A instalação do segundo altar-palco da Jornada Mundial da Juventude, localizado no Parque Eduardo VII, vai obrigar à retirada provisória do monumento ao 25 de Abril projetado pelo escultor João Cutileiro. Apesar dos avanços e recuos no projeto para a estrutura que vai acolher o pontapé de saída da JMJ em Lisboa, existe já um dado adquirido: por razões logísticas, a polémica obra de Cutileiro terá de ser retirada para acomodar o altar-palco. A escultura tem um peso total de 90 toneladas.

O Observador sabe que a Câmara Municipal de Lisboa já pediu à família do escultor para o fazer e que isso foi autorizado sem que fosse colocado qualquer entrave. Apesar da luz verde, continua a faltar o essencial: um projeto para o altar-palco que respeite os interesses da Igreja e que seja aceitável para a Câmara Municipal de Lisboa.

O Memorial ao 25 de Abril colocado no Parque Eduardo VII foi alvo de polémica quando foi inaugurado, em 1997, por causa do seu aspeto fálico. No site da autarquia, a Câmara de Lisboa descreve a obra como “um obelisco de seis metros de altura de forma acentuadamente fálica, que simboliza a força viril e o vigor da Revolução”.

Numa entrevista dada em 1999 à RTP, o escultor comentou assim a polémica em torno do memorial colocado em Lisboa: “Não posso ser juiz de mim próprio. (…) Sempre pensei em termos de fonte, em água e água a mexer, porque o 25 de Abril não foi um movimento com uma intenção positiva, foi um movimento com uma intenção negativa, de resposta a algo que não agradava à maioria dos portugueses, para depois fazermos a nossa vida e construirmos a nossa sociedade” (…) Acho que o 25 de abril foi uma fonte, uma fonte de vida para todos nós.” Mais tarde, em 2017, deixou uma frase controversa em entrevista ao semanário Sol, quando lhe perguntaram sobre a obra: “O Cristo-Rei também parece um pirilau”.

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João Cutileiro (1937-2021): o escultor de mãos livres

Projetos de altar recusados

Tal como Observador já explicou, a autarquia liderada por Carlos Moedas rejeitou vários projetos apresentados pelo comité organizador da Igreja. Um dos desenhos previa uma longa escadaria, vários metros de altura e um cenário composto por um conjunto de torres brancas. Este segundo palco, cujas imagens ontem o Observador também revelou, para eventos com menos participantes, poderia custar entre 1,5 e dois milhões de euros — mas a Câmara de Lisboa já recusou o plano por entender que o preço, a dimensão e o carácter temporário daquele altar-palco não o justificavam.

As imagens do segundo altar-palco da JMJ. Projeto está a ser redesenhado depois de recusas da CML

É nesta estrutura que vão decorrer três grandes eventos: a missa de abertura da JMJ, com o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente (com a presença de 200 mil pessoas); a cerimónia de acolhimento ao Papa Francisco (com 400 a 500 mil pessoas); e a Via-Sacra com o Papa (com 700 mil pessoas). O Presidente da República também terá visto o desenho, o que terá motivado as críticas de Marcelo Rebelo de Sousa.

De acordo com o semanário Expresso, Marcelo terá mesmo pedido à câmara e à Igreja que troquem o projeto atual por um “altarzinho”. Antes, o Presidente da República já tinha pedido à organização da JMJ que organizasse um evento que “corresponda ao pensamento do Papa que se caracteriza por uma visão simples, pobre, não triunfalista”.

Imagem de uma das propostas para o palco que foi rejeitada pela CML