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Brincar a este jogo é muito simples. Regras? 1) Uma jogadora a bater o campo (dica: ajuda se se chamar Jonna Andersson). 2) Cinco elementos da equipa que tem a bola parada a favor dentro da pequena área. 3) As jogadoras contrárias podem colocar quem quiserem naquele pequeno espaço. O que é proibido? Agarrar, puxar e empurrar. Sugestões? Ajuda se as jogadoras forem altas e tiverem molas nos pés.

Foi assim, a brincar, que a Suécia bateu a Itália em Wellington na Nova Zelândia. Sabendo da vantagem que a biologia lhes concedeu em forma de centímetros, sempre que as nórdicas tinham um pontapé de canto, colocaram muita gente junto à guarda-redes. Depois, foi só atirar a bola para o barulho e ver as italianas, bem mais baixas, falharem redondamente o acesso ao espaço aéreo sueco. A imagem destes lances assemelhava-se a um cacho que uvas, tal a concentração de jogadoras. Várias seleções tentaram fazer o mesmo ao longo do Mundial, mas nenhuma foi assim tão eficaz.

Quem vencesse o encontro entre Suécia e Itália assegurava desde logo um dos dois primeiros lugares do grupo G e o consequente apuramento para os oitavos de final do Mundial. As suecas lutavam por se afirmarem como possíveis vencedoras do torneio do qual foram semi-finalistas em 2019. A vitória pela margem mínima, conseguida em tempo de compensação, contra a África do Sul (2-1) deixava em aberto se chegar tão longe na competição era uma hipótese real para as nórdicas. Igualmente apertado foi o triunfo da seleção italiana contra a Argentina (1-0).

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“Será certamente mais um jogo complicado, mais equilibrado, com um adversário que terá mais posse de bola [do que a África do Sul]. Serão duas equipas que querem se enfrentar e certamente teremos condições de fazer isso. Será um jogo diferente e espero que possamos estar melhor. Às vezes, é difícil jogar contra uma defesa baixa. Talvez a Itália também jogue assim de vez em quando, mas espero um jogo muito mais aberto”, perspetivou o selecionador sueco, Peter Gerhardsson, aos canais da FIFA, antes do jogo contra a Itália.

Quem caça com Rolfö caça sempre melhor (a crónica do Suécia-África do Sul)

Na primeira jornada, Cristiana Girelli precisou apenas de sete minutos em campo para dar à Itália a vitória. “A Cristiana é uma líder, uma capitã deste grupo. Ela está sempre presente e sabemos o que pode dar. Estamos muito felizes. Sabemos o quanto é importante começar bem um torneio como esse”, individualizou a selecionadora italiana, Milena Bertolini, que também deixou elogios a Giulia Dragoni, jogadora de 16 anos. “A Giulia é um talento do futebol italiano. Estava pronta [para ser titular contra a Argentina] e jogou bem num grande estádio. Se elas estão aqui é porque merecem”.

A pequena Messi fez história mas era a chef Girelli que tinha a receita: Itália vence Argentina com golo ao cair do pano

A Itália até começou melhor o encontro, só que a Suécia fez o seu jogo. Amanda Ilestedt (39′) desviou ao primeiro poste um campo batido por Jonna Andersson. Nos esquemas táticos, a Suécia além das cinco jogadoras que colocava dentro da pequena área, deixava também três perto da zona de grande penalidade para aproveitarem cortes incompletos. Fui num desses lances em que as italianas não conseguiram aliviar a bola da melhor maneira que Fridolina Rolfö (44′) aproveitou as sobras.

Para fechar a primeira parte em grande, com três golos em sete minutos, a Suécia fez uma coisa rara para a seleção de Peter Gerhardsson, ou seja, marcar de bola corrida. Uma combinação refinada pela direita terminou nos pés de Stina Blackstenius (45+1′). O melhor momento da Itália no jogo aconteceu quando Valentina Cernoia tentou entrar em campo com o colete vestido. Ilestedt (50′) chegou ao quarto com novo golo de canto e Rebecka Blomqvist, em tempo de compensação, fechou o 5-0.

A pérola

  • A defesa que é a melhor avançada: Amanda Ilestedt. Depois de ter dado o triunfo à Suécia na primeira partida, a jogadora do Paris Saint-Germain conseguiu o terceiro golo em dois jogos, sendo fundamental para as duas vitórias alcançadas pela seleção nórdica. Num jogo que se decidiu na vantagem de altura das suecas, o seu 1,78m ajudou muito.

O joker

  • A Suécia manteve a rigidez defensiva do início ao fim, instalando-se muitas vezes num bloco baixo. No momento da recuperação de bola, nomes como Johanna Kaneryd rapidamente transitavam ofensivamente. A atuar na direita do ataque, a jogadora do Chelsea ofereceu bastante profundidade, não se limitando, como costuma acontecer com as velocistas, a situações de drible, revelando também capacidades associativas. Não lhe é atribuída a assistência no golo de Blackstenius por causa de uma carambola, mas foi ela que forçou a ação de corredor.

A sentença

  • A Suécia assegurou a passagem aos oitavos de final do Campeonato do Mundo fruto de duas vitórias em dois jogos. O primeiro lugar do grupo G também ficou praticamente garantido devido ao benefício que esta goleada trouxe ao saldo de golos da equipa. A Itália vai ter que, na última jornada, jogar pelo futuro. Caso a Argentina não vença a Suécia, pode bastar o empate para a seleção azzurri seguir em frente, sendo que a vitória é o caminho mais seguro. 

A mentira

  • A Suécia não entrou no Mundial explanando todo o potencial da equipa vice-campeão olímpica, mostrando dificuldades frente à África do Sul. Contra a Itália, as sensações deixadas foram diferentes e pode ter sido o início de um percurso, quem sabe, inédito. As nórdicas apenas por uma vez estiveram na final (2003) e marcam presença duas vezes nas meias-finais (2011 e 2019). Na última edição do Mundial, as suecas foram eliminadas pelos Países Baixos, equipa que podem vir a defrontar nos oitavos de final.