O PCP defendeu esta sexta-feira que a operação da Polícia Judiciária (PJ) na região de Beja contra uma rede que explorava trabalhadores imigrantes “só poderá ser efetiva” e “coerente” se também proprietários e empresas envolvidas forem condenados.

Em comunicado, a Direção Regional do Alentejo (DRA) do PCP considerou “positiva” a operação policial da PJ que decorreu na quarta-feira, “visando as redes de imigração ilegal e de tráfico de seres humanos”.

Mas, frisou, esta “só poderá ser efetiva, coerente e consequente se forem cabalmente identificados, acusados e condenados todos aqueles, designadamente proprietários e empresas de nacionalidade portuguesa e estrangeira, que enriquecem à custa deste tipo de contratações criminosas”.

Para os comunistas, “é absolutamente imprescindível que a investigação aprofunde todo o ciclo de angariação, tráfico e contratação direta ou indireta, pois nunca existiriam redes ilegais de imigração e de trabalho escravo se não houvesse empresas a alimentar-se desse criminoso negócio milionário”.

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No comunicado, a DRA disse que a operação, com 35 detidos pertencentes a uma organização criminosa que explorava trabalhadores imigrantes, “apenas peca por tardia”.

PJ detém 35 pessoas por suspeita de tráfico humano em rede que explorava centenas de imigrantes no Alentejo

Perante “os indícios existentes e a situação nas explorações agrícolas da região, há muito que se exigia uma ação determinada, célere e consequente do Governo e das autoridades competentes em defesa dos direitos laborais, sociais e humanos destes trabalhadores, independentemente da sua naturalidade ou nacionalidade”, disse o PCP.

O que foi agora constatado pelas autoridades, sublinhou, apenas corresponde a uma parte de inúmeras situações de sobre-exploração e negação de direitos laborais e sociais a milhares de trabalhadores na região.

Segundo o partido, o Governo “está longe de esgotar os meios de que dispõe para fiscalizar, prevenir e combater estes crimes” e é preciso que as diversas autoridades com competência nestas matérias intervenham “de forma permanente, para pôr cobro a autênticas redes organizadas e máfias e para procurar criar condições de acolhimento, integração, habitabilidade, regularização e garantia de vínculos laborais” para todos os trabalhadores.

Aludindo ao alargamento dos perímetros de rega de Alqueva e do Mira ou à possível construção de infraestruturas há muito reclamadas pelas populações do Alentejo, o PCP alertou que “é expectável que as necessidades de mão-de-obra venham a aumentar”.

Por isso, defendeu, é “necessário que as diversas estruturas da Administração Central do Estado tomem medidas que, de forma articulada e coordenada, previnam desde já novos crimes laborais e sociais e assegurem condições dignas de acolhimento, habitabilidade e integração dos milhares de trabalhadores destas obras”.

Para combater “as razões de fundo deste flagelo social é necessário e urgente investir seriamente na produção agropecuária, valorizar os salários dos trabalhadores agrícolas, combater a precariedade e promover a estabilidade no emprego, a par com outras medidas estruturais de combate à desertificação do Alentejo”, sugeriram os comunistas.