódios. Não é possível prever se o final será melhor ou pior do que a primeira temporada, mas também não é necessário. Mike White já nos encheu a barriga com mais uma grande refeição, com uma fotografia cuidada, diálogos ótimos e personagens complexas. Fica só a faltar a sobremesa — e não há-de ser, certamente, um aborrecido doce da casa.

 
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