Começou a ganhar no seu serviço, foi até ao banco. Voltou, conseguiu fazer o break, tentava segurar o seu serviço para o 3-0. Aquela ligadura branca no joelho direito deixava todos os adeptos nas bancadas quase em suspenso perante a capacidade de resistência de uma heroína que recusa render-se à ditadura do tempo e da idade mas, até esse momento, essa era apenas mais uma marca de quem está habituada a ganhar guerras. A partir daí, após uma queda numa subida à rede que a deixou na relva com gritos de dor, tornou-se a imagem de uma ferida pior do que todas as barreiras que tinha de ultrapassar. 26 anos após a estreia, Venus Williams arriscou o impossível, caiu na primeira ronda de Wimbledon mas saiu como uma vencedora.

Apesar dessa derrota por 6-4 e 6-3 frente à ucraniana Elina Svitolina, atual 73.ª do ranking que já chegou a ser a terceira melhor do mundo, a norte-americana saiu debaixo de uma chuva de aplausos do muito público que se deslocou ao court central para um duelo de wild cards que acabou por sorrir à jogadora que tem sido a cara de um país no ténis a defender o final da guerra e que tenta voltar aos bons resultados após a paragem de um ano por ter sido mãe. Quer isso dizer que terminou a carreira aos 43 anos? Longe disso.

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“Há grandes vantagens oferecidas pelo circuito a nível de seguros e cobertura. Preciso disso, por isso, já que estamos, vamos continuar a jogar. Continua a ser divertido jogar ténis mesmo que sem a Serena [irmã] já não seja tanto. Tenho saudades dela. Jogar ténis é algo que fiz toda a minha vida e alcancei um nível que poucos conseguiram. Continuar a jogar é uma espécie gratidão e agradecimento a tudo o que fiz. Reforma? Se já pensei ou não é algo que não vou dizer mas nunca se jogou a nível profissional até aos 50 anos. Por isso, se há alguém que pode tentar, essa pessoa sou eu”, comentara a ex-vencedora de Wimbledon antes do jogo.

Antes da 24.ª participação no Major inglês, Venus Williams tinha feito (mais) história ao bater uma jogadora do top 50, Camila Giorgi (48.ª), ao fim de mais de três horas no Birmingham Classic, alcançando algo que já não acontecia há quase quatro anos (e tornando-se a sexta jogadora mais velha a ganhar um jogo do WTA, atrás de Kimiko Date, Judy Dalton, Martina Navratilova, Reneé Richards e Dodo Cheney. Assim, e apesar de estar no 697.º do ranking, recebeu um convite para regressar à relva de Wimbledon, tentando a todo o custo passar pelo menos uma ronda apesar dos problemas que pareciam notórios desde o início da partida.

Essa atitude foi arrancando elogios nos últimos dias, com várias jogadoras a elogiarem a força e o exemplo que Venus Williams consegue ser. “Acho que ela deve fazer o que quer e é isso que está a fazer. Ela quer jogar e acho isso fantástico. Acho incrível que consiga competir e ganhar jogos, é um ícone do nosso desporto. Fazer isso mostra a sua paixão e como adora jogar e competir”, destacou a compatriota Jessica Pegula. “Ela é impressionante. Não sei se com aquela idade conseguirei estar assim ou jogar com tanta paixão”, salientou Elina Svitolina. “Para mim ela foi o início de tudo, o que gerou um efeito dominó. É um momento chave da minha vida”, ressalvou Coco Gauff: “É a pessoa que mais me inspira pela paixão que ainda tem”.

Curiosamente, e no mesmo dia 1 do quadro principal de Wimbledon, a jovem norte-americana de 19 anos, que teve a primeira afirmação ao mundo quando bateu Venus Williams (que ganhou cinco vezes o Major britânico entre os sete Grand Slams na carreira) em Inglaterra com apenas 15 anos e daí para cá já chegou a uma final de Roland Garros, foi a grande derrotada esta segunda-feira ao ser eliminada frente a uma compatriota que já chegou também ao topo mas foi caindo entre várias lesões à mistura: Sofia Kenin, que teve de passar pela qualificação aos 24 anos depois de já ter ganho o Open da Austrália em 2020.