É preciso recuar até ao dia 24 de agosto de 1994, na Supertaça Cândido de Oliveira: nesse dia, nas Antas, Carlos Secretário foi expulso com cartão vermelho direto aos 19 minutos do Clássico entre Benfica e FC Porto. De lá para cá, nos 29 anos que passaram, nenhum outro jogador dos dragões foi expulso tão cedo contra os encarnados — até esta sexta-feira, dia em que Fábio Cardoso viu o cartão vermelho direto também aos 19 minutos do Clássico entra Benfica e FC Porto.

Nas asas de Ángel, o caçador de dragões (a crónica do Benfica-FC Porto)

Em agosto de 1994, Secretário foi apenas um de cinco, já que Abel Xavier, Nelo, João Pinto e Rui Filipe também foram tomar banho mais cedo. Em setembro de 2023, porém, Fábio Cardoso foi mesmo o único — e hipotecou desde logo a estratégia montada por Sérgio Conceição para a visita à Luz, com o treinador a reagir com a saída de Romário Baró e a entrada do estreante Zé Pedro num dia em que já não contava com os lesionados Pepe e Marcano.

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Desde 1994/95 que o FC Porto não tinha jogadores expulsos com cartão vermelho direto em jogos consecutivos contra o Benfica — na Supertaça, em agosto, foi a vez de Pepe –, sendo que Fábio Cardoso se tornou o sexto a deixar os dragões em inferioridade numérica na nova Luz e o último desde Ricardo Quaresma, há quase uma década. O FC Porto não se fez representar na zona de entrevistas rápidas, nem por Sérgio Conceição nem por qualquer jogador, mas o treinador acabou por surgir na sala de imprensa da Luz numa altura em que já todos acreditavam que não iria reagir à primeira derrota da temporada.

“Em relação ao jogo, acho que começámos muito bem. Estrategicamente, tínhamos preparado o jogo da forma que jogámos nos primeiros minutos, o Benfica não conseguiu criar perigo. Ficámos reduzidos a 10 elementos, jogámos a partir daí contra muitos mais, e mesmo assim chegámos ao intervalo com situações mais flagrantes para estar em vantagem”, começou por dizer o técnico dos dragões, que caíram para o terceiro lugar da Liga e podem ficar a três pontos do Sporting se os leões vencerem o Farense este sábado e assumirem a liderança isolada da classificação.

“Na segunda parte, houve algum desgaste da equipa, algo completamente compreensível porque fizeram um trabalho muitíssimo bom naquilo que foi o espírito que tivemos no jogo, ao limitar ao máximo aqueles que eram alguns dos pontos fortes de uma equipa que é campeã nacional. Por tudo o que foi o jogo, pelo esforço dos jogadores, pelas incidências do próprio jogo… Quando o critério é igual, há erros e é normal. Eu cometo erros, os meus jogadores também, os adversários também. No jogo do Dragão no ano passado, o Eustáquio é expulso por um pisão, mas hoje o Galeno também leva um pisão. O Fábio Cardoso toca na bola e depois toca no jogador. Compreenderia o penálti do Trubin, num lance em que também salta, toca na bola e depois toca no Taremi”, acrescentou Sérgio Conceição, num comentário à atuação da equipa de arbitragem liderada por João Pinheiro.

Mais à frente, o treinador garantiu que o FC Porto está preparado “para este Benfica e para todos os adversários”. “Faltam 27 jogos e estamos preparados para situações que nos têm sido desfavoráveis. Apesar de, com certeza, também termos sido beneficiados em algumas ocasiões. Lamento, porque nestes jogos era importante saírmos com uma vitória, até porque a merecíamos pela forma como entrámos, como preparámos o jogo. Mesmo os jogadores que se estrearam num Clássico deram uma resposta muito positiva. Sei que isto me custa a mim, aos adeptos… Mas acho que ganhámos muito mais hoje do que perdemos, sinceramente”, atirou.

Por fim, Conceição explicou o porquê de o FC Porto ter feito a roda do costume em pleno relvado da Luz e revelou que um funcionário do clube foi atingido por um isqueiro vindo das bancadas. “Quisemos estar perto dos nossos adeptos, que fizeram tantos quilómetros e sacrifícios para nos apoiar, com paixão, com grande espírito e com ligação com a equipa. Fomos fazer a roda na zona onde eles estavam, apesar de choverem alguns objetos para dentro de campo. Na semana passada passou-me um isqueiro aqui próximo da cabeça, hoje houve um que acertou num colaborador do departamento de análise e observação. Na Reboleira, na semana passada, passou-me um aqui perto, a dois metros, e atrás estava um polícia a rir-se para o adepto que atirou. Se fosse eu, apanhava seis meses. Não entendo. Mas podem atirar com tudo, somos fortes e temos um escudo. O escudo é essa ligação grande aos adeptos, ao trabalho e ao compromisso, à grande vontade de querer ganhar este Campeonato”, concluiu.