A Ordem dos Médicos chumbou esta segunda-feira a criação da especialidade de Medicina de Urgência, com 51 votos contra e 21 a favor. A medida parecia até agora reunir consenso, contando com o apoio do próprio Bastonário da Ordem, mas acaba agora por ser rejeitada.

O debate sobre a possível nova especialidade colhia o apoio de antigos e atuais diretores de serviços de urgência que, na semana passada, defenderam que esta é indispensável face às “enormes insuficiências” da rede hospitalar. Em sentido inverso, os médicos de Medicina Interna manifestaram-se contra, por considerarem o timing desadequado.

À Lusa, a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Lélita Santos, disse que, “neste momento, não é oportuno [a criação da nova especialidade] e que há outras alterações e medidas estruturais que devem ser tomadas antes de se analisar a necessidade dessa especialidade”.

Num manifesto tornado público na semana passada, cinquenta e seis antigos e atuais diretores de serviços de urgência afirmaram:

Numa altura em que é bem claro para a classe médica, bem como para os cidadãos, a existência de enormes insuficiências na entrega de cuidados de urgência na nossa rede hospitalar, torna-se indispensável dar este passo real na prossecução da melhoria desses cuidados”, refere o documento a que a agência Lusa teve acesso.

Os signatários lembram que esta é uma especialidade com mais de 50 anos “presente na esmagadora maioria dos países da Europa, nos quais constitui um dos pilares fundamentais dos cuidados médicos”, mas que só agora os médicos portugueses “vão decidir da bondade da sua criação”.

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Os diretores de serviços e de departamentos de urgência dizem no manifesto que são chamados a assumir a responsabilidade de coordenação, mas com “capacidade interventiva limitada por ausência de equipa própria, gerindo a atividade deste serviço na articulação de escalas e mediação de conflitos entre serviços e departamentos, o que se torna profundamente redutor”.

Em julho, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, defendeu a criação desta especialidade, mas ressalvou que não resolve os problemas que estão a ocorrer em algumas urgências de hospitais do SNS.

Bastonário dos Médicos defende criação da especialidade de Medicina de Urgência

Numa reação por escrito à Lusa, o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, salientou que a criação da especialidade de Medicina de Urgência constitui “um eixo fundamental na estratégia delineada” para esta área.