Os gritos de “Ruuuuuuuud” são facilmente confundíveis com os sons de uma vaia. Em português, até parece um insulto. Em norueguês, é o nome do segundo finalista do Roland Garros que vai defrontrar Novak Djokovic na final de domingo e que já se assumiu como underdog. Para o público francês, é a acentuada demonstração de apoio para com um jogador que tem o papel de impedir que o tenista que eles mais assobiam ganhe o torneio e registe o seu nome no topo da lista dos atletas com mais Majors, ultrapassando quem eles mais adoram.

O dono de Roland Garros não veio e há quem queira aproveitar a chave na porta para tentar roubar o troféu. Para Casper Ruud e Alexander Zverev, até seria uma forma de resgatarem alguma justiça face ao ano passado, mas esse não é um prémio que possa ser dividido por dois. Ambos caíram aos pés de Rafael Nadal em 2022, o primeiro na final e o segundo na meia-final. No caso do alemão foi uma queda no sentido literal.

Na memória do court Philippe-Chatrier ainda está a imagem de Zverev a torcer o pé contraindo a lesão que o obrigou a ser retirado de cadeira de rodas e a desistir do encontro com o, naquela altura, 13 vezes vencedor do Grand Slam francês. “Não penso nisso. Entro no court para ganhar jogos. Não estou a pensar no que aconteceu no ano passado”, comentou Zverev em relação ao momento que o deixou estendido no chão a gritar e fez o espanhol atravessar o campo para perceber o estado do adversário. “Estou aqui para chegar longe num Grand Slam“. Nessa ocasião, foi Nadal que avançou para a final. Do outro lado, encontrou Ruud que acabaria por perder o primeiro de dois majors no mesmo ano, uma vez que a final US Open com Alcaraz traria novo desaire ao tenista norueguês de 24 anos.

Em Zverev vivia a intenção de testar o que era capaz de fazer na plenitude das capacidades e, em Ruud, a vontade de se regressar à final. “É bom ver o Zverev de volta. Quer para ele, quer para mim, atingir a meia-final foi o nosso melhor resultado este ano”, analisou Rudd. “Tem sido um ano difícil para Zverev. Tem tentado dar a volta e está de regresso à meia-final. O início deste ano para mim não foi bom, por isso, é ótimo ter um bom resultado aqui. Vamos os dois aproveitar o momento. Ambos adorávamos estar na final este domingo. Vamos dar tudo e vamos estar prontos para um bom jogo”.

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Pela primeira vez no historial de confrontos entre ambos, onde o alemão levava vantagem (3 vitórias contra uma do adversário), os dois jogadores iam medir forças numa partida na terra batida e a cinco sets. Apesar da desvantagem no confronto direto, na última vez que se tinham encontrado, nos quartos de final do Masters 1.000 de Miami, Rudd venceu. Mesmo que a confiança fosse inerente ao desempenho que ambos tiveram no torneio francês, para Zverev, Roland Garros era um objetivo de uma época. “Este foi definitivamente um torneio que marquei no calendário este ano. Estou feliz por estar a jogar da forma que estou a jogar aqui em Paris. Estou extremamente contente pela forma com as coisas estão a correr, mas ainda não acabou. Ainda há, potencialmente, dois jogos muito difíceis pela frente”.

O percurso de Zverev na edição 2023 de Roland Garros foi mais exigente do que o de Ruud. O atual número 27 do ranking ATP teve que eliminar Tiafoe e Dimitrov, sendo que, antes da meia-final, derrotou Tomas Martín Etcheverry. Já Rudd, só nos quartos de final defrontou um adversário do top-30 mundial, ao ter pela frente Holger Rune naquela que considerou “a vitória mais importante do ano”.

Tal como fez contra o dinamarquês, Ruud começou a impor a sua lei. Logo no primeiro jogo de serviço de Zverev, o norueguês conseguiu um break. Nos quatro primeiros jogos do primeiro set, apenas um foi conquistado pelo tenista a servir. A partir daí, o vencedor do Estoril Open conseguiu assumir o controlo dos pontos desde o momento desde o início. A alta percentagem de primeiros serviços (71% no fim do encontro) ajudou, apanhando muitas vezes Zverev em contrapé e sem resposta. Com naturalidade, Rudd venceu o primeiro set por 6-3, fechando o jogo em pouco mais de duas horas.

Zverev tentava usar as subidas à rede como forma de se superiorizar. No entanto, Ruud estava com uma grande capacidade para resolver situações limite. Depois de salvar dois break-points do adversário, o norueguês foi paciente na procura do momento de fazer a diferença. Depois de conseguir quebrar o serviço do alemão, só teve que manter a consistência (6-4).

Só que vinha aí o terceiro set. Diante de Holger Rune, foi nesta fase que Rune cedeu e deu oportunidades para o oponente acreditar na vitória. Mesmo sabendo o que aí vinha, as sensações que Zverev transmitia não eram boas. A falta de eficácia junto à rede, onde costuma ser forte, ficou visível num momento em que, quando tinha tudo para concretizar o ponto, enviou um vólei para fora. Ruud acabaria por não dar qualquer hipótese, acabando por ganhar o terceiro set por 6-0.

Ruud assegurou assim que vai jogar a terceira final de um Grand Slam da carreira, a segunda consecutiva em Roland Garros, frente Novak Djokovic, um adversário ao qual nunca ganhou em quatro encontros disputados. Em caso de vitória, diante do jogador que procura ser o tenista com mais Majors conquistados, o norueguês vai colecionar o primeiro Grand Slam da carreira.