Quedas de árvores e inundações marcam o trabalho da Proteção Civil no Norte do país, na primeira noite e manhã do novo ano. Viana do Castelo é o distrito “mais castigado” do Norte, mas não é o único a registar ocorrências.

Neste momento, a circulação de comboios faz-se com constrangimentos entre Souselas e Pampilhosa, na Linha do Norte, e está suspensa entre Marco e Régua, na Linha do Douro, por danos causados pelo mau tempo, informou a Infraestruturas de Portugal (IP). Na Linha do Norte, “por razões de segurança, e face à instabilidade do talude de aterro ao quilómetro 228,150 (concelho de Coimbra), a circulação ferroviária efetua-se em via única entre as duas estações”, Souselas e Pampilhosa, detalha a empresa em comunicado.

As restrições, “em resultado das condições climatéricas particularmente adversas que se têm feito sentir”, vão manter-se “até que esteja concluída a intervenção de estabilização da infraestrutura”. A IP prevê que os constrangimentos à circulação ferroviária na Linha do Norte possam prolongar-se “durante alguns dias”, apesar das ações já implementadas, “dada a elevada complexidade da intervenção a realizar”.

Esta informação será atualizada durante o dia de amanhã [segunda-feira]”, acrescenta a empresa.

Também devido às condições climatéricas, está suspensa a circulação de comboios na Linha do Douro entre Marco e Régua, mas aqui a IP prevê que ainda hoje a circulação seja retomada. “Decorrem trabalhos para reposição das condições operacionais”, informa a IP no comunicado. A empresa indica ainda que está “a assegurar a monitorização permanente das condições da infraestrutura e a avaliar opções técnicas para o restabelecimento da circulação em ambas as vias no mais curto espaço de tempo”.

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Muralha da Fortaleza de Valença sofreu nova derrocada

Na tarde de domingo, parte da muralha da Fortaleza de Valença cedeu. Horas depois, sofreu uma nova derrocada. O local, classificado como Monumento Nacional desde 1928, vai ser visitado na segunda-feira pela ministra da Coesão e por técnicos da Direção Geral de Cultura do norte.

“Houve mais uma derrocada na continuidade da [parte] que já tinha caído [durante a manhã de hoje]”, relatou o presidente da Câmara de Valença, José Manuel Carpinteira, em declarações à Lusa, salientando ser “bastante grande” o troço da muralha afetado.

A possibilidade de nova derrocada já tinha sido antecipada pelas autoridades quando, o responsável da Proteção Civil local, Eduardo Afonso, referiu existir “mais uma frente em risco”. A zona foi, entretanto, delimitada para prevenir que as pessoas se aproximem do local que apresenta ainda algumas fissuras, segundo referiu o autarca.

A parte da fortaleza que caiu fica na zona da Coroada, junto ao parque de estacionamento do município de Valença, no distrito de Viana do Castelo. “Esta fortaleza é nosso ex-líbris. É o cartão-de-visita de Valença. Aliás, está a ser preparada uma candidatura a Património da Humanidade”, recordou o autarca, apelando à população para que não se dirija à fortaleza e cumpra os conselhos de segurança da Proteção Civil.

Viana do Castelo é o distrito “mais castigado” do Norte

Com um registo de 70 ocorrências devido a precipitação intensa, 51 delas registadas a partir das 08h00, Viana do Castelo está a sentir o pico do mau tempo esta manhã. Fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) indicou à agência Lusa que aquele distrito minhoto “foi o mais castigado esta noite e durante a manhã” devido a um “volume elevado de ocorrências” relacionadas com o mau tempo.

Desde quedas de árvores a inundações em zonas urbanas, alertas para carros arrastados pela água ou pedidos de limpeza de vias, cerca das 10h30, estas ocorrências mobilizavam nos vários concelhos do distrito de Viana do Castelo 82 operacionais, auxiliados por 35 veículos.

A mesma fonte destacou a queda de um muro em Cerveira, mas frisou a ausência de registo para vítimas. “Alguns danos patrimoniais talvez, mas felizmente mais nada. Mas não estão a ter mãos a medir, não”, referiu a fonte, num contacto da Lusa para a sede a ANEPC devido à dificuldade em estabelecer contacto diretamente com o Comando Distrital de Viana o Castelo.

