O início de época do Boavista tem sido um pau de dois bicos. Dentro do campo, os axadrezados, à quinta jornada, lideravam a Primeira Liga a par de Sporting e FC Porto apenas com dois pontos perdidos. No entanto, nem mesmo o rendimento desportivo tem conseguido esconder o que, fora das quatro linhas, é um cenário revestido pelos tons da camisola do clube: preto e branco.

A temporada 2023/24 começou sem que o Boavista conseguisse inscrever qualquer reforço no plantel. As dívidas a antigos jogadores, entre os quais o atual elemento da equipa técnica do Benfica, Javi García, levaram a FIFA a castigar o clube que terminou a época passada no nono lugar do Campeonato. “Foi uma questão estratégica”, disse o presidente do emblema nortenho, Vítor Murta, numa entrevista à CNN Portugal. “Já tivemos, no passado, outras situações em que também estivemos impedidos de inscrever e resolvemos esses problemas. Este ano, em conjunto com a equipa técnica, tivemos que tomar uma opção. As opções seriam vendermos os direitos económicos de um jogador e inscrevermos novos atletas ou manter esta equipa e fazer com esta equipa um bom Campeonato pelo menos até dezembro. Entendemos que os nossos jovens atletas, em dezembro, estarão mais valorizados e poderão permitir um encaixe ao Boavista de um valor superior ao que aconteceria neste momento. Obviamente, estamos preocupados e conscientes de que o problema tem que ser obviamente resolvido para que, dessa forma, não haja nenhum ónus para o Boavista”.

Segundo o dirigente, a dívida do Boavista encontra-se “num valor aproximado aos sete milhões de euros”. As dificuldades financeiras não se refeltiram apenas no castigo aplicado pela FIFA uma vez que os atuais funcionários do Boavista, incluindo jogadores, também têm vindo a reivindicar salários em atrasos. “Não escondo que, fora das quatro linhas, passamos por momentos difíceis, mas o meu foco e o da equipa é sempre trabalhar para o plano desportivo e vencer os jogos que temos pela frente”, disse Petit, treinador da equipa.

Do que o plantel de futebol profissional deixa transparecer, a vertente desportiva tem estado acima da financeira. A verdade é que, desportivamente, o desempenho dos axadrezados está a superar as expectativas. Logo na jornada inaugural, o Boavista venceu o Benfica (3-2) e só ao sexto jogo do Campeonato sofreu a primeira derrota (4-1), num jogo em que ficou em inferioridade numérica aos 31 minutos devido à expulsão do capitão Seba Pérez frente ao Sp. Braga por protestos com o árbitro Artur Soares Dias.

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A preparação para o jogo seguinte, contra o Famalicão, foi condicionada pelo facto de a equipa médica se ter recusado a comparecer no treino matinal, que os axadrezados habitualmente realizam no dia do encontro, exigindo o pagamento dos salários em atraso. A recusa deste departamento em comparecer na sessão levou ao cancelamento da mesma. A situação foi regularizada antes da partida, o que permitiu ao Boavista marcar presença no duelo com os famalicenses e não perder por falta de comparência (empate a dois).

No final do jogo com o Famalicão, Petit confirmou que o treino não foi realizado. “Não vou desmentir. É verdade. Costumo dar sempre um treino matinal antes dos jogos. Não houve treino. Estivemos cá, almoçámos, fomos a casa e voltámos para lanchar. Não é a mim que têm de perguntar. Só posso comentar os treinos e os jogos e tentar que os jogadores tenham alegria no trabalho. Não é fácil para eles nem para nós, mas há que continuar”, referiu o técnico. “Vocês veem os nossos jogos e o compromisso fantástico que os jogadores têm tido mas claro que afeta um pouco. Todos trabalhamos para receber, mas tentamos dar o melhor por este clube centenário e com história. Os jogadores têm sido fantásticos e posso dizer que temos de dar o melhor porque coisas boas vão acontecer no futuro”. De recordar que Reggie Cannon abandonou o plantel e assinou pelo Queens Park Rangers após rescindir unilateralmente com o clube.

No futuro próximo não aconteceram coisas boas. Três dias mais tarde, o Boavista voltou a ver o treino ser cancelado. Desta vez, foram os funcionários do estádio a fazerem greve. Vítor Murta prometeu pagar os salários e o plantel profissional voltou a trabalhar normalmente tendo em vista a deslocação a Moreira de Cónegos. As promessas foram cumpridas esta terça-feira com a situação dos jogadores a ser regularizada e com os funcionários receberem dois meses de pagamentos em atraso. Neste momento, os axadrezados estão no quarto lugar com 14 pontos, apenas atrás de Sporting, Benfica e FC Porto.

Texto atualizado às 18h31 com a indicação de que o Boavista regularizou a situação dos jogadores.