O dia do ténis de mesa começava com um momento que poderia ser histórico nos Jogos Europeus, com a possibilidade de os irmãos franceses Lebrun discutirem entre si na final a medalha de ouro no quadro de singulares masculinos. Felix, o mais novo e menos cotado, conseguiu esse apuramento; Alexis, o mais velho e mais experiente, acabou por perder frente ao português Marcos Freitas. O sonho de uma família caía por terra mas havia ainda esperança na possibilidade de haver a festa por um ouro, num cenário com alguns pontos de contacto com aquele que aconteceu com Portugal na esgrima, num dia histórico para a modalidade que terminou com a medalha de prata de Miguel Frazão para mais tarde recordar.

Após ganhar ao checo Michal Cupr (15-12), ao alemão Richard Schmidt (15-8) e ao húngaro Mate Tamas Koch (15-14), Filipe Frazão, o mais velho dos irmãos, chegou aos quartos da prova de espada. Após ganhar ao luxemburguês Flavio Giannotte (15-13), ao dinamarquês Frederik von der Osten (15-9) e ao polaco Maciej Bielec (11-10), Miguel Frazão, o mais novo dos irmãos, chegou aos quartos da prova de espada. Problema? Iriam discutir entre si uma presença nas meias-finais. E mais equilíbrio seria difícil perante o olhar atento do treinador de ambos, o pai, Nuno Frazão. Filipe acabou o primeiro período na frente (5-4), reforçou esse avanço no final do segundo período (9-7) mas foi Miguel a levar a melhor com o ponto decisivo do 15-14.

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O bronze já estava garantido para Miguel Frazão, de 20 anos, sendo que passava a ser o único representante português em prova depois da eliminação também nos quartos de Max Rod frente ao ucraniano Volodymyr Stankevych (15-8), após triunfos com o arménio Grigor Mnatsakanyan (15-7), o búlgaro Yordan Galabov (15-10) e o polaco Wojciech Kolanczyk (15-13). Mas a “odisseia” do benjamim não ficaria por aí, ganhando nas meias-finais a Stankevych de novo por 15-14 para marcar lugar na final diante do neerlandês Tristan Tulen, que derrotara o espanhol Manuel Bargues por 15-12. Após um primeiro período em que andou na frente mas saiu empatado a três, o português chegou em desvantagem ao final do segundo período (7-6), ainda conseguiu igualar de novo mas não conseguiu travar o adversário na fase decisiva, perdendo por 15-10.

“A sensação é indescritível, porque se havia algo que não estava à espera era disto. Estou mesmo muito feliz por este segundo lugar. É o meu primeiro pódio internacional, não posso estar mais contente. Foi um dia difícil, ainda por cima depois do Europeu em que perdi logo na fase de poules e tive de gerir um pouco mais as emoções. Fiz mudanças em termos táticos e técnicos. Estou contente com o resultado. Duelo com o meu irmão nos quartos? É e sempre foi difícil jogar contra o meu irmão. Só tínhamos jogado em contexto nacional e aqui foi duro, ambos a lutar pela nossa primeira medalha. É duro teres de deixar o teu irmão para trás. Se fosse ao contrário, ele sentiria essa dureza, mas ao mesmo tempo queria estar lá. Jogámos os dois para ganhar, não estamos para facilitar. Parte desta medalha também é dele”, referiu à agência Lusa.

Miguel Frazão conseguiu assim aquele que foi o maior resultados internacional da carreira até ao momento, depois de ter terminado o Campeonato do Mundo de espada de juniores na sétima posição. Antes, o jovem de 20 anos que começou na modalidade no Parede Futebol Clube e que a partir daí passou para o Clube Atlântico de Esgrima (só o local e o nome alteraram, mantendo-se a equipa técnica) tinha sido quatro vezes campeão nacional de espada por equipas em iniciados e cadetes, ganhou o título individual de espada em cadetes, sagrou-se campeão nacional de espada por equipas seniores em 2021 e campeão nacional individual de espada em juniores e universitário no último ano, antes da sétima posição no Mundial.

“De certa forma a esgrima sempre esteve presente na minha vida mas comecei a praticar por volta dos três anos. Não tenho memória da minha pessoa sem a esgrima por perto. O meu pai enquanto treinador de esgrima e a minha mãe enquanto treinadora de ginástica rítmica criaram um clube juntos, na altura na zona da Parede. Quando saía da escola, ia sempre com o meu irmão para o clube. portanto, a esgrima foi gradualmente entrando nas nossas vidas, primeiro numa vertente mais lúdica e agora a um nível bastante mais sério”, contou Miguel Frazão ao jornal O Praticante após o sétimo lugar no Mundial.

“No Mundial senti que estava finalmente a alcançar um sonho. Há muitos anos que trabalho para poder estar entre os melhores e nas competições anteriores tinha jogado de igual com igual com os esgrimistas de topo, mas acabava por ficar sempre um bocadinho distante do patamar que eu desejava alcançar. Quando me diziam um ‘Fica para a próxima’ ou ‘Quando for o momento certo a tua vez vai chegar’ ou ‘Devemos sempre acreditar nos nossos sonhos’, sentia sempre que não passavam de frases feitas para animar ou motivar porque nem eu próprio sabia se alguma vez esse dia iria chegar. Os próximos objetivos passam por fazer a transição para o escalão de seniores, integrando a Seleção de Espada, dando início a um percurso internacional num escalão que abrange atletas com 18 a 20 anos de diferença”, acrescentara.

Portugal passa assim a ter um total de 12 medalhas (ouro de Messias Baptista e Kevin Santos/Teresa Portela na canoagem e Auriol Dongmo no atletismo; prata de Isaac Nader e João Coelho no atletismo, Gonçalo Noites e Matilde Rodrigues no muaythai e Fernando Pimenta na canoagem; bronze de Francisca Laia na canoagem, Ana Cruz no karaté e Afonso Fazendeiro/Miguel Oliveira no padel), sendo que o 13.º pódio está garantido com Marcos Freitas no ténis de mesa (vai jogar a final esta terça-feira).