Em termos práticos, o FC Porto chegava à Bélgica vindo de duas vitórias. Em termos mais empíricos, o FC Porto chegava à Bélgica vindo de duas vitórias contra Portimonense e Vilar de Perdizes que não esconderam as dores das derrotas contra Benfica e Barcelona. Em termos globais, o FC Porto chegava à Bélgica com a necessidade óbvia de um triunfo claro para prolongar a série positiva e enterrar os tropeções.

Os dragões visitavam o Antuérpia na sequência da derrota do Shakhtar Donetsk na Catalunha contra o Barcelona, ou seja, com a possibilidade de saltar para o segundo lugar isolado do Grupo H e deixar a candidatura definitiva ao apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões. Para isso, era preciso vencer uma equipa belga que vinha de apenas uma vitória nos últimos sete jogos e que está no 6.º lugar do Campeonato a oito pontos da liderança — algo que não retirava as cautelas a Sérgio Conceição.

Ficha de jogo

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Antuérpia-FC Porto, 1-4

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Bosuilstadion, em Antuérpia (Bélgica)

Árbitro: Benoît Bastien (França)

Antuérpia: Jean Butez, Jelle Bataille, Toby Alderweireld, Soumaïla Coulibaly, Ritchie De Laet (Owen Wijndal, 60′), Alhassan Yusuf, Arthur Vermeeren, Jurgen Ekkelenkamp, Arbnor Muja (Anthony Valencia, 78′), Vincent Janssen (Chidera Ejuke, 78′), Michel-Ange Balikwisha (George Ilenikhena, 78′)

Suplentes não utilizados: Ortwin De Wolf, Senne Lammens, Björn Engels, Gyrano Kerk, Zeno Van Den Bosch, Kobe Corbanie

Treinador: Mark van Bommel

FC Porto: Diogo Costa, João Mário, Pepe, David Carmo, Wendell (Evanilson, 44′), Pepê (Francisco Conceição, 83′), Alan Varela (Nico González, 83′), Stephen Eustáquio (Grujic, 83′), André Franco (Jorge Sánchez, 66′), Galeno, Taremi

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Fábio Cardoso, Danny Loader, Fran Navarro, Romário Baró, Toni Martínez, Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Alhassan Yusuf (37′), Evanilson (46′, 69′ e 84′), Stephen Eustáquio (54′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Arthur Vermeeren (14′), a David Carmo (45+2′), a Pepê (61′)

“Temos de ser sólidos na forma de abordar a partida, humildes e não ir nessa onda que passaram em Portugal de que somos favoritos, de que já temos a qualificação praticamente conseguida. É tudo menos isso. Vamos ter dificuldades. Temos de ser um FC Porto à nossa imagem para conseguir um resultado positivo. O Antuérpia integra um Campeonato positivo, imprevisível, e não podemos esquecer que a seleção da Bélgica esteve há pouco tempo no topo do futebol mundial. Espero um adversário à imagem disso, que vai querer competir”, atirou o treinador dos dragões, que foi muito elogiado por Mark van Bommel, técnico dos belgas, na respetiva antevisão.

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Neste contexto e ainda sem os lesionados Marcano, Zaidu, Iván Jaime e Gabriel Veron, Sérgio Conceição contava com os regressos de Pepe, Wendell e Stephen Eustáquio e lançava os três no onze inicial, apostando ainda em Galeno e André Franco no apoio a Taremi e mantendo a titularidade de Alan Varela. No Antuérpia, praticamente na máxima força, destacavam-se os experientes Toby Alderweireld e Vincent Janssen e o jovem Arthur Vermeeren, de apenas 18 anos, uma das grandes promessas do futebol belga.

