O presidente do Grupo AFA, Avelino Farinha, disse esta quarta-feira que as acusações do ex-secretário regional Sérgio Marques sobre favorecimento de grupos económicos na Madeira foram feitas numa “hora de burro” e negou ter exercido qualquer pressão sobre o Governo Regional.

Todos nós, na nossa vida, temos uma hora de burro e penso que Sérgio Marques nessa entrevista estava na hora dele”, afirmou o empresário madeirense, um dos maiores empreiteiros do país, realçando que “há tanta tontice naquela entrevista, que tem de ser o senhor ex-deputado e ex-secretário a responder”.

Avelino Farinha falava no parlamento da Madeira, na comissão de inquérito constituída a pedido do PS, a maior força política da oposição regional (ocupa 19 dos 47 lugares no hemiciclo), para investigar o “favorecimento dos grupos económicos pelo Governo Regional, pelo presidente do Governo Regional e secretários regionais e obras inventadas, em face da confissão do ex-secretário regional Sérgio Marques, em declarações ao Diário de Notícias, suscetível de configurar a prática de diversos crimes”.

Em causa estão acusações de Sérgio Marques, em declarações ao Diário de Notícias publicadas em 15 de janeiro, de “obras inventadas a partir de 2000“, quando Alberto João Jardim (PSD) era presidente do executivo madeirense, e grupos económicos que cresceram com o “dedo do Jardim”.

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O social-democrata, que fez também parte do primeiro Governo de Miguel Albuquerque (PSD) como secretário regional do Assuntos Europeus e Parlamentares, entre 2015 e 2017, e à dada das declarações era deputado do PSD à Assembleia da República pelo círculo da Madeira, afirmou ainda que foi afastado do cargo por influência de um grande grupo económico da região.

Estar a falar destas coisas passados anos revela muito da personalidade e do que é o senhor ex-secretário e ex-deputado”, disse o presidente do Grupo AFA, adiantando ter ido cumprimentá-lo uma única vez, quando tomou posse como secretário regional, em 2015, porque tinha a tutela das obras públicas.

“Que me lembro, nunca mais fui ao gabinete do Sérgio Marques e nas obras não tenho lembrança nenhuma de nos encontrarmos, até porque o senhor ex-secretário não gostava de obras”, reforçou.

O empresário descartou qualquer responsabilidade no afastamento de Sérgio Marques do executivo regional, em 2017, e disse que nunca pediu “rigorosamente nada” a ninguém do Governo Regional, nem quando era liderado por Alberto João Jardim, entre 1978 e 2015, nem deste então, sob a liderança de Miguel Albuquerque.

De joelhos só perante Deus. É a minha postura também na minha vida empresarial”, declarou.

Em resposta a várias perguntas dos três deputados do PS que integram a comissão de inquérito, Avelino Farinha reconheceu, no entanto, que o crescimento do Grupo AFA, criado há 42 anos, foi incrementado pelas obras públicas na região autónoma e também pela sua expansão no estrangeiro, em países como Angola, Senegal, Mauritânia, Brasil, Colômbia e Guiné Equatorial.

O grupo tem atualmente cerca de 4.000 trabalhadores e 70% do volume de negócios é concretizado fora da Madeira, sendo as principais áreas de atuação a construção civil, a hotelaria e o imobiliário.

Na Madeira, madeirense com sucesso é ladrão”, lamentou.

Já em resposta ao deputado único do PCP, Ricardo Lume, sobre derrapagens em obras que nalguns casos atingiram 700%, Avelino Farinha disse que nenhumas das obras consideradas inúteis por Sérgio Marques foram executadas pelo Grupo AFA, sublinhando, por outro lado, que ganhou sempre os concursos públicos apresentando os preços mais baixos.

No final da audição, que durou três horas, o deputado comunista apresentou um requerimento para chamar Sérgio Marques a depor na comissão de inquérito, mas o presidente, o social-democrata Adolfo Brazão, recusou colocá-lo à votação, remetendo a decisão para uma próximo reunião.

Para além de Avelino Farinha, a comissão de inquérito ouviu, na terça-feira, o presidente do Grupo Sousa, Luís Miguel de Sousa, ambos a pedido do PS, que também requereu a audição de Miguel Albuquerque, mas o chefe do executivo regional indicou que iria usar a prerrogativa de responder por escrito às questões.