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O que os Países Baixos fizeram diante do Vietname foi uma lição de respeito. Graças à intromissão de Portugal nas contas do apuramento, os Países Baixos precisavam de ganhar. Não que isso não fosse praticamente um dado adquirido, tal a superioridade da equipa neerlandesa, mas era preciso apresentar provas. O primeiro golo nasceu de um chapéu de Lieke Martens (8′). Em vez de festejarem, a reação das neerlandesas foi correrem para o seu meio-campo e colocarem a bola no círculo central para que o jogo retomasse o mais rapidamente possível.

A melhor forma que os Países Baixos encontraram para abordar a terceira jornada do grupo E, em Dunedin, na Nova Zelândia, foi não abrandarem por um instante. Pela atitude das jogadoras, ficava no ar se o selecionador neerlandês, Andries Jonker, não tinha traçado um objetivo em relação aos golos a marcar, ficando no ar se esse target não seriam mesmo os 13-0 com que os Estados Unidos bateram a Tailândia, em 2019, resultado que constitui a maior goleada de sempre no Mundial feminino. Apesar do Vietname não ser uma equipa constituída por jogadoras de renome, estudo não faltava para bater esse recorde.

“Sabemos tudo sobre elas agora”, explicou o técnico das vice-campeãs do mundo em entrevista à FIFA. “Acompanhámos o Vietname durante vários meses. Elas foram um grande ponto de interrogação para nós [após o sorteio]. Ficámos surpreendidos ao vê-las logo atrás da Polónia no ranking da FIFA [o Vietname ocupa o 32.º posto]. Vencemos a Polónia, mas com algum esforço, pelo que foi uma razão para levarmos o Vietname muito a sério”.

Depois do 1-0, não tardaram a chegar mais golos dos Países Baixos que, numa alternância interessante entre jogo curto e jogo longo, criavam oportunidades de todas as maneiras possíveis. Katja Snoeijs (11′) fez o golo mais simples entre os cinco que as neerlandesas conseguiram na primeira parte. Esmee Brugts (18′), pelo contrário, com um remate em arco de fora de área, não deixou ninguém indiferente. Jill Roord (22′), encostando um cruzamento de Dominique Bloodworth-Janssen pela esquerda. Foi preciso esperar 23 minutos para que os Países Baixos, por intermédio de Daniëlle van de Donk (45′), chegassem ao 5-0 com que o jogo foi para o intervalo.

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Ainda na primeira parte, o selecionador vietnamita, Mai Duc Chung, fez duas alterações. No início da segunda parte, o técnico trocou a guarda-redes. As mexidas não alteraram nada no decorrer do encontro. O resultado, esse sim, voltou a mudar. Esmee Brugts (57′) fez copy/paste ao primeiro golo que anotou e levou os Países Baixos até à meia dúzia.

A seleção europeia deste encontro começava a falhar nas tentativas de aumentar o resultado. A frustração pela menor eficácia na segunda parte, provocada pela barra, pelo VAR ou por mero por desacerto, levou o ritmo a baixar. Ainda assim, os Países Baixos chegaram ao 7-0 com Jill Roord (83′) a conseguir também ela o bis.

A pérola

  • O lado esquerdo do ataque dos Países Baixos foi sempre o mais dinâmico. Um aspeto de que as neerlandesas nunca tiveram carência foi a largura no momento de organização ofensiva. Esmee Brugts foi a responsável por isso. Com tantas jogadoras a quererem procurar o espaço entre linhas, foi fundamental que alguém abrisse o campo, tarefa levada a cabo pela jogadora de 19 anos do PSV Eindhoven. Ainda assim, sendo destra, procurou o corredor central para finalizar. Foi assim que fez dois golos que podem ser considerados os novos monumentos da Nova Zelândia. Numa entrevista à plataforma 90min, Brugts contou que começou a jogar futebol durante as férias escolares, sendo que, até aí, jogava ténis, dançava e fazia ginástica. Hoje em dia, pode dizer que escolheu o desporto certo.

O joker

  • À partida, pode parecer contraproducente que uma equipa que, mesmo em jogos equilibrados, tem uma mentalidade muito ofensiva, se destaque o papel de uma defesa, mas é a demonstração da maneira como as dinâmicas impostas pelos Países Baixos envolvem toda a gente. Dominique Bloodworth-Janssen, central pela esquerda no 3x5x2 dos Países Baixos, foi fundamental para desmonstrar o bloco baixo do Vietname. A precisão nos passes frontais e nas bolas longas para as costas da defesa foram só algumas armas do repertório da jogadora do Lyon que também em condução conseguiu provocar a pressão contrária, abrindo espaços no bloco defensivo. Foi de uma arrancada pela esquerda de Janssen que nasceu o primeiro golo de Jill Roord.

A sentença

  • Como era de esperar, a seleção dos Países Baixos venceu o jogo e assegurou um lugar nos oitavos de final. Os três pontos, somados ao triunfo diante de Portugal (1-0) e ao empate com os Estados Unidos (1-1), valeram à equipa de Andries Jonker a liderança do grupo. As neerlandesas alcançaram os sete pontos, enquanto que os Estados Unidos se ficaram pelos cinco. Os Países Baixos ficam à espera do desfecho do grupo G para conhecerem o próximo adversário. O Vietname, tal como já se sabia, está de fora do Mundial. Portugal terminou em terceiro.

A mentira

  • O selecionador do Vietname, Mai Duc Chung, que também orientou a equipa masculina do país, está de saída do comando técnico, decisão que já tinha sido anunciada antes do Mundial. Ligado à federação desde 2016, qualificou pela primeira vez o Vietname para o Mundial. Com uma equipa de um país onde o futebol feminino está longe da profissionalização e em que só uma jogadora atua além-fronteiras, não deixa de ser um feito digno de reconhecimento. Apesar disso, nem tudo é melhor na hora da despedida. Mai Duc Chung diz adeus com uma derrota pesada.