Não é propriamente uma redenção, acaba por ser sempre uma espécie de pequeno consolo. Após ter ganho a medalha de ouro em Torun no ano de 2021 nos Europeus de Pista Coberta, naquela que foi a sua primeira grande conquista por Portugal, Auriol Dongmo iniciou da melhor forma a época ao Ar Livre e apostava tudo em chegar ao pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Para o ouro, com os registos da chinesa Lijiao Gong, era complicado. Para a prata, confirmando-se os indicadores deixados pela ressurgida Raven Saunders, idem. Para chegar ao bronze, aí teria de dar. Não deu apenas por cinco centímetros e uma surpreendente Valerie Adams que apareceu quando muitos achavam que já tinha desaparecido. Por mais que soubesse que não era a sua última oportunidade de chegar a um pódio olímpico, foi um golpe complicado de superar.

Ganhou à Jessica, só faltou a Jéssica: Auriol Dongmo revalida título europeu em Pista Coberta aos 32 anos

A partir desse momento, e sabendo que primeiro teria de cicatrizar a ferida de uma desilusão que a levou às lágrimas no final da prova realizada no Estádio Olímpico, Auriol foi atrás de todos os objetivos a pensar num sonho chamado Paris-2024. No fim de um ciclo atípico com grande provas internacionais muito condensadas no calendário, terminou como campeã mundial de Pista Coberta, vice-campeã europeia do Ar Livre e quinta classificada no Mundial do Ar Livre. Fechava-se um ciclo, começava outro que tinha como novo ponto de partida os Europeus de Pista Coberta. Curiosamente, e num plano meramente teórico, havia não só mais mas melhor concorrência do que em 2021. Todas acabaram por falhar e o título tornou-se quase um passeio.

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“Não estava a correr como eu queria. Queria lançar acima dos 20 metros. Mas, agora, estou muito contente porque sinto que estou a voltar, mais ou menos, ao meu nível. Foi um bocado difícil a época. Este ano foi difícil no início para conseguir lançar acima de 19,50 mas estou a voltar ao meu nível”, comentou a atleta nascida nos Camarões depois da categórica vitória na final do lançamento do peso em que terminou com a melhor marca europeia do ano e com a possibilidade de ganhar com quatro dos seis saltos feitos.

“Jéssica Inchude? Fogo, eu queria mesmo que a Jéssica fosse ao pódio, para ser mais uma. Mas são coisas que não podemos controlar…”, lamentou ainda por ver a companheira de Seleção terminar no quarto posto após ter estado em posição de medalhas até à penúltima ronda, acabando com a marca de 18,33 contra os 18,42 da sueca Fanny Roos e os 18,83 da alemã Sara Gambetta (Auriol Dongmo terminou com 19,76).

“O Presidente da República felicita Pedro Pichardo, que revalidou o título de campeão europeu de triplo salto, e Auriol Dongmo, que revalidou o título de campeã europeia de lançamento do peso. Estes dois títulos europeus, conquistados em Istambul no Campeonato Europeu de Atletismo em Pista Coberta, são mérito dos próprios, resultado de grande empenho e dedicação às respetivas modalidades, mas também uma afirmação do Desporto em Portugal como meio de inclusão, integração e desenvolvimento social”, comentou Marcelo Rebelo de Sousa através de uma nota da presidência. “Dois ouros para Portugal nos Europeus de Pista Coberta, em Istambul. Que orgulho! Parabéns a Auriol Dongmo, no lançamento do peso, revalidando o título europeu. E a Pedro Pablo Pichardo que, mais uma vez, voou no triplo salto para o ouro. Grandes atletas, enormes conquistas”, acrescentou na conta oficial no Twitter António Costa.