“É como lhe digo: eles nem atender conseguem. A chuva é tanta, mas não reportaram ninguém em perigo”, acrescentou o responsável da ANEPC.

Descrito como “o mais castigado” do Norte o país, o distrito de Viana do Castelo deixou o aviso vermelho por precipitação às 15h00 deste domingo, mantendo-se agora sob aviso amarelo até às 18h00. Numa atualização, o IPMA passou também os distritos do Porto, Vila Real, Aveiro e Braga para aviso amarelo devido à precipitação.

Vários distritos do Norte passam de aviso vermelho a amarelo às 15h00

Autarcas do distrito de Viana do Castelo ponderam pedir ajuda à tutela

Vários autarcas do distrito de Viana do Castelo ponderam pedir ajuda ao Governo devido aos estragos causados pelo mau tempo que já provocou corte de estradas, entre outras ocorrências, referiram à agência Lusa.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, Rui Teixeira, estimou que os prejuízos devido ao mau tempo “serão avultados”, razão pela qual pondera contactar o Ministério da Administração Interna (MAI) de forma a solicitar apoio. Neste concelho, o autarca apontou para a existência de vários taludes que caíram, nomeadamente nas Estradas Nacionais 13 e 301 que estão, acrescentou, “condicionadas”. Casas e garagens inundadas, bem como uma inundação no Lar da Santa Casa de Misericórdia foram outras das ocorrências reportadas pelo autarca.

O presidente da Câmara de Valença, concelho onde caiu parte da muralha de uma fortaleza que é considerada o “cartão-de-visita” da cidade, pediu à população para “se resguardar” e avançou que pretende já na segunda-feira pedir ajuda à Direção-Geral de Cultura do Norte. José Manuel Carpinteira disse estimar que a autarquia venha a necessitar de apoios para a reconstrução da fortaleza que está classificada como Monumento Nacional desde 1928.

Até está em preparação uma candidatura a Património da Humanidade”, acrescentou o autarca.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Caminha, Rui Lages, também avançou que pondera contactar “muito em breve” a ministra da Coesão Territorial para “dar conta dos danos” registados com o mau tempo que ainda se faz sentir no concelho e no distrito, mas que teve o seu pico às 07h00. “Foram reportadas diversas ocorrências na via pública e em espaços particulares. Os recursos humanos são sempre curtos. Temos grande parte do concelho submerso com estradas a aluir e a população está assustada”, disse o autarca.

Rui Lages estima que sejam precisas “pelo menos duas semanas” para avaliar e reparar os danos e alertou para o facto de os solos estarem muito saturados devido às chuvas intensas das últimas semanas. “Os terrenos não suportaram mais absorção. Tínhamos tudo limpo, mas nada faria imaginar esta situação”, completou.

E basta andar cerca de 50 quilómetros para encontrar novo relato de danos junto do presidente da Câmara de Ponte de Lima, Vasco Ferraz, que, além de estradas cortadas e inundações em caves, destacou o levantamento do piso da Avenida dos Plátanos e acompanhou os colegas autarcas da região no apelo ao Governo central.

“Tem de haver um princípio de igualdade para todo o território nacional. Não podemos considerar apenas os prejuízos em grandes cidades ou com grandes ocorrências. Iremos reportar isto tudo, seja um piso ou outra coisa qualquer, ao MAI como não poderia deixar de ser”, disse.

Num dia em que os contactos com os bombeiros locais, bem como com o Comando Distrital de Operações de Socorro foi difícil devido ao grande volume de pedidos de ajuda e ao empenho de meios no terreno, em Viana do Castelo, a Lusa recolheu, ainda, o relato de um dos donos da quinta Santoinho, que alertou para o perigo de inundação na zona onde fica localizado este espaço que promove arraiais.

“A água a continuar assim vai passar o muro [de contenção] e pôr em perigo a quinta, o restaurante e as casas esta zona. A câmara conhece esta situação e tem e fazer alguma coisa. A água devia atravessar um viaduto, mas foi tapada por um aterro. Se tivesse arraial hoje teria de o fazer de barco”, disse Valdemar Cunha.

