Dois coletivos ambientalistas juntaram-se à plataforma Casa para Viver, acrescentando ao lema da manifestação agendada para 30 de setembro a frase “Planeta para Habitar”, numa altura em que nove cidades se preparam para sair à rua.

A raiz destas crises, no fundo, é a mesma: este sistema capitalista que privilegia os interesses do lucro, os interesses privados de setores como o imobiliário ou as empresas de combustíveis fósseis”, justifica Inês Teles, do coletivo Climáximo, em conversa com a Lusa no Cais do Sodré, em Lisboa, antes de participar na colagem de cartazes da manifestação “Casa para Viver, Planeta para Habitar”.

A manifestação, agendada para dia 30, em defesa da habitação e da justiça climática e contra a precariedade e o aumento do custo de vida, conta já com a adesão de nove cidades: Aveiro, Barreiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Guimarães, Lisboa e Porto.

Antecipando uma jornada histórica porque, pela primeira vez, o movimento pela habitação e o movimento pela justiça climática estão juntos numa só manifestação”, Inês Teles assinala que uma das “grandes causas” da inflação dos preços — de bens essenciais e das rendas — são “os lucros absolutamente exorbitantes e escandalosos das empresas petrolíferas”, assim exemplificando as conexões entre as duas causas. Transportes públicos gratuitos e acessíveis, energias renováveis, fixação de teto para as rendas e fim dos despejos são reivindicações comuns de uma plataforma que agrega mais de uma centena de coletivos.

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O “colapso” do planeta agravará “todas as outras crises”, nomeadamente a da habitação, sublinha Catarina Bio, da Greve Climática Estudantil, que também se juntou à manifestação do dia 30, mas, antes disso, está a convocar estudantes e “toda a sociedade” para uma marcha pela justiça climática nesta quinta-feira, em Lisboa. “Os jovens sentem muito na pele estas duas crises“, nota, contando que, “neste momento, há mais estudantes que não vão poder estudar exatamente por não terem habitação”, além dos que já terminaram os estudos e não conseguem agora encontrar habitação própria.

Sete porta-vozes da manifestação “Casa para Viver, Planeta para Habitar” juntaram-se nesta segunda-feira numa colagem simbólica de cartazes sobre a ação de 30 de setembro. “A vantagem é termos uma manifestação ainda mais viva, com mais pessoas. Há várias causas e problemas que são comuns e transversais uns aos outros”, sublinha Rita Silva, do movimento Vida Justa e uma das porta-vozes.

A “liberalização” trazida pelo pacote Mais Habitação — proposto pelo Governo, aprovado na Assembleia da República e vetado pelo Presidente da República, que este mês voltará ao parlamento, prevendo-se nova e final aprovação pela maioria PS — permite aos privados construírem em terrenos agrícolas e zonas rurais e de interesse ecológico, o que “tem um enorme impacto do ponto de vista ambiental”, exemplifica.

Ora, Portugal necessita de mais habitação pública, mas não precisa de mais habitação privada. “Temos 730 mil casas vazias“, recorda Rita Silva, lamentando “a insistência do PS” em aprovar o Mais Habitação, “apesar de toda a oposição que tem encontrado”. Reuniões partilhadas e propostas em conjunto darão lugar a várias ações de mobilização, tanto coletivas como de cada membro, para a manifestação do dia 30. Rita Silva destaca a oportunidade para convergir no combate a “dois dos maiores problemas” que o país e o mundo enfrentam: a habitação e a justiça climática.

Anselmo Cruz, da associação Habita! e outro dos porta-vozes da plataforma, diz que a junção das duas causas dá “um contexto mais real do que é a habitação no seu todo e de quanto o clima influi nela e vice-versa”, reconhecendo a tendência para “separar as duas questões quando elas fazem parte do mesmo problema”.

O objetivo é manter a aliança no futuro e agregar “as várias lutas” que combatem “o capitalismo que explora”, saindo à rua com “um maior nível de combatividade”, realça Inês Teles. “Se o Governo não está a ouvir a rua, não podemos desistir, temos de continuar”, apela Rita Silva.

Em 1 de abril, milhares de pessoas saíram à rua para reivindicar o direito à habitação. “Ainda há mais razões” para as pessoas se manifestarem no dia 30, sublinha Anselmo Cruz, sem arriscar prognósticos de adesão.