O jogo começou algo amarrado, com as duas equipas a procurarem estudar as movimentações do adversário e sem que ninguém arriscasse pensamentos muito disruptivos. O FC Porto acabou por ter a primeira aproximação à baliza oposta, com Eustáquio a rematar enrolado e para as mãos de Jean Butez já na grande área (7′), mas o lance do internacional canadiano foi um autêntico oásis no deserto de futebol ofensivo que reinou nos 20 minutos iniciais.

Nenhuma das equipas tinha capacidade para criar oportunidades, com o jogo a ser muito discutido na zona do meio-campo e a manter-se demasiado cerebral. O FC Porto teve cinco minutos de maior ascendente em que poderia ter inaugurado o marcador, com Taremi a rematar contra Yusuf na sequência de uma assistência de Galeno (21′) e o próprio Galeno a atirar ao lado pouco depois (23′), mas a verdade é que o Antuérpia revelava alguma superioridade na hora de ganhar duelos e recuperar bolas em zonas adiantadas do terreno.

E foi precisamente dessa forma que conseguiram chegar ao golo. Já depois de Muja ter tido a primeira situação de perigo dos belgas, com um pontapé de fora de área que passou pouco por cima da baliza dos dragões (35′), Alan Varela falhou um passe em zona proibida e ofereceu uma oportunidade ao adversário. Janssen liderou o lance de insistência, rematando contra um defesa na área e permitindo que a bola sobrasse para Yusuf, que completamente sozinho e de primeira atirou para bater Diogo Costa (37′).

Ainda antes do intervalo e claramente ressentido da lesão que o afastava da competição há quase um mês, Wendell teve de ser substituído e Sérgio Conceição optou desde logo por lançar Evanilson, voltando a adaptar André Franco à esquerda da defesa e encostando Pepê ao corredor direito. No fim da primeira parte, o FC Porto estava a perder com o Antuérpia e precisava de fazer muito mais para dar a volta ao resultado e sair da Bélgica com o tal “triunfo claro”.

Mark van Bommel não mexeu ao intervalo e o FC Porto demonstrou desde logo que não pretendia prolongar a desvantagem, carimbando o empate logo nos primeiros instantes da segunda parte: Taremi recuperou a bola em zona adiantada, fez um túnel delicioso a Alderweireld e colocou em Galeno, que já na grande área atirou rasteiro e beneficiou de um desvio em Coulibaly para bater Butez (46′).

Os dragões regressaram do balneário com uma atitude completamente diferente e a reviravolta ficou carimbada ainda dentro dos primeiros 10 minutos do segundo tempo. João Mário recebeu de Taremi na direita, assinou um bom lance individual ao trocar as voltas a um adversário e colocou na área, onde Eustáquio segurou e atirou cruzado para marcar (54′). O Antuérpia não tinha grande capacidade para responder, até porque o FC Porto apresentava uma pressão alta e eficaz que não tinha surgido na primeira parte, e Van Bommel decidiu trocar De Laet por Wijndal.

Alderweireld protagonizou o lance mais perigoso dos belgas no segundo tempo, ao cabecear à trave na sequência de um canto (63′), e Sérgio Conceição reagiu ao trocar o adaptado André Franco por Jorge Sánchez, passando João Mário para o lado esquerdo da defesa. E o lateral português, tal como tinha acontecido na direita, voltou a ser crucial: desequilibrou, cruzou para a área e Pepê assistiu Evanilson de primeira, com o avançado brasileiro a atirar para bisar e aumentar a vantagem do FC Porto (69′).

Mark van Bommel fez uma tripla substituição já no último quarto de hora, mas o herói do jogo estava definido. Já dentro dos derradeiros 10 minutos, na sequência de mais uma recuperação de bola de Taremi, Evanilson aproveitou uma saída de Butez e assinou um chapéu perfeito para carimbar o hat-trick (83′). No fim, e apesar de ter ido a perder para o intervalo, o FC Porto goleou o Antuérpia e deixou o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões bem encaminhado — e tudo graças a Evanilson, o surfista que Sérgio Conceição lançou para controlar uma onda complicada em dia de mar agitado.