O responsável avançou à Lusa que terá uma reunião urgente na autarquia de Viana do Castelo na segunda-feira. A agência Lusa contactou a Câmara de Viana o Castelo, entre outras autarquias do distrito, bem com equipas de Proteção Civil locais e bombeiros da região, mas sem sucesso até ao momento.

Inundações na Maia e A28 reaberta após ter estado cortada em ambos os sentidos entre as saídas de Vila do Conde e Póvoa de Varzim

Em Nogueira da Maia, na Maia, ruas e casas ficaram inundadas, uma viatura ficou submersa e regista-se também a queda de dois muros. O Jornal de Notícias dá conta de que Mário Nuno Neves, vereador da Câmara da Maia, esteve no local e falou com os residentes.

Por sua vez, o mau tempo registado este domingo levou também ao corte da A28, em ambos os sentidos, entre as saídas de Vila do Conde e Póvoa de Varzim devido à formação de lençóis de água no piso. O Observador confirmou junto da unidade de Destacamento do Trânsito do Porto que a A28 foi reaberta por volta das 17h36.

A Avenida Gustavo Eiffel, no Porto, que também tinha estado fechada ao trânsito entre a Ribeira e o Freixa devido a uma inundação, foi reaberta. O comandante dos Bombeiros Sapadores do Porto, Carlos Marques, confirmou a reabertura desta via, bem como de outras, nomeadamente do túnel do Campo Alegre: “Foi tudo reaberto. Ainda estamos a dar resposta a algumas ocorrências, mas todas as vias estão transitáveis. Algumas ficaram danificadas, mas estão sinalizadas”. Carlos Marques mostrou-se otimista quanto aos próximos dias e considera que é esperada uma “melhoria significativa das condições meteorológicas”.

Aveiro teve 11 ocorrências durante a noite

Em Bragança e Braga não foi possível contabilizar esta manhã o número de ocorrências, enquanto Aveiro reportou à Lusa que da meia-noite até às 08h00 foram 11 as ocorrências devido ao mau tempo, entre as quais inundações e desabamentos.

“Sem vítimas, nem dados de monta”, disse o operador do Comando Distrital de Aveiro. Já em Vila Real destaque para uma queda de árvore em Fontelo, e um movimento de massas com pedras na via pública em Nogueira.

Porto com “noite calminha”

Quanto ao Porto, fonte do Comando Sub-regional de Emergência e Proteção Civil da Área Metropolitana referiu à Lusa que foram “poucas” as ocorrências ligadas a intempérie e que a noite “calminha” ficou marcada por quedas de árvores e pequenos incêndios em caixotes do lixo.

Fonte dos Bombeiros Sapadores do Porto comunicou quatro ocorrências na madrugada de sábado para hoje: dois reconhecimentos por infiltração, um desentupimento e uma queda de árvore.

As perspetivas e mau tempo levaram mesmo vários municípios do Norte do país, como Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Ponte de Lima, Guimarães, entre outros, a cancelaram os festejos de fim de ano, devido ao agravamento das condições meteorológicas.

Porto, Gaia, Matosinhos e Viseu cancelam festejos de Ano Novo devido ao mau tempo. Empresários não temem impacto financeiro

A ANEPC tem quatro estados de alerta especial (azul, amarelo, laranja e vermelho), que determinam o reforço da monitorização e incremento do grau de prontidão do dispositivo.

A Proteção Civil alertou ainda para a possibilidade de cheias em meio urbano em especial no Norte e Centro do país, recomendando a redução de deslocações na noite de fim de ano.

Outra das recomendações foi para que as pessoas não se dirigissem às praias no primeiro dia do ano, até porque as previsões são também de maior agitação marítima na costa.

Segundo o comandante nacional da ANEPC, André Fernandes, as bacias hidrográficas onde existem “maiores probabilidades de haver inundações em meio urbano assim como cheias” são as dos “rios Minho, Lima, Cavado, Ave, Douro, Vouga, Mondego e Tejo”.

Nos dias 7, 8 e 13 de dezembro, a chuva forte e persistente que caiu em Portugal continental afetou sobretudo os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém, causando dezenas de desalojados e prejuízos de milhões de euros em casas, estabelecimentos comerciais, viaturas e infraestruturas públicas.