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“Corpos”: como fazer de uma boa história uma série banal em oito episódios

Este artigo tem mais de 6 meses

É uma narrativa de época, um thriller e ficção científica. Tudo ao mesmo tempo, numa série que se vai perdendo entre as personagens e os saltos temporais. Já está disponível na Netflix.

Apesar de o primeiro capítulo de "Corpos" ter potencial, a qualidade da ideia vai desaparecendo à medida que os arcos narrativos se vão tornando tão complexos que, mesmo que quiséssemos explicá-los aqui, não seria possível
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Apesar de o primeiro capítulo de "Corpos" ter potencial, a qualidade da ideia vai desaparecendo à medida que os arcos narrativos se vão tornando tão complexos que, mesmo que quiséssemos explicá-los aqui, não seria possível

Apesar de o primeiro capítulo de "Corpos" ter potencial, a qualidade da ideia vai desaparecendo à medida que os arcos narrativos se vão tornando tão complexos que, mesmo que quiséssemos explicá-los aqui, não seria possível

Quatro detetives, quatro épocas, o mesmo cadáver. Se a série já é confusa, explicar a premissa ainda mais, mas vamos por partes. Chama-se Corpos, é a nova aposta da Netflix e os oito episódios já estão disponíveis. A história começa em 2013. A detetive Shahara Hasan (Amaka Okafor) é destacada para uma manifestação da extrema-direita, em Londres. Ao avistar um jovem suspeito, segue-o até uma ruela, onde acaba por encontrar um corpo. Homem, nu, uma espécie de tatuagem num dos braços, alvejado num olho.

Recuamos então até 1941. Karl Whiteman (Jacob Fortune-Lloyd) é um detetive judeu que faz uns biscates pela calada da noite para uma entidade qualquer secreta que lhe dá indicações pelo telefone. É assim que descobre um corpo inanimado numa ruela. Homem, nu, uma espécie de tatuagem num dos braços, alvejado num olho.

Próxima paragem: 1890. Edmond Hillinghead (Kyle Soller) manda prender um ladrãozito de rua enquanto faz uma ronda por uma decadente zona de Londres. Alguém grita numa rua recôndita. No chão está, adivinhem, um homem, nu, uma espécie de tatuagem num dos braços, alvejado num olho.

A vítima é sempre a mesma e tentar descobrir quem é e como se encontra em três épocas distintas parece um bom ponto de partida para um thriller empolgante, cheio de potencial. Mas, calma, como isto não tinha gente suficiente na embrulhada, o primeiro episódio ainda nos leva até 2053. Iris Maplewood (Shira Haas) é, adivinhem de novo, uma detetive que encontra, repitam comigo: um homem, nu, uma espécie de tatuagem num dos braços, alvejado num olho. Porém, aqui há um twist: a vítima está viva, ou respira nos mínimos olímpicos, vá.

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[o trailer de “Corpos”:]

Baseada na banda desenhada de Si Spencer, Corpos tenta seguir a dinâmica do livro, dividindo até a imagem em quadradinhos quando salta de uma época para outra. Porém, apesar de o primeiro capítulo ter potencial, a qualidade da ideia vai desaparecendo à medida que os arcos narrativos se vão tornando tão complexos que, mesmo que quiséssemos explicá-los aqui, não seria possível. Nem com a ajuda de spoilers.

São oito episódios e basicamente quatro histórias pelo preço de uma. Para começarem a surgir ligações entre elas é preciso esperar até meio da temporada. Até lá, vamos conhecendo as vidas de cada detetive sem que elas nos interessem realmente. Todos são cartas fora do baralho. Hillinghead tem mulher, filha e uma sexualidade reprimida desde sempre. Whiteman é um judeu numa cidade mergulhada na Segunda Guerra Mundial, todos são suspeitos, todos são inimigos. Hasan é mãe solteira e muçulmana, Maplewood escolhe juntar-se a uma força de segurança controlada por um comandante supremo em troca de um dispositivo que lhe permite caminhar. Aqui, estamos em plena distopia com um homem que ascendeu ao poder depois de uma tragédia ocorrida em 2023 que matou meio milhão de pessoas na cidade. Ah, então isto começa a fazer sentido com este detalhe? Nem por isso.

Há uma figura que aparece em todas estas épocas, Elias Mannix, e que pode ser a chave para tudo. Por isso, é frustrante que o incrível Stephen Graham (Boiling PointPeaky Blinders) tenha tão pouco tempo de antena comparado com os restantes. Ainda assim, o ponto forte da série é o elenco. Quando faz tudo tão pouco sentido que desistimos de tentar perceber, valem as interpretações de Shira Haas (que já tínhamos visto em Unorthodox) e de Amaka Okafor.

Quem gosta de ter sempre o cérebro a trabalhar e a elaborar 37 teorias por segundo, talvez fique satisfeito com o rumo da história de "Corpos"

A primeira é um lobo solitário, fisicamente estranha e desajustada, que se contenta com a ideia de estar a fazer algo de bom por um bem maior. A segunda é incansável na tentativa de salvar jovens em apuros. Focadíssimas nas tarefas que têm pela frente, conseguem convencer-nos (quase sempre) de que a série parece melhor do que é realmente. A melhorar: as próteses que envelhecem as personagens e que estão sempre tão exageradas que desviam a nossa atenção do que está realmente a acontecer.

O mundo futurista de 2053 é dominado pela ideia de uma sociedade onde impera a frase: “Know you are loved” (“saiba que é amado” ou “sabe que és amado”). A ideia utópica de um homem, Mannix, que não é mais do que a marioneta e um produto de “eles” (uma sociedade secreta que pretende alcançar a perfeição). Por esta altura, já não sabemos bem quem quer o quê, quem é quem, qual é real, qual é que está fora da sua época.

Esta adaptação de Paul Tomalin dispersa-se em tantas direções que a coerência e a qualidade dos diálogos parecem ter pouca importância. Oito horas de televisão, divididas por quatro aldeias, equivalem a um texto banal, onde não há tempo para grande coisa além do básico.

Quem gosta de ter sempre o cérebro a trabalhar e a elaborar 37 teorias por segundo, talvez fique satisfeito com o rumo da história. O problema é que, chegados ao fim da primeira temporada, as pontas soltas deviam estar todas explicadas, ou pelo menos deviam deixar aberto um caminho verosímil, e isso não acontece. É demasiado tempo investido para um resultado medíocre. Assim, nem o espectador fica convencido de que é amado.

 
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