Marcelo Rebelo de Sousa transmitiu aos jovens do PS que também estaria disponível para aparecer na respetiva rentrée, a Academia Socialista, tal como esteve, esta semana, na Universidade de Verão do PSD. Mas o PS, onde a participação do chefe de Estado no evento social-democrata caiu mal, não se mostrou interessado em recebê-lo — e Marcelo acabou por falar apenas aos jovens do próprio partido, numa aula sobre a guerra da Ucrânia.

“O Presidente da República mostrou disponibilidade para participar nos encontros com jovens organizados este final de verão pelas juventudes partidárias, tendo aceitado os convites da JSD e da JP, tendo a JS considerado que seria mais oportuno noutra ocasião e não na próxima Academia Socialista”, confirmou ao Observador fonte da Presidência.

Ou seja: a rentrée de Marcelo será marcada pela presença em dois eventos partidários à direita, neste caso organizados pelos jovens do PSD e do CDS. A participação na Academia Socialista poderia ajudar a contornar as leituras políticas que se fizeram imediatamente a partir da notícia da participação do Presidente no evento social-democrata, mas nada feito: os jovens do PS não se mostraram disponíveis para receber Marcelo em Évora.

“Um Presidente da República não deve participar em eventos partidários”, atira ao Observador um alto dirigente socialista, em jeito de explicação sobre a ausência de Marcelo no programa da Academia Socialista, agendada para a próxima semana.

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Mas a frase tem um duplo efeito: se isso se aplica à rentrée do PS, argumentam os socialistas, também se deveria aplicar à Universidade de Verão do PSD. No PS, cujos dirigentes têm tentado acalmar as reações públicas mais hostis quanto ao Presidente da República, sabendo que a coabitação é cada vez mais difícil — os últimos episódios foram os vetos de diplomas tão relevantes como o da carreira docente ou das medidas da Habitação –, a ida de Marcelo a Castelo de Vide não foi bem vista.

A SIC tinha noticiado que Marcelo Rebelo de Sousa teria mostrado “disponibilidade” para estar presente na Academia Socialista. Conforme o Observador apurou, a tentativa de aproximação foi feita através da assessora do Presidente para a Juventude, Rita Saias, que contactou nesse sentido a direção da JS.

Com Montenegro ao lado, Marcelo definiu o perfil do sucessor e evitou (quase sempre) a política nacional

Isto aconteceu, segundo as informações confirmadas pelo Observador, ainda antes de ter sido anunciada publicamente a ida do Presidente ao evento social-democrata. A confirmação da sua deslocação a Castelo de Vide, um segredo mal guardado durante vários dias, acabaria por só acontecer já o evento decorria, na segunda-feira.

O Presidente ainda estabeleceu uma regra para contornar a leitura que alguns setores do PS, que o definem agora como “líder da oposição”, fazem: só falaria do tema da Ucrânia, e nunca de assuntos nacionais. Cumpriu quase integralmente a sua missão, mas o quadro do dia já estava pintado: Luís Montenegro deslocara-se a Castelo de Vide, sem que os jornalistas tivessem antecipadamente essa informação, de propósito para receber o Presidente, que falaria durante duas horas ao lado do logótipo do partido, uma imagem inédita desde que está em Belém. E uma imagem que boa parte do PS não gostou de